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Inspiração

O que é real?

O que é real? 150 150 Kaka

O que chamamos de realidade não é igual a todo tempo e em todas as  culturas. “Realidade” não é algo absoluto que os seres humanos podem ter acesso final. É relativa no sentido mais literal da palavra, então, é inacessível ao ser humano. Assim que percebemos algo ou tentamos entender, deixa de ser real e se torna o real em relação ao eu.

O filósofo alemão Martin Heidegger disse isso.

E ele não foi o único. Freud diz que entre o sujeito e o mundo existirá o inconsciente, que limita o entendimento do mesmo. Marx diria que entre sujeito e mundo temos a ideologia, que faz o mesmo papel.

Kant diz que não conseguimos perceber o mundo, apenas o fenômeno. Ele define como sujeito transcendental, um fundamento receptivo que nos é dado, e é dele que tiramos sentido dos fenômenos. Isso é, como percebemos o real.

Existe então um hiato entre o mundo e o ser humano, uma distância,  que é preenchida por algo, você pode escolher sua palavra. Isso é importante de entender, porque gastamos muita energia tentando prever, controlar e guiar nosso futuro de acordo com o pensamento lógico.

Hume diz que a razão é a escrava das paixões.

Acredito que por esse motivo aquele filme ou livro maravilhoso que tanto  amamos nunca será tão reconhecido ou validado por amigos, companheiros ou quem quer que seja. Claro, eles não leram o mesmo livro que eu. Cada palavra marca uma memória, um trauma, uma imaginação diferente. E é por isso que somos tão únicos, divergimos e criamos essa pluralidade humana, tão rica.

Mas a humildade que realizar isso traz, de que seu ponto de vista é seu e não impor sua realidade ao outro, pode ser ligada diretamente à  filosofia yogui.

Um dia desses estava caminhando até a praia e vi uma menina com a mãe. Ela estava manipulando uma borboleta com a asa quebrada, explicando para a mãe que elas tinham que colocar na sombra para aliviar o sofrimento. Isso foi extremamente tocante para mim, é como se tivesse visto uma dose pura do que é a humanidade no seu melhor, ao vivo e a cores.

Sinto que praticamos yoga não para abdicar da realidade da cidade, trabalho e deveres que temos que cumprir diariamente, mas sim para navegar nisso da melhor forma.

Talvez sentar uma tarde no parque, fazer aula de pintura, ou ir num karaokê tenham benefícios inesperados na nossa vida. Somos movidos por amor e medo, mas muitas vezes o medo nos tira um pouco da criatividade e da chama que tínhamos quando éramos criança.

Convido você a subir nas mesas, deixar a criança derramar o suco, se permitir sentir com vergonha. Coloque uma meia diferente em cada pé, nem que seja para ir no mercado, deixe que olhem, exercite o diferente. Nunca se sabe as portas que isso pode abrir.

“Se cada pergunta que te fazem durante a vida você busca responder a coisa correta, sua vida é um permanente teste.” – Kanye West

Artigo por Murilo Gusmão.
@mgusmaop

Produtividade Consciente

Produtividade Consciente 150 150 Kaka

Por Milena Oliveira

Vivemos em uma era onde o nosso valor é mensurado com base na nossa capacidade produtiva. Compramos a ideia de que para ser bem sucedida precisamos fazer MAIS. E mais rápido, com mais qualidade, mais agilidade e sem demonstrar grande desgaste.

Existe uma constante sensação de não estar dando conta de todas as tarefas, atividades e funções que aceitamos incorporar em nossas vidas, ao mesmo tempo que não queremos abrir mão de nada, pois abrir mão significa ser MENOS.

Nesse blog iremos abrir espaço para uma nova forma de olhar a produtividade: COM CONSCIÊNCIA.
Você será capaz de se sentir mais produtivo do que se sente hoje, sem deixar de equilibrar e respeitar as adversidades da vida, o seu estado físico e mental e qualquer outra necessidade pessoal.

Porque a gente se sente tão sobrecarregado?

Antes de mergulharmos no que é produtividade consciente, vamos primeiro entender a diferença entre estar ocupado e produtivo e por que ainda não nos sentimos com plenitude mesmo depois de um dia completando tarefas.

Ninguém se sente produtiva, relaxada, descansada e mentalmente aliviada ao mesmo tempo. Pensamos que somos produtivas ou somos pessoas com poucos afazeres, tranquilas, relaxadas. E isto não é correto. As duas situações podem coexistir na mesma pessoa. Podemos e devemos ser super produtivas, como também, ter momentos de descanso e lazer em nossas vidas. Ser ocupada não significa ser produtiva.

Antigamente a mulher ficava com as tarefas de casa, enquanto o homem saía para trabalhar. A estrutura do mercado de trabalho foi criada com base nos homens e não pensado para nós, mulheres. Acontece que nos dias atuais, trabalhamos fora e ainda temos as tarefas de casa para realizarmos. Portanto, a estrutura atual nos deixa sem equilíbrio.

O que é plenitude?

Plenitude: a capacidade de equilibrar, integrar, e unir todas as partes divididas e fragmentadas de alguém. Único estado no qual podemos acessar todo o nosso poder. Portanto, sem plenitude, nos sentimos divididos e quebrados.

O processo de tentarmos ser mais produtivas tentando nos encaixar no molde que foi projetado para o homem, nos fragmentou.

Permitimos ser fragmentadas para entrar no mercado de trabalho, na tentativa de ser a mulher perfeita e que consegue dar conta de tudo, por em algum momento acreditamos que era assim que tínhamos que ser, ou por pensar que para encontrar o nosso próprio valor teria que ser através de conquistas, para pertencer ao grupo de mulheres poderosas.

Não podemos buscar o sucesso nos outros. O que é sucesso para o outro, não quer dizer que será para nós. Temos que olhar para dentro e ver o que é realmente sucesso para nós mesmas. Paramos de nos comparar com os outros quando temos autoestima.

Este blog propõe um novo olhar sobre produtividade. Um olhar mais consciente. Que possamos sair para caçar mas também ter o cuidado pela caverna. Equilíbrio entre os dois fatores.

Como podemos olhar para qual é a produtividade e realização de uma perspectiva mais consciente?

Podemos começar entendendo melhor as diferenças entre as qualidades masculinas e femininas para que possamos entender melhor como encontrar o equilíbrio. Lembre-se que isso não significa as diferenças entre homens e mulheres.

Qual é o propósito de entender isso? Para ter mais consciência sobre quais escolhas a gente faz. Simplesmente fazer muitas coisas não significa necessariamente que estamos sendo produtivos. Quando se trata de encontrar satisfação, o mais importante é a qualidade com que as fazemos. Fazer as coisas conscientemente, mesmo que seja simples como lavar a louça, tem muito mais probabilidade de nos trazer uma sensação de realização no final do dia do que terminar inconscientemente toda uma lista de tarefas. Entender melhor como equilibrar seu masculino e feminino interior é vital para aumentar a consciência do que buscar o sucesso superficial em um mercado dominado pelo masculino.

O que é proatividade?

No contexto da sociedade contemporânea, a produtividade é medida pelo quanto se pode fazer em um determinado período de tempo. Ele ignora a qualidade ou o impacto geral que causa, concentrando-se inteiramente na produção econômica. Ignora reservar tempo para a família, sua saúde mental e muitas outras considerações importantes necessárias para encontrar a verdadeira satisfação.

O que é produtividade consciente?

A produtividade consciente é uma abordagem mais holística para ser produtivo. Em vez de simplesmente tentar o máximo com o mínimo de recursos, define a produtividade em termos do que traz a verdadeira satisfação com base no equilíbrio. Isso significa que você dá um passo para trás e considera o que está fazendo e por quê, em vez de apenas passar automaticamente por uma lista de tarefas todos os dias.

Em vez de deixar a sociedade definir os termos, você investiga por si mesmo o que lhe traz felicidade e contentamento. A partir daí, você constrói seu próprio modelo para o que significa ser produtivo.

Como colocar em prática?

  1. Auto-observação – Antes de começar uma tarefa ou atividade certifique-se de que sua alma está no seu corpo.
  2. Traga ordem – Ordem e organização não caem do céu. O que cai do céu e caos. Precisamos equilibrar esse jogo com ordem ATIVA.
  3. Uma coisa de cada vez – Vá com calma, não valorize o comportamento multitarefa e imponha limites.
  4. Se apaixone pelas atividades essenciais – Por que simplesmente suportamos as atividades essenciais quando podemos desfrutar delas?
  5. Crie rituais de transição – Você tem várias funções. Crie espaço e possibilidades de transição entre elas, assim como Clark Kent fazia.
  6. Produza autocompaixão – De um jeito cultivar a autocompaixão. Pegue leve com si mesma, saiba quando se puxar e seja expert em saber soltar.

 

 

“O autoconhecimento liberta!”

Esse texto de Milena Oliveira faz parte do programa CONTEMPORÂNEA, em parceria com o Portal Ellaa. Maiores informações, acesse a página do programa.

Ser em Movimento

Ser em Movimento 1500 867 Kaka

Existe uma vibração sutil em todos os seres, sejam eles do Reino Animal, Vegetal ou Mineral. Através dos diferentes elementos da natureza, podemos preservar o espírito de cada um deles e conectá-los através de um canal não racional. 

Desde a antiguidade, cristais e pedras tiveram um papel de destaque em todas as culturas que deixaram para nós um legado de cura e ensinamentos para o bem estar. No Reino Mineral nós encontramos o início de todos os processos criativos da natureza. Sua dimensão física dinâmica e em constante evolução é o fundamento para uma estrutura estável e confiável. Através da arte da geometria sagrada, a formação mineral de pedras e cristais se alinha com o nosso corpo físico, sendo uma poderosa ferramenta para fortalecimento de nossas raízes. Bases sólidas são fundamentais para atingirmos nosso mais elevado potencial físico e espiritual.

Seguindo este espírito observador, nós da GonikaLife também notamos o belo e poderoso poder de cura dos óleos essenciais terapêuticos 100% puros. O sentido do olfato transcende a barreira do corpo, atuando diretamente através do sistema límbico, acessando a memória, nossas mais profundas verdades o propósito da Alma. O perfume é máxima expressão do olfato, a oitava superior da escala musical que nos afina com a sinfonia Universal, e os óleos essenciais são a mais pura e elevada vibração do Reino Vegetal. Carregam oxigênio, antioxidante e frequências harmônicas que penetram na membrana celular e ativam o poder de auto cura de nossos corpos. De forma similar, a frequência energética dentro de cada pedra provê um magnetismo que, em contato com o nosso, irá gerar um a vibração da mais alta frequência.

Uma conexão profunda entre a Mãe Terra e o nosso corpo físico ajuda a nos sentirmos seguros em nossos próprios corpos e neste planeta.  Explorar de uma forma integrada as conexões com os diferentes Reinos é razão pela qual decidimos juntar os óleos essenciais com o ancestral e místico poder das pedras.

Para maiores informações sobre esse evento que une o poder das pedras, aromaterapia e Yoga em Florianópolis, acesse esse link.

O Despertar de um Sonho

O Despertar de um Sonho 870 580 Kaka

Sentado na terra do sol nascente, cedo pela manhã,
Eu vivia os meus sonhos, eles iam e vinham,
Ainda assim, eu continuo buscando, quando irei encontrar?
As estrelas se vão no céu ao amanhecer,
Eu me sinto uma bolha flutuando num rio,
Meus sonhos tiveram que morrer para que eu pudesse viver,
E agora eu espero acordar deste sonho.

Este verso é parte de uma música que fiz há uns anos atrás e se trata de uma questão que por vezes incomoda muitos aspirantes de Yoga ocidentais que entram no caminho espiritual.

Em nossa cultura ocidental, somos ensinados a ir em busca dos sonhos e seguir nossos corações. Entretanto, nas filosofias orientais, como o Budismo e Hinduísmo, aprendemos que a vida que levamos é um sonho, que os personagens que representamos não são reais e que o propósito é acordar do sonho do ego e despertar para a verdadeira realidade.

Durante muitos anos vivi confuso com esses pontos de vista aparentemente opostos até que me deparei com um palestra proferida pelo professor Jack Kornfield, um Budista americano, cujo tema era encontrar tanto o “vazio da nossa existência” quanto “nosso propósito na vida”.

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O “vazio da nossa existência” se refere ao ensinamento eterno do Oriente sobre o ego, que diz que a identificação com os pensamentos “eu e a minha vida” não é uma coisa permanente, é efémera e em constante mudança. É dito que sofremos porque não aceitamos que tudo no mundo é impermanente e tentamos nos apegar às coisas.

Por outro lado, não podemos negar que parte da nossa vida está conectada com o senso do “Eu” que a vive. Por acaso podemos negar essa sensação de Eu Sou?

Então, de um ponto de vista pragmático, nós temos algo para viver nesse tempo determinado, que é “nosso propósito na vida”. E a questão que desperta naqueles que buscam o caminho espiritual é: como posso viver minha vida da melhor maneira possível e ainda me manter consciente da natureza impermanente de todas as coisas? É exatamente neste ponto que a prática de Yoga entra em jogo.

Nos Yoga Sutras de Patanjali, ele afirma que a melhor maneira de alcançar a liberdade do sofrimento é por Isvara Pranidhana, o que significa devoção a Deus, ou entrega ao Divino, Poder Supremo, Energia Primordial ou Criador.

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Quando colocamos fé e devoção em um Poder Superior, reconhecemos que o ego é muito limitado em sua capacidade de entender a vida. O ego tem sua função – não estamos tentando aniquila-lo, mas sim, o aperfeiçoar e polir para que sirva de aliado ao invés de nos fazer sentir separado e isolado do resto do mundo.

Quando começamos a sentir como se estivéssemos sendo movidos por um Poder Superior e nos conectamos com esse lugar dentro de nossos corações, podemos confiar que nossas ações não estão sendo alimentadas pelo ego, mas sim, interligadas com a própria natureza da vida.

Portanto, a resposta para a pergunta sobre como acordar desse sonho e ao mesmo tempo viver nossos sonhos é: entregar-se, doar-se para essa energia Suprema de Criação. Quando nos conectamos com nossos profundos desejos do coração, entendemos que tudo faz parte dessa Divindade Suprema e não mais somos movidos pelo sonho do ego, um sonho de separação e isolamento, mas seguindo nossos corações – o que é a vontade do criador para nós.

Um dos livros mais influentes da minha vida foi “The Artists Way” de Julia Cameron onde ela aborda a questão de viver os sonhos em uma perspectiva não egóica. Ela explica que a vida é igual a criação. O Criador, Deus ou a Fonte está sempre criando e quando descobrimos que a criatividade que existe dentro de cada um de nós não é uma atuação do ego e sim a própria Energia Divina se expressando através de nós mesmos, então, profundamente entendemos que nossos sonhos e anseios vêm de uma fonte de energia Suprema e quando nos aproximamos dos nossos sonhos, nos aproximamos da nossa Divindade.

4Waking Up From a Dream, texto de Mark Robberds.
Publicado originalmente no www.centeredyoga.com.
Imagens de arquivo pessoal www.markrobberds.com

Mark Robberds é professor de Ashtanga Yoga Certificado pelo KPJAYI e estará em Florianópolis em Abril de 2017.

Uma semana completa de aulas e palestras, aproveite a oportunidade de aprofundar sua prática pelos olhos de um professor experiente, devoto e conhecedor do método.

Vagas limitadas!!

Maiores informações em breve.

Agradecimentos

Agradecimentos 1600 1066 Kaka

Há um ano publicávamos o primeiro dos muitos textos sobre Yoga e Ayurveda que hoje compõem este blog. Lançado no Solstício de Verão, falava sobre como o dia mais longo do ano marca um novo ciclo. Porque mesmo que normalmente não prestemos atenção a essas datas a verdade é que é quase inevitável não refletir sobre o ano que passou.

Então, aqui do blog, não somos diferentes e também usamos essa época para olhar para o ciclo que agora se fecha. Durante um ano, exploramos os cinco primeiro membros do Ashtanga Yoga de Patanjali. Nos questionamos sobre questões como importância do ritmo e da rotina.  Pensamos em como ultrapassar os obstáculos inevitáveis. Aprendemos junto com quem nos lê sobre como cuidar de nosso corpo e mente com o Ayurveda. Ainda tivemos o privilégio de ter duas entrevistas fantásticas com Kathy Cooper e Lu Andrade.

Mas nossa reflexão não se restringe ao blog, ou não estivesse este inevitavelmente conectado ao Shala, em Florianópolis. Ali tivemos um ano cheio, com workshops e professores incríveis. Vimos também muita gente iniciando, voltando e persistindo, criando esse fluxo dinâmico de pessoas, que respiram, se movimentam e transformam juntas, mesmo que nem sempre saibam o nome uma das outras.  Para além de várias novidades como as camisetas e regatas do Samatva Shop e a Juice Line, linha de sucos verdes prensados a frio, com que podemos presentear nosso corpo depois de nossa prática diária.

Revendo todo esse caminho, podemos dizer que tem sido uma linda viagem, cheia de descobertas, surpresas e tesouros desvendados. Como, aliás, sempre é a Vida, quando a ela nos abrimos. Assim, não nos resta mais que permitir que nosso coração se encha, entre muitos outros sentimentos, de Gratidão. Expressando então, da melhor forma que sabemos, ou seja, através de um texto, queremos aproveitar para agradecer:

A todos os que leram, comentaram, compartilharam ou dedicaram um pouco do seu tempo e atenção aos artigos aqui publicados. Tem sido um prazer ver esse número aumentar e pensar que estamos chegando a diferentes lugares e pessoas.

A todos os alunos do Shala, que compõem uma energia de devoção e transformação cada dia. A todos os que iniciaram, com um brilho nos olhos, cheios de entusiasmo para embarcarem numa das maiores viagens de sua vida. A todos os que continuaram ou voltaram, seguindo por mais um ano com a coragem necessária para quebrar seus padrões e condicionamentos. Sabemos que não é fácil continuar praticando quando a fase de paixão passa, a mente se rebela e os obstáculos surgem.

A todos os professores que nos abençoaram com seus ensinamentos, nos fazendo enxergar um pouco mais longe. A Manju Jois, por nos mostrar como desfrutar da prática, fazendo dela uma parte natural de nossas vidas. Á Kathy Cooper, por ser um exemplo de leveza e amor. Á Julia Jalbut, com sua presença forte e suave ao mesmo tempo. Ao Pierangelo e Constanza, que durante dois meses nos ensinaram com paciência, dedicação, sabedoria e bom humor.
A todos os praticantes de outros lugares do Brasil e até de outros países, que fizeram de cada workshop um momento especial de encontros e trocas.

Á Lu Andrade, pela incrível entrevista concedida, que trespassa coerência, devoção e disciplina em cada palavra.
A todos os mestres, que nos guiam nesse caminho eternamente, abençoando nossas práticas, muito para além do tapetinho.

A Sri K. Patthabi Jois, nosso Guruji, que tornou possível que cada um de nós chegue mais perto do seu Ser essencial cada dia, através dessa prática reveladora. Ainda que não mais no plano físico, temos a certeza que sua energia forte continua impulsionando cada um de nós a praticar, respirar, se abrir e transformar. Também a Sharath Jois, seu neto, por manter a tradição viva, inspirando milhares de praticantes cada ano.

E sempre, a Ishvara, ou o Universo. Não nos resta mais do que estar gratos por sua perfeição e ordem, ainda que ás vezes não correspondam à nossa visão limitada.

Agradecendo tudo o que passou, podemos por fim nos abrir para o que chega. Que em 2015 possamos seguir aprendendo, descobrindo, fluindo e expandindo, caminhando sempre em direção a uma vida mais plena.

Foto de Myrna González

Ashtanga Yoga Mantra

Ashtanga Yoga Mantra 1280 853 Kaka

Não importa se estamos num Shala cheio ou em casa sozinhos. Se nosso dia anterior foi agitado e ainda nos sentimos inquietos. Se nosso corpo reclama de desconforto. Se estamos num momento difícil de nossas vidas. Se nossa mente não para um minuto, enumerando as coisas lá fora em que precisamos pensar. Cada um de nós tem seu universo pessoal, com suas relações, preocupações e questões, não é fácil simplesmente pôr tudo isso de lado só porque vamos praticar. Mas no momento em que ficamos na frente de nosso tapetinho em Samastithi, mãos juntas em frente ao peito, olhos fechados, pés firmes no chão, coluna reta, polos feminino e masculino, lado lunar e lado solar unidos, em que sincronizamos nossa respiração e começamos o mantra inicial, algo de sagrado acontece. Á medida que o som nos vai preenchendo, os pensamentos e preocupações deixam de ter espaço para se manifestarem, nosso corpo vibra, nossa respiração se acalma e a mente se volta para dentro.

Ao início, as palavras parecem impossíveis de pronunciar e decorar, mas aos poucos cada uma delas vai se tornando algo tão nosso como uma música que escutámos toda nossa vida. O que os mantras têm de tão especial é que mesmo que não entendamos exatamente o que significam, sua vibração continua tendo efeito em nós. Mas o significado desta oração inicial é belo e lendo-o podemos entender porque é o começo perfeito para a prática.

Om
Vande Gurunam charanaravinde
Sandarshita svatmasukhavabodhe
Nishreyase jangalikayamane
Samsara halahala mohashantyai

Abahu Purushakaram
Shankhachakrsi dharinam
Sahasra sirasam svetam
Pranami patanjalimOm

Eu me curvo perante os pés de lótus dos Gurus
Que ensinam o conhecimento, despertando para a felicidade do Ser revelado
Que agem como o físico da selva
Removendo o veneno da existência condicionada.

Perante Patanjali
Com a forma de homem até aos ombros
Branco, com mil cabeças radiantes
Segurando uma espada, um disco e uma concha
Eu me prostro.

 

Blog 24 (5) (787x1186)Começamos com o Pranava Om, ou AUM, com que quase sempre iniciam e terminam os mantras e orações. Diz se que contém todos os sons do Universo porque se formos pronunciar um som com a boca aberta, naturalmente sairá A, fechando sairá o som de M. Para ligar os dois, precisamos fazer o U. A esses três sons são atribuídos diferentes significados: A é o mundo físico, o estado acordado, U o mundo dos pensamentos e o sonho, M o não consciente e o sono sem sonho. A cada um dos três também corresponde aquela que é a definição do Absoluto: Sat-Chit-Ananda (Ser, Consciência e Bem-Aventurança). Nos Yoga Sutras, Patanjali diz que Ishvara, que descreve como uma Consciência não afetada pelo Karma, se manifesta na palavra Om e que a repetição constante deste mantra e meditação no seu significado podem levar diretamente a Samadhi. Acrescenta ainda que traz a lucidez interior e destruição de todos os obstáculos. É incrível como algo aparentemente tão simples pode ter todo esse poder. Buscamos e vamos atrás de mais e mais conhecimento e isso é válido, mas muitas vezes o que encontramos são sinais de que o autoconhecimento se faz com pouco, cada dia, a cada momento. Como sempre, o Ego quer se apropriar de tanto quanto possível, priorizando a quantidade acima de tudo e desconsiderando muitas vezes as coisas mais básicas. Queremos ler e aprender vários mantras, estudar livros cada vez mais complexos, quando podemos simplesmente voltar ao Om e através dele ter acesso ao Absoluto. É como se de cada vez que entoamos este som sagrado, trazendo à nossa mente seu significado e permitindo que nos preencha, reconhecêssemos o Todo, expressássemos nossa vontade de sermos absorvidos e dissolvidos nele.

Em seguida, começa a primeira parte da oração, com uma saudação aos mestres, enunciando o gesto de prostração perante os pés destes. Iniciar nossa prática com este ato de humildade, é reconhecer nosso lugar nessa tradição milenar, deixando para trás o ego individualista que quer seguir apenas sua própria razão. O ritual de se ajoelhar e tocar os pés de outra pessoa pode parecer estranho para o mundo ocidental, em que somos ensinados a não nos curvar perante ninguém, a desconfiar de tudo e a nos afirmarmos por nossa individualidade. Mas que parte de nós deseja realmente ser reconhecido por sua originalidade, perspicácia ou talento? Quando, mesmo que seja mentalmente, nos colocamos de joelhos e tocamos os pés de todos os seres iluminados que permitiram que o Yoga esteja vivo e continue transformando não só nossas vidas, como a de milhões de pessoas, dobramos também nosso Ego e orgulho. Porque como sempre na vida, se achamos que não temos mais nada a aprender, que ninguém nos acrescenta nada ou que nenhum professor está á nossa altura, é sinal de que mais que nunca precisamos de alguém que nos guie, porque estamos indo na direção contrária àquela que uma vez nos propusemos.

Então, abandonemos nossa sede de supremacia e toquemos os pés dos gurus, aqueles que nos levam da escuridão á luz. Estes são pés de lótus e isso tem um significado especial. Estas flores são símbolos recorrentes na mitologia hindu e budista, pela sua incrível capacidade de permanecerem intactas e não serem contaminadas pelo exterior, florindo em plena beleza mesmo quando rodeadas de lodo. No verso 10 do capitulo cinco do Bhagavad Gita, Krishna diz: “Tal como a flor de lótus permanece intocada pela água, o Yogi que faz suas ações abandonando o apego e entregando-as, permanece intocado pela lei do Karma.” Quantas desculpas damos para não atingirmos nosso potencial? Porque o dia está ruim, porque o outro falou uma coisa desagradável, porque as coisas não foram como queríamos, porque não temos tempo. O verdadeiro sábio vive no mundo, mas não perde seu brilho e amor. Não se frustra quando o Universo não corresponde ás suas expectativas, porque sabe que tudo é como tem que ser. Continua agindo, mas entrega suas ações ás leis superiores, desapegando dos possíveis resultados. Descobrindo sua real essência, ele permanece intocado, puro. Tocar seus pés de lótus tem esse sentido mais profundo de nos prostramos perante a beleza dessa sabedoria, ao mesmo tempo em que permite plantar em nós à possibilidade de um dia alcançarmos essa pureza de intenções.

Blog 24 (3) (1280x851)Pelo seu exemplo, estes mestres nos ensinam o conhecimento e levam á felicidade do ser revelado. O que isso significa? Que felicidade é essa, que surge quando revelamos algo, ou seja, quando vemos algo que já lá estava? Somente os mestres têm o poder de nos guiar e dar o conhecimento que não vem em livros, o de nosso ser essencial. Por isso, depois é dito que são como físicos da selva que removem o veneno da ilusão do Samsara. Halahala foi o veneno que surgiu quando deuses e demônios decidiram agitar o oceano da existência para colher o néctar da imortalidade. Quando o liquido azul surgiu, Shiva o engoliu, prendendo-o na garganta, por isso recebe o nome de Nilakantha (garganta azul). Esse veneno representa tudo o que surge quando começamos a mexer na estrutura mental e física formada por tantos anos. Em busca do néctar da imortalidade, ou seja, da liberação, criamos muitas vezes uma revolução interior, da qual emerge esse veneno do apego ao mundo ilusório do ciclo de Samsara. Esse é o ciclo de reencarnações, mas também de oscilações permanentes entre sukha e dukha, prazer e dor. Ficamos presos a identificações com esses dois lados da mesma moeda, nos intoxicando continuamente, para não podermos ver para além disso. Se pudéssemos ser mais como Shiva, poderíamos aceitar essa ilusão sem a digerir ou torna-la parte de nós. Mas o caminho é longo e sozinhos não o sabemos fazer. Por isso, precisamos reconhecer a importância dos mestres, que nos ajudam a remover esse véu de ilusão, sem o qual podemos por fim visualizar nosso verdadeiro e mais profundo Ser.

A segunda parte dessa oração inicial faz parte de uma invocação a Patanjali, o sábio que escreveu os Yoga Sutras. É de novo um gesto mental de reverência, a um ser que nos permitiu acessar tanto conhecimento. Nela se fala que tem metade humana, metade serpente. De fato, se conta que Patanjali é uma encarnação do sábio Adivivesa, o rei das serpentes. Este veio á Terra quando Gonika, uma yogini de respeito, pedia um filho a quem pudesse passar toda sabedoria alcançada por anos. Não tendo nenhum artefato para seu ritual, simplesmente ofereceu um pouco da água do rio onde se banhava, ao Sol. Quando terminou de fazer sua prece, em suas mãos apareceu uma pequena serpente, que logo tomou forma humana. Por isso o nome de Pata (caído) Anjali (mãos em prece). Sua metade inferior, com três voltas e meia de corpo de serpente, remete para diversos simbolismos: os três Gunas (Sattva, Rajas e Tamas), e os três principais canais energéticos: Sushumna (central), Ida (esquerdo, lunar) e Pingala (direito, solar). No topo da cabeça, Patanjali tem mil serpentes, que simbolizam os mil caminhos de conhecimento por ele mostrados. Na oração se menciona ainda a concha, o disco e a espada. A concha, usada antigamente para alertar as povoações de catástrofes eminentes, serve para alertar o praticante de Yoga dos inevitáveis obstáculos encontrados no caminho espiritual. O disco é uma arma muito utilizada pelos deuses, como proteção contra as ações negativas. A espada representa o discernimento, que destrói a ignorância, o ego e o orgulho. De fato, se nos dedicarmos de coração aberto ao estudo dos Yoga Sutras, estes nos mostram o caminho, advertindo para obstáculos, nos protegendo de nossos próprios demônios e cortando com discernimento o espesso véu da ignorância.

Com cada palavra representando um mundo em si mesmo, com cada som vibrando de forma diferente, não é de estranhar que esta oração seja o começo ideal para a prática que se segue. Somos nós que cantamos, mas algo mais acontece, o som toma forma e nós somos tomados por ele. É como se de dentro nós viesse um chamado, que assinala que algo de importante está prestes a acontecer. Como se estivéssemos batendo a porta, pedindo para entrar, dispostos ao que vier. Porque a prática pode ser sempre a mesma, mas a verdade é que nunca sabemos o que nos espera. Então, com esta oração inicial, afirmamos e tornamos mais real nossa atitude de devoção e entrega, lembrando cada dia de nossa gratidão perante os mestres que nos guiam nessa volta a casa que é o caminho espiritual.

Texto de Olga Rodrigues
Imagens de Taeko

 

Entrevista com Lu Andrade

Entrevista com Lu Andrade 1600 1065 Kaka
Em outubro e novembro deste ano, enquanto vivia uma temporada em Mysore, Índia, tive o prazer de compartilhar e fortalecer a amizade com Lu Andrade, que além de ser muito especial é uma grande fonte de inspiração para todos nós como praticantes de Yoga. Lu é brasileira, atualmente vive e ensina em Frankfurt a maior parte do ano e também viaja a diversos lugares para retiros, workshops e intensivos.É uma das poucas mulheres certificadas do mundo e a única de toda a América Latina. Ao longo do tempo que estávamos juntas, Lu cedeu uma entrevista para o blog Ashtanga Yoga Floripa. Espero que suas palavras possam inspirar a todos vocês.
Ana Claudia

 

Como e quando começou seu caminho no Yoga? Como chegou ao Ashtanga?

Lu: Tudo começou quando era pequena e tinha o sonho de ser bailarina. Foi essa vontade que me levou a prestar vestibular para um curso que na época ainda não era reconhecido, mas que abrangia tudo o que me interessava, as artes do corpo. Apesar de já praticar um pouco de yoga, só fui conhecer o Ashtanga em princípios de 2000 na faculdade. Antes de realmente decidir minha prática diária, passei por Iyengar yoga e testei alguns outros métodos, nenhum foi capaz de me manter tão interessada por tanto tempo.

 

lu4Ao longo de todos esses anos, que transformações e mudanças foram mais evidentes e mais importantes?

Lu: A paz mental, a paciência e a vontade de ser um ser humano melhor a cada dia. Claro que com uma prática vigorosa o corpo muda, mas as mudanças mais significativas para mim foram as emocionais e mentais. Me sinto mais inteira, mais completa e mais em paz com a prática de asanas. Com o tempo passei também a trabalhar mais o lado espiritual e a vida ganhou novas dimensões. Minha prática é minha oração!

Que lição ou lições aprendidas com a prática você considera como mais valiosas?

Lu: Aceitação. Aceitar a si, aos demais e aceitar como as coisas se passam sem a urgência de mudar tudo. Aceitar os pensamentos, sentimentos e limites. Enfim, nos aceitar por completo. Isso é um trabalho para várias vidas, mas a cada dia a prática me aponta diferentes situações onde, antes de qualquer coisa, é preciso aceitar, confiar e depois entregar-se… e assim, a mágica acontece.

 

O que você diria para alguém que está iniciando sobre o método?

Lu: Que desfrute de cada momento dentro dessa jornada. O importante na vida é encontrar prazer naquilo que fazemos, não adianta praticar, ser vegetariano e meditar porque alguém disse que faz bem. É importante observar nossos padrões e fazer de nossos dias um laboratório, ser um pesquisador de si mesmo, observar quando estamos bem, quando temos pensamentos positivos, quando temos mais disposição para a prática e observar o oposto também, daí fica fácil optar por aquilo que nos traz bem estar, pois a mudança é de dentro para fora.  O caminho é longo mas, é divertido, basta desfrutar de cada passo, ter a curiosidade de aprender e deixar que cada coisa venha ao seu tempo. O mais importante é estender o tapetinho diariamente e ter paciência, a prática é a nossa melhor guia nessa jornada de auto conhecimento.

lu2Que conselho daria para quem está passando um momento em que é difícil praticar, seja por dores, cansaço, falta de tempo ou outras questões?

Lu: Que comece devagar. Se não tem uma hora agora, que seja quinze minutos diários de saudação ao sol e as três posturas finais, que tenha paciência para que aos poucos o espaço reservado para a prática seja novamente aberto. Que pratique hoje o possível, pois é a prática de hoje que ajuda a de amanha, quanto mais prorrogamos mais difícil de entrar no ritmo de novo. Pratique hoje o possível, cinco minutos de respiração, amanha uma saudação ao sol, depois um pouco mais e assim pouco a pouco construindo uma prática possível de se manter a longo prazo. Não adianta praticar um dia da semana por três horas, melhor um pouco todos os dias, assim não há pressão, assim a prática vira parte da rotina. Com as dores, é importante procurar um professor qualificado e trabalhar com ele passo a passo. Podemos usar a prática de yoga para nos curar físico, emocional e espiritualmente, ou, sem uma correta orientação, pode nos causar lesões e cansaço. Por isso é importante buscar um professor qualificado.Sharath sempre nos diz que uma faca pode servir para cortar frutas ou até para matar alguém, a faca é um instrumento, assim como a prática de asanas, dependendo de como a usamos obteremos diferentes resultados.

O que as palavras disciplina e dedicação significam para você, enquanto praticante de Yoga?

Lu: Disciplina é a nossa capacidade de escolher por aquilo que seja melhor a longo prazo, mesmo que agora não seja. Como por exemplo, levantar da cama bem cedo, com frio lá fora, para praticar. Esse ato demanda disciplina interna, sem ela haveria dias que não sairíamos da cama.Dedicação é realizar algo com amor. Não apenas levantar cedo mas, levantar feliz, encontrar o que nos move, que nos comove, que nos faz ser curiosos… e assim ser disciplinado é mais fácil.Para a prática de yoga, devoção, dedicação e determinação são muito importantes, com esses três a disciplina vem sem esforço maior. O amor por aquilo que fazemos se faz essencial para a evolução deste.

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Atualmente você é uma das poucas mulheres certificadas no mundo e a única de toda América latina, O que isso mudou na sua trajetória?

Lu: Há um encantamento natural do ser humano com títulos, o qual só nos garante a energia despendida para chegar até ele. Eu gostaria que trouxesse a iluminação (risos)… mas, trouxe mais responsabilidades e comprometimento. Senti como se houvesse “casado” com o yoga em todos os sentidos, minha vida é ainda mais voltada a aprender sobre essa ciência, aplicá-la no meu dia a dia e evoluir como ser humano.

Nelson Mandela uma vez disse: “After climbing a great hill, one finds that are many more hills to climb. I have taken a moment here to rest, to steal a view of the glorious vista that surrounds me, to look back on the distance I have come. But I can only rest for a moment, for with freedom comes responsibilities, and I dare not to linger, for my long walk has not yet ended.” *A certificação é uma montanha alta, mas existem outras muito maiores. Portanto, agradeço haver chegado até aqui, tomo conhecimento das responsabilidades que isso traz e sigo meu caminhar com mais dedicação e espero, mais humildade.

IMG_1529O que você pensa sobre a popularização do método nos últimos anos?

Lu: É algo que o professor Krishnamacharya pediu como retorno por aquilo que havia ensinado. Que a mensagem do yoga se espalhasse e que todos os seres pudessem receber os benefícios dessa prática. A cada ano fica mais difícil estudar em Mysore, a cada ano mais pessoas estão praticando. O que é muito bom, pessoas no caminho da transformação pessoal, mais seres humanos conscientes no mundo. Não importa a intenção que nos leva até o yoga, com uma prática sincera e dedicada nos transformamos profundamente.

Qual é sua relação com Sharath Jois e quão importante a presença dele é na sua jornada como praticante?

Lu: Sharath Jois é meu professor, uma pessoa de extrema importância para o meu sadhana, é seu esforço e dedicação que me inspiram a seguir esse caminho diariamente. Quem me traz conhecimento, me desafia, me traz consciência, me faz questionar, me faz ter vontade de ser uma pessoa melhor… É meu guru, aquele que trouxe a luz do conhecimento e me libertou da escuridão da ignorância, por quem sou eternamente grata.

 

Muito obrigada pela disponibilidade, palavras e amor e dedicação à prática.
Espero vê-la em breve!!

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* ”Depois de escalar uma grande montanha, você descobre que ainda existem muitas para ultrapassar. Aqui, tomei um momento para descansar, para admirar a vista gloriosa que me rodeia, para olhar para trás, desde à distância de onde vim. Mas, só posso descansar por um momento, pois, com a liberdade vem a responsabilidade, e não me atrevo a ficar, minha longa caminhada ainda não terminou.”

Praticar é Preciso

Praticar é Preciso 1600 1066 Kaka

Praticar é preciso.. Uma jornada de auto conhecimento.
Talvez ninguém saiba muito bem como começou essa jornada. Um comentário entusiasmado de um amigo, uma fotografia bonita de um asana, um conselho de um médico, uma dor insistente. Mas são tantas as informações que nos chegam cada dia, porque demos atenção logo a essas?  Que força foi essa que nos chamou?  A verdade é que esses foram apenas pretextos para iniciarmos a maior viagem que alguma vez poderíamos ter imaginado e que já esperava por nós: a única que se faz de fora para dentro, que não requer mais do que força de vontade e o compromisso de um sadhana. Essa prática que começou com algumas horas de asanas e acabou se estendendo pelo resto do dia, abrangendo todas as áreas da nossa vida. Vamos descobrindo ilhas paradisíacas dentro de nós mesmos, abrindo canais que nos levam ao outro lado do nosso mundo interior, cruzando fronteiras, que depois de passadas, vemos que eram imaginárias.

Por isso, como dizia Fernando Pessoa, “Navegar é preciso, viver não é preciso”. Se esperamos o tempo certo e o mar calmo para sair em nossa viagem, pode ser que fiquemos mais tempo em terra, do que nos aventurando pelos confins do nosso ser. Não podemos querer praticar somente quando temos disposição para isso, nossa mente está clara ou nosso corpo está leve e solto. Os maiores avanços a nível de caminho evolutivo se dão muitas vezes quando encontramos desafios. Nesses momentos de maior vulnerabilidade, precisamos trazer mais consciência e amor, seja para uma lesão, seja para uma emoção negativa que toma conta de nós ou seja pelo que for. Talvez essas condições inóspitas sejam lições necessárias. O mar é o que é e seria muita prepotência querermos ter controle sobre suas condições, nos frustrando quando se avizinha tempo ruim ou quando o vento sopra em direção contrária à que seria ideal para nós. No meio das dificuldades, não nos resta mais do que aprendermos a ser humildes, praticando a aceitação do que é como é e não como nossa visão limitada gostaria que fosse.  Por isso o método é preciso, no sentido em que é essa precisão que nos dá a estrutura para irmos mais longe, mesmo quando o vento não sopra a favor. A sabedoria inerente da sequência de asanas de cada série, a disciplina de praticar todos os dias, o foco constante em algo tão simples e básico como a respiração: essas são as bases que nos permitem ir passo a passo, dia por dia, nos observando, transformando e aceitando.

45Por isso, são tão importantes Bandhas, Dhristi e a respiração Ujjayi, nossos instrumentos de navegação, nossas bussolas e quadrantes, que devemos ter sempre á mão e que nos permitem ir pelo desconhecido com segurança.  Nosso corpo é nossa embarcação, que precisa estar limpa e forte para navegarmos. A mente nosso leme, que nos encaminha nas diferentes direções. Livros como os Yoga Sutras são mapas, dando pistas por onde devemos ir. E mestres como Guruji, nossas estrelas polares, brilhando sempre no céu e nos guiando, mesmo quando perdemos o norte na noite escura da alma.

Mas há algo que ás vezes parecemos nos esquecer e que é uma das coisas mais importantes. Para termos um rumo, temos que saber para onde ir. Podemos contemplar o oceano, aproveitar cada ilha, mas precisamos saber qual nosso destino.  Se dirigimos o barco para leste como podemos querer ir para norte? Se dirigimos nossas ações pensando no conforto dos padrões habituais ou em satisfazer o ego, como podemos chegar um dia a evoluir enquanto seres humanos? Se praticamos pensando no asana perfeito, forçando nosso corpo a chegar lá, seja como for, como podemos criar abertura e relaxamento? Se na nossa prática, mente e Prana são direcionados para os problemas do dia-a-dia, como podemos chegar a ter paz? É totalmente contraditório e seria absurdo, se não fosse tão comum.  Devemos ter clara nossa intenção, não esquecer dela, nem nas piores tormentas, nem na ilha mais paradisíaca. Porque para onde nos direcionamos, é para lá que vamos, mesmo que seja com a velocidade mais lenta do que desejaríamos. Sankalpa é o nome em sânscrito para essa intenção e precisamos defini-lo, tê-lo em mente, para podermos saber qual é nossa prioridade. Porque em qualquer ação que fazemos, até mesmo quando escolhemos não agir, existe uma intenção. Talvez pareça fútil, como ficar em forma, mas pode ter um sentido de base mais profundo quando nos questionamos sobre ela. Ficar em forma pode significar ter mais disposição, ser capaz de fazer mais coisas, se valorizar mais, estar em paz consigo mesmo. O próprio questionamento de nosso sankalpa já é uma prática em si mesmo, porque nos permite nos conhecermos melhor. Então, podemos pegar nesse sentido mais profundo e usá-lo como objetivo, deixando-o claro, para não nos perdermos pelo caminho.

Mas mesmo o navegador mais experiente, com o melhor dos barcos, os melhores instrumentos e destino certo, precisa lidar com os ventos que o desviam do caminho. Que ventos são esses? Poderíamos dizer que os klesas, as cinco aflições ou causas de sofrimento apontadas por Patanjali nos Yoga Sutras: Avidya (ignorância), Ragas (apego ao prazer), Dvesas (aversão ao sofrimento) e Abhinivesa (medo da morte).

09É dito que Avidya é a raiz de todo o sofrimento. Mas essa não é uma ignorância por falta de conhecimento intelectual ou racional. O ser mais simples pode ter Vidya, o conhecimento verdadeiro da sua essência mais profunda, assim como o acadêmico com mais graduações acumuladas pode viver na ignorância, Avidya, de quem é realmente. Porque esse é um conhecimento que não vem só do estudo, trabalho e lógica, mas também da capacidade de se entregar, sentir e amar. Ao longo da vida, tentamos construir nossa identidade e nesse processo vamos edificando uma estrutura ilusória de identidade que nos separa do Todo. Esse é o segundo klesa, Asmita, ou individualidade, e não admira que nos leve na direção contrária do nosso ser mais profundo. Da confusão de Avidya, surge essa tentativa de definição, que inevitavelmente causa uma separação do resto, dando espaço a emoções e ações egoísticas. Se eu vejo o outro como um outro eu, porque vou querer passar por cima da vontade dele, mentir, roubar, manipular? Porque as aspirações e bem estar do outro são menos importantes que as minhas? Avidya, essa ignorância da própria natureza, é desoladora. Responder á pergunta “quem sou Eu?” parece uma tarefa interminável e infinitamente trabalhosa, talvez até impossível. Não por acaso, essa parece ser a busca de base de artistas, filósofos, religiosos. E se a resposta for “eu não sou nada”? É mais fácil se apegar a algo, seja o que for, criar uma ideia de superioridade. Mas o que acontece quando estamos em cima e os outros em baixo é que o pico é solitário. Ninguém mais chegou lá, porque é um alto que nós mesmos criamos, a partir de uma visão que é só nossa. Como pode então esse vento da individualidade e separação nos levar ao centro de nós mesmos, onde reside a Unidade?

_mg_7487De Avidya surgem ainda os dois ventos de Ragas e Dvesas, apegos e aversões. Pois é, nós até sabemos que praticar é preciso. Mas o que fazer com esse apego a zona de conforto, aos prazeres? O que fazer com a aversão à disciplina, ao desconforto causado por certas posturas, a enfrentarmos nossos medos e bloqueios no tapetinho? Não são esses os ventos que nos levam facilmente para outro lugar qualquer que não seja o sadhana diário? Tal como a individualidade, nossos gostos e aversões fazem parte de nós e nada têm de errado, se não nos desviarem do caminho. O problema é quando se tornam tão fortes que perdemos o controle, nos embolamos nas suas ondas tumultuadas e agimos automaticamente, ás vezes até desconsiderando nossos valores. Damos por nós indo exatamente na direção contrária daquilo que tínhamos estipulado como nosso destino, quando tudo estava calmo e tínhamos alguma paz para decidir. Aí, Asmita, Ragas e Dvesas causam sofrimento.

Dando um exemplo simples, nos propomos a praticar todos os dias. Vem o vento do apego à preguiça, da aversão ao esforço. Logo, nossa mente nos convence que bem melhor que ir praticar e ter que lidar com todos aqueles bloqueios e padrões, é ficar em casa, descansando. E cedemos.  Ou estamos numa postura difícil, sabemos que a respiração deve ser nossa prioridade. Mas surge a tensão, o apego ao perfeccionismo, o ego reclamando a supremacia de Asmita. E entramos em modo automático. Contraímos, tensionamos, nos fechamos e bloqueamos o fluxo do Prana. Como pode mudar assim de repente algo que tínhamos tão claro? Para lidarmos com essas duas faces da mesma moeda, precisamos que nosso sadhana seja composto por duas forças, também complementares: Abhyasa e Vairagya. Prática e desapego. É aprender a avançar mas também a realmente deixar o que fica para trás. A agir mas também a permitir. Transformar mas também aceitar.É trabalhar com afinco, incorporando novas formas, novos hábitos á nossa vida, mas também abandonar aquilo que não nos serve mais. Se simplesmente vamos adicionando novidades, logo teremos uma bagagem maior do que podemos carregar. É se abrir ao novo, mas limpando primeiro o espaço para o receber.  É saber que estamos fazendo tudo o que poderíamos para chegar onde queremos, sendo coerentes com nosso sankalpa, mas desapegando do resultado, confiando que as leis do Universo são mais certas do que a nossa própria razão. E relaxar na noção de que, em ultima instância, realmente não temos controle sobre nada. Por que agir então, se não esperamos o resultado? Porque essa ação, mais que tudo, é guiada pelo Dharma e não pelo sucesso individual. Talvez seja nosso Dharma enquanto seres humanos ir de encontro à liberação. Se não fosse nosso ego demandando tanta atenção, se não fosse a mente criando tantas distrações, se pudéssemos apenas relaxar… Não iríamos naturalmente de encontro ao Todo , tal como o rio corre para o mar?

02O que nos leva ao quinto klesa, Abhinivesa, o medo da morte. O que é a morte? O fim da nossa individualidade e provavelmente, a representação máxima do desconhecido e do incontrolável. É o pulo final no abismo, é quanto mais nos agarramos à rocha que um dia inevitavelmente desabará, mais sofrimento criamos. Talvez a relutância em nos entregarmos ao Savasana seja um resquício desse medo, porque nessa aparente não-ação, a individualidade se dissolve. Quantas coisas, quantos avanços o medo bloqueia? O que temos tanto medo de perder? Porque nos precisamos agarrar desesperadamente ao conhecido, ao material? Por isso também o poeta diz que viver não é preciso. Porque no medo de perder a individualidade, de nos desfazermos de gostos e aversões que achávamos que nos definiam, de sairmos da falsa segurança de que somos esse corpo e essa mente, perdemos nosso rumo e às vezes paramos até nossa viagem, estagnando no pântano do medo. Quando conseguimos olhar de frente para esse medo, podemos por fim lidar com ele. Talvez continue lá, mas não nos controlará mais.

Então, não se trata de traçar viagens loucas, de desbravar para conquistar terreno ou se frustrar por não o conseguir. Definimos nosso destino, preparamos nossa embarcação, lemos os mapas, nos apropriamos com os melhores instrumentos, obervamos os ventos que nos podem desviar. Assim preparados, soltamos por fim as âncoras pesadas que nos prendem ao passado e empreendemos com amor e consciência aquela que é a viagem mais importante de nossas vidas. Navegar é preciso.

Texto de Olga Rodrigues

Fotos de Kike Krueger no Intensivo com Kathy Cooper, Setembro, 2014

A Mente e o Yoga

A Mente e o Yoga 150 150 Kaka
Muitos de nós chegamos à nossa primeira aula de Yoga pensando na imagem típica do Yogi sentado tranquilamente meditando, com um leve e plácido sorriso no rosto. A representação perfeita da definição de Yoga contida nos Yoga Sutras: citta vrtti nirodhah, uma mente sem flutuações.  Mas logo nos deparamos com outra realidade: aquele monte de gente se torcendo em posições estranhas do nosso lado, nosso corpo reclamando de desconforto, o professor que diz para respirarmos e a dificuldade em fazê-lo. Quando finalmente sentamos, descobrimos que esvaziar a mente parece impossível. Os problemas do trabalho, as coisas para fazer em casa, as contas, os filhos, o que fazer no almoço.  Os pensamentos voando, num fluxo tumultuado, sem controle. Então, a tal da mente sem flutuações parece apenas uma piada. Á medida que o Yoga toma conta de nossa vida, que nos dedicamos mais e mais, que a disciplina se torna natural e nosso corpo se vai desintoxicando, também nossa mente parece ficar mais leve e clara. Damos por nós reagindo melhor às situações do cotidiano, lidando mais facilmente com nossas emoções. Mas será que realmente o Yoga de cada dia nos ajuda a chegar a citta vrtti nirodhah? Como nossa prática influencia a mente?
Antes de qualquer coisa, precisamos entender esse conceito de mente, que pode ser dividido em três componentes: Manas, Ahamkara e Buddhi. Se pensarmos nos três como camadas, Manas seria a mais orgânica e mais próxima do corpo físico. Recebe as impressões trazidas pelos órgãos dos sentidos, analisando, classificando e identificando objetos. É Manas que coloca várias opções e dúvidas entre elas, sustentando o diálogo interno que parece não ter fim dentro das nossas cabeças. Isso em si não seria um problema, se conseguíssemos não nos identificar com esse fluxo de pensamentos. Aí entra Ahamkara, o Ego, a individualidade. É ele que inicia a identificação com os pensamentos sustentados por Manas, se apegando aquilo que causa prazer, classificando como o que gosto (raga) e rejeitando aquilo que causa sofrimento ou desconforto, classificando como aversão (dvesa). Isso é crucial para construirmos nossa personalidade única, que é afinal o conjunto de todos esses gostos e aversões, interesses e particularidades. A diversidade é importante e enriquecedora, afinal, é muitas vezes nos encontros com pessoas diferentes de nós mesmos que evoluímos e crescemos. Se fossemos desprovidos de Ego e individualidade, esse enriquecimento mútuo não seria possível. 
Para além disso, o grande paradoxo de Ahamkara é que, apesar de nos dar a falsa ilusão de que somos seres separados do resto, é o que nos faz ir em busca do conhecimento e da Unidade. Se o Ego não está presente ou é fraco demais, que razão temos para nos alimentar, para tomar água, para nos cuidarmos? É ele que diz “eu quero me sentir melhor”, “quero saber mais sobre esse tal de Yoga”, “isso vai me fazer bem” ou “isso vai me fazer mal”. O problema é que ele e Manas se apegam ao que já está estabelecido como prazeroso e confortável, rejeitando o desconhecido, segundo os samskaras adquiridos durante todas nossas vidas. Estes são impressões guardadas no nosso corpo mental, que nos condicionam a tomar sempre os mesmos caminhos, a agir automaticamente por padrões repetidos continuamente. Vejamos um exemplo simples: imaginemos que durante nossa infância criamos o samskara de aversão á couve e construímos a identificação de “eu sou uma pessoa que não gosta de couve”, não comendo nunca esse vegetal. Mas, em adultos, na nossa busca por uma alimentação mais natural, nos propomos a provar um prato com couve e descobrimos que afinal gostamos. Nesse momento, quebramos o padrão de rejeição da couve. Se apenas seguíssemos nosso condicionamento, ou seja, se apenas escutássemos Manas e Ahamkara, isso nunca aconteceria. 
O mesmo pode acontecer com nossa prática. O samskara da cama quente pode pesar mais ao inicio na hora de levantar. Manas se revolta imediatamente com a ideia de ter que sair da preguiça mental de não ter que focar em nada, Ahamkara traz as identificações com o prazer da cama, com o hábito adquirido durante anos de se levantar tarde.  Mas depois de algumas vezes fazendo o esforço de levantar, Manas descobre que afinal praticar não só traz tranquilidade como nos faz sentir melhor durante o resto do dia. Logo Ahamkara se identifica com isso e o samskara do beneficio da prática começa a pesar mais. Mas para conseguirmos chegar até aí, precisamos que Buddhi assuma o comando. Esta é a parte mais superior da mente e mais em contato com o divino, é o intelecto, a capacidade de discernimento, que, quando forte, nos leva a escolher pelo que é melhor para nós e para os outros. Se Manas é quem duvida entre a opção da cama quente ou ir praticar e Ahamkara se identifica com a preguiça ou a disciplina, Buddhi é quem opta por sair.
 Ou seja, em si, realmente Manas e Ahamkara, ragas e dvesas, assim como samskaras, não têm nada de errado e são necessários. Já que não conseguimos eliminar de uma vez por todas as identificações, podemos começar por nos identificarmos com coisas que eventualmente nos façam bem, para talvez um dia conseguirmos desapegar delas. Afinal, até para chegar a Samadhi é preciso que um dia esse desejo nasça em Manas e seja tornado nosso por Ahamkara. No fundo, estas duas partes da mente são como crianças que querem sempre ser distraídas e agradadas. Por isso, se torna tão importante uma prática diária, em que consigamos observar seus padrões e condicionamentos. Como podemos educar uma criança para quem olhamos realmente apenas uma vez por semana ou uma vez por mês? 
Quando acontece de sabermos que algo não é bom para nós (seja uma comida, um hábito ou mesmo uma relação) e mesmo assim Ahamkara e Manas, as duas crianças teimosas insistem e conseguem ir pelo mesmo caminho de sempre, “contra nossa vontade”, é sinal que Buddhi está fraco. Se pensarmos na mente como um lago, Buddhi é a superfície que reflete o céu, ou seja, o Absoluto. Por isso, Buddhi traz consigo a sabedoria do Universo e suas leis, ajudando-nos a agir de acordo com elas, ou seja, pelo Dharma. Mas isso nem sempre acontece, porque o lago está tão mexido que não pode refletir nada, cheio de flutuações criadas por Manas e Ahamkara. Conhecendo a mente e seus padrões, podemos começar a diminuir esses altos e baixos. 
Ao mesmo tempo, ao realizarmos práticas como Yamas, Niyamas, Asanas e Pranayamas, muitas vezes sem sabermos, estamos ainda limpando a água desse lago, tornando-a menos densa e turva, ao aumentar Sattva e diminuir Rajas e Tamas. Estes três forças da natureza, chamadas Gunas,  influenciam diretamente o estado da nossa mente.  
Tamas é a mais densa das três, traz consigo a inércia, a escuridão e a ignorância. Quando ela prevalece sobre a mente, fica obscura, embotada e pesada.  Como consequência, as ações são feitas na maior ignorância, sem entendimento da lei de causa-efeito, sem considerar o que é mais adequado ou correto, tendo muitas vezes um caráter auto destrutivo. Nesse estado, a mente está tão densa que precisa de estímulos muito fortes, como música agressiva e  filmes violentos, com ênfase em temas como morte e destruição. A pessoa fica apática, estagnada e apegada emocionalmente, não conseguindo cuidar de si mesma ou mudar o que está errado, ainda que se queixe muito. Todas as drogas, mesmo as estimulantes, aumentam Tamas, assim como o consumo de certos alimentos como: carne, peixe, comida processada ou comer em excesso.
Rajas é a energia da mudança e do movimento, que dá o impulso para sair de Tamas e um pouco mais leve que esta. Ainda assim, as ações são motivadas somente por razões egoísticas e por isso mesmo, quando esta energia prevalece, as pessoas têm muita determinação, mas são impacientes, agitadas e extremamente competitivas. Os alimentos considerados rajásicos são alho, cebola, pimenta, café, chá, comida muito salgada ou muito quente. No entanto, isso não quer dizer que tenhamos que evitar completamente esses alimentos, já que são eficientes para balançar Tamas.
Sattva é a energia harmonizante, que traz luz, energia e amor. Quando Sattva prevalece, tendemos naturalmente ao equilíbrio e a paz, expressando qualidades como generosidade, honestidade e gentileza. O sabor doce, frutas, vegetais, grãos, sementes, lácteos e mel, quando frescos e preparados com amor e consciência, aumentam essa energia em nós.  Todas as práticas, como Pranayama, Asana e mantras, quando feitos com a atitude adequada, ou seja, fundados na base sólida dos Yamas e Niyamas, aumentam Sattva. Assim, não é de estranhar que mesmo sem nos apercebermos ou termos plena consciência disso, ao praticarmos com consciência, honestidade e respeito por nós mesmos e demais, aumentamos essa força dentro de nós e nossa mente fica mais clara. 
Felizmente, tal como podemos cair no ciclo vicioso de Rajas e Tamas, também podemos ascender ao ciclo luminoso de Sattva. Assim, vamos fazendo cada dia nossa prática, diluindo frustrações e expectativas. E Sattva começa a preencher nossas mentes, que passam a brilhar em todo seu potencial, não só nos ajudando a lidar com nós mesmos, mas também com as várias questões da nossa vida. Quanto mais Sattva, mais Buddhi se manifesta e mais Manas e Ahamkara cumprem sua função, sem nos controlar. Isso descomplica nossa vida, torna nossas decisões mais fáceis de tomar e nossas ações melhores para nós e para os outros.  Afinal, toda a ideia de aumentarmos Sattva e controlarmos Manas e Ahamkara não serve apenas o propósito de melhorarmos nossa vida exclusivamente, mas também a forma como nos relacionamos com o mundo.
Mas talvez um dos efeitos mais fortes do Yoga no nosso bem-estar mental venha de nos ensinar a viver plenamente o momento presente.  Asanas, Pranayamas e meditações como Japa, nos obrigam a focar naquilo que estamos fazendo ou perdemos o fio da meada, ao mesmo tempo em que nos dão oportunidade de aprender a receber os pensamentos sem que nos apeguemos. Por isso, no Ashtanga vamos ganhando posturas conforme nos estabelecemos naquelas que já fazemos, o que não significa alcançar a sua perfeição, mas sim conseguir respirar naturalmente, deixando que a energia flua. Estas vão se tornando cada vez mais difíceis, não para nos podermos exibir perante os outros, mas para trazer nossa consciência para o nosso corpo, para a alteração da respiração e nossas reações perante a dificuldade. Isso automaticamente nos puxa para o momento presente. Cada Asana conta assim uma história de superação dos próprios limites e de ganho de conhecimento sobre nosso corpo e mente. Ao sermos, através de todas essas práticas, levados a nos concentrar naquilo que acontece no agora, entendemos até onde vai nosso controle sobre o mesmo. O equilíbrio entre transformar o que está ao nosso alcance transformar e aceitar o que não podemos mudar, nos dá a capacidade de entrega e devoção pelo que É. Talvez essa seja a maior lição que podemos aprender com o Yoga.
Nossa prática realmente pode nos ajudar a ter uma mente mais calma, resistente e equilibrada, talvez um dia chegando a citta vrtii nirodhah. É como se cada dia limpássemos aquele lago, retirando os samskaras que causam flutuações, redemoinhos e correntes, ao mesmo tempo removendo todas as impurezas, para que água cristalina possa refletir aquilo que sempre esteve lá, mas não conseguíamos ver. Assim, relaxando na consciência de que somos também parte desse Absoluto, abandonamos por fim o sentimento de separação e isolamento que gera medos, ansiedades e depressões.
Texto de Olga Rodrigues
Fotos de Taeko

Melhores Momentos

Melhores Momentos 150 150 Kaka
INTENSIVO COM MANJU JOIS

Florianópolis, Abril de 2014
Ashtanga Yoga Floripa
www.samatvayoga.com.br

Filmagem e vídeo Kike Krueger
Trilha Sonora Marcelo Téo