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Produtividade Consciente

Produtividade Consciente 150 150 Kaka

Por Milena Oliveira

Vivemos em uma era onde o nosso valor é mensurado com base na nossa capacidade produtiva. Compramos a ideia de que para ser bem sucedida precisamos fazer MAIS. E mais rápido, com mais qualidade, mais agilidade e sem demonstrar grande desgaste.

Existe uma constante sensação de não estar dando conta de todas as tarefas, atividades e funções que aceitamos incorporar em nossas vidas, ao mesmo tempo que não queremos abrir mão de nada, pois abrir mão significa ser MENOS.

Nesse blog iremos abrir espaço para uma nova forma de olhar a produtividade: COM CONSCIÊNCIA.
Você será capaz de se sentir mais produtivo do que se sente hoje, sem deixar de equilibrar e respeitar as adversidades da vida, o seu estado físico e mental e qualquer outra necessidade pessoal.

Porque a gente se sente tão sobrecarregado?

Antes de mergulharmos no que é produtividade consciente, vamos primeiro entender a diferença entre estar ocupado e produtivo e por que ainda não nos sentimos com plenitude mesmo depois de um dia completando tarefas.

Ninguém se sente produtiva, relaxada, descansada e mentalmente aliviada ao mesmo tempo. Pensamos que somos produtivas ou somos pessoas com poucos afazeres, tranquilas, relaxadas. E isto não é correto. As duas situações podem coexistir na mesma pessoa. Podemos e devemos ser super produtivas, como também, ter momentos de descanso e lazer em nossas vidas. Ser ocupada não significa ser produtiva.

Antigamente a mulher ficava com as tarefas de casa, enquanto o homem saía para trabalhar. A estrutura do mercado de trabalho foi criada com base nos homens e não pensado para nós, mulheres. Acontece que nos dias atuais, trabalhamos fora e ainda temos as tarefas de casa para realizarmos. Portanto, a estrutura atual nos deixa sem equilíbrio.

O que é plenitude?

Plenitude: a capacidade de equilibrar, integrar, e unir todas as partes divididas e fragmentadas de alguém. Único estado no qual podemos acessar todo o nosso poder. Portanto, sem plenitude, nos sentimos divididos e quebrados.

O processo de tentarmos ser mais produtivas tentando nos encaixar no molde que foi projetado para o homem, nos fragmentou.

Permitimos ser fragmentadas para entrar no mercado de trabalho, na tentativa de ser a mulher perfeita e que consegue dar conta de tudo, por em algum momento acreditamos que era assim que tínhamos que ser, ou por pensar que para encontrar o nosso próprio valor teria que ser através de conquistas, para pertencer ao grupo de mulheres poderosas.

Não podemos buscar o sucesso nos outros. O que é sucesso para o outro, não quer dizer que será para nós. Temos que olhar para dentro e ver o que é realmente sucesso para nós mesmas. Paramos de nos comparar com os outros quando temos autoestima.

Este blog propõe um novo olhar sobre produtividade. Um olhar mais consciente. Que possamos sair para caçar mas também ter o cuidado pela caverna. Equilíbrio entre os dois fatores.

Como podemos olhar para qual é a produtividade e realização de uma perspectiva mais consciente?

Podemos começar entendendo melhor as diferenças entre as qualidades masculinas e femininas para que possamos entender melhor como encontrar o equilíbrio. Lembre-se que isso não significa as diferenças entre homens e mulheres.

Qual é o propósito de entender isso? Para ter mais consciência sobre quais escolhas a gente faz. Simplesmente fazer muitas coisas não significa necessariamente que estamos sendo produtivos. Quando se trata de encontrar satisfação, o mais importante é a qualidade com que as fazemos. Fazer as coisas conscientemente, mesmo que seja simples como lavar a louça, tem muito mais probabilidade de nos trazer uma sensação de realização no final do dia do que terminar inconscientemente toda uma lista de tarefas. Entender melhor como equilibrar seu masculino e feminino interior é vital para aumentar a consciência do que buscar o sucesso superficial em um mercado dominado pelo masculino.

O que é proatividade?

No contexto da sociedade contemporânea, a produtividade é medida pelo quanto se pode fazer em um determinado período de tempo. Ele ignora a qualidade ou o impacto geral que causa, concentrando-se inteiramente na produção econômica. Ignora reservar tempo para a família, sua saúde mental e muitas outras considerações importantes necessárias para encontrar a verdadeira satisfação.

O que é produtividade consciente?

A produtividade consciente é uma abordagem mais holística para ser produtivo. Em vez de simplesmente tentar o máximo com o mínimo de recursos, define a produtividade em termos do que traz a verdadeira satisfação com base no equilíbrio. Isso significa que você dá um passo para trás e considera o que está fazendo e por quê, em vez de apenas passar automaticamente por uma lista de tarefas todos os dias.

Em vez de deixar a sociedade definir os termos, você investiga por si mesmo o que lhe traz felicidade e contentamento. A partir daí, você constrói seu próprio modelo para o que significa ser produtivo.

Como colocar em prática?

  1. Auto-observação – Antes de começar uma tarefa ou atividade certifique-se de que sua alma está no seu corpo.
  2. Traga ordem – Ordem e organização não caem do céu. O que cai do céu e caos. Precisamos equilibrar esse jogo com ordem ATIVA.
  3. Uma coisa de cada vez – Vá com calma, não valorize o comportamento multitarefa e imponha limites.
  4. Se apaixone pelas atividades essenciais – Por que simplesmente suportamos as atividades essenciais quando podemos desfrutar delas?
  5. Crie rituais de transição – Você tem várias funções. Crie espaço e possibilidades de transição entre elas, assim como Clark Kent fazia.
  6. Produza autocompaixão – De um jeito cultivar a autocompaixão. Pegue leve com si mesma, saiba quando se puxar e seja expert em saber soltar.

 

 

“O autoconhecimento liberta!”

Esse texto de Milena Oliveira faz parte do programa CONTEMPORÂNEA, em parceria com o Portal Ellaa. Maiores informações, acesse a página do programa.

Ciclos Femininos

Ciclos Femininos 150 150 Kaka

Melhorar a nossa saúde física e mental a partir do entendimento, do respeito e da conexão com os ciclos e as transformações femininas ao longo da vida.

Compreender a natureza cíclica do corpo feminino é um tópico extremamente importante porque a sociedade ocidental contemporânea se move de forma linear e espera que sejamos produtivas todos os dias do mês, desconsiderando completamente nosso fluxo natural.

No entanto, assim como na natureza, nossos sistemas biológicos internos têm ciclos. Para que possamos nos alinhar com nossa verdadeira natureza, é muito importante que entendamos e nos harmonizamos com esses ciclos para saber quando é melhor sermos mais abertos e criativos ou fechados e introspectivos.

Você conhece o seu ciclo?

 

Algumas questões importantes a considerar:

  • Como é seu fluxo? Quantos dias dura? Leve/intenso? Qual a cor?

  • Qual é a duração do seu ciclo?

  • O que muda no seu corpo e no seu estado emocional a cada fase?

  • Consegue reconhecer seu período fértil?

  • Quais ferramentas você costuma acessar para te ajudar nas diferentes fases?

Fases da Mulher:

  1. Puberdade: 8-13 anos. Telarca, Pubarca, Menarca.

  2. Fase Reprodutiva.

  3. Climatério: Até 4 anos antes da menopausa. Ciclos irregulares (mais curtos >> mais longos >> amenorréia).

  4. Menopausa: 45-55 anos (precisa estar há 1 ano sem menstruar).

 

O ciclo menstrual

 

Duração: 21-35 dias. Começa no primeiro dia da menstruação e termina um dia antes da próxima. Cerca de 400 ciclos ao longo do período fertil.

Fase Folicular: Maturação dos folículos

Um dos primeiros sinais que essa fase está começando é o crescimento do endométrio e muco (parecido com a clara de ovo). Durante essa fase é normal sentir mais libido, energia, vigor, lubrificação, disposição, alegria, confiança, criatividade, e bem estar. Temos uma energia de expansão. É bom para criar, marcar reuniões, iniciar projetos e ser mais produtiva de modo geral..

  • Período fértil: muco e aumento da temperatura corporal.

  • Ovulação: por volta do 14º dia do ciclo. Pode ser afetada por fatores externos, como o estado emocional, alimentação, sono, etc.

Fase Lútea

Ocorre o predomínio da progesterona. Endométrio proliferativo para nutrir e segurar um possível embrião. Essa fase tem uma energia Yin, de introspecção, mais calma, sono, gaba (ansiolítico, foco, concentração). Pode ocorrer: retenção líquida, constipação, mais fome e mais sono. Durante essa fase deveríamos respeitar a energia mais introspectiva.

  • 10 a 16 dias da ovulação sem fecundação: corpo lúteo se desintegra. Queda hormonal e ocorre a menstruação.

Síndrome Pré Menstrual:

  • Cólicas

  • Labilidade emocional

  • Alterações do humor, irritabilidade, ansiedade

  • Insônia e sonolência

  • Indisposição

  • Dificuldade de concentração

  • Dores de cabeça

  • Aumento do apetite/desejo por doces

  • Retenção líquida e dor nas mamas

Anote os seus sintomas!

O humor, as características do fluxo, dos fluidos vaginais, a libido, a disposição, o sono, a memória, os sonhos, as relações afetivas, e tudo mais que você quiser. Repare em tudo e veja como certos padrões se repetem.

Medidas práticas:

Durante esta fase é importante respeitar o seu momento. Em vez de fazer exercícios mais difíceis pode praticar meditação e respiração.

Hidratação também é muito importante. A água é a melhor opção, mas chás diuréticos como salsinha, cavalinha, funcho e chá verde também são bons.

Ter o sono adequado é de extrema importância, pois é no sono que iremos reparar e desintoxicar nosso corpo. Baixar as luzes 2 horas antes de dormir ajuda.

Evitar alimentos inflamatórios e picos de insulina: embutidos, processados, açúcar, cafeína, álcool, farinha, industrializados, excesso de sal. Optar por uma alimentação colorida e variada. Aumentar consumo de frutas, vegetais, cereais, e alimentos ricos em Triptofano (cacau, aveia, grão de bico, banana).

Outros nutrientes importantes:

  • Vitamina D: 10 a 15 minutos de sol por dia

  • Vitamina C: frutas cítricas

  • B12, B9, B6

  • Ferro

  • Magnésio: Banana Abacate, Aveia, Beterraba

  • Ômega 3: Chia, linhaça, salmão, sardinha

  • Ômega 6: Óleo de linhaca/primula/borragem

Ciclo das sementes segundo a medicina chinesa:

Primeira fase: Construção – Linhaça triturada e semente de abóbora

Segunda fase: Restauração – Semente de girassol + gergelim triturado/tahine

 

Climatério/Menopausa

 

O climatério é a fase de transição para a menopausa e começa normalmente aos 47 anos, mas já pode apresentar sintomas a partir dos 40 anos. Os ciclos menstruais se tornam irregulares, sendo mais curtos ou mais longos. Algumas mulheres já sentem os sintomas da menopausa no climatério, como as ondas de calor, instabilidade emocional, alterações na libido, pele e vagina mais seca, dor na relação sexual, infecções de urina de repetição. Essa fase pode durar em média  4 anos.

Após 1 ano sem menstruação, inicia-se a menopausa. Normalmente ocorre dos 45 aos 55 anos. Os principais sintomas estão relacionados à baixa do estrogênio:

  • Fogachos (ondas de calor)

  • Insônia/sonolência

  • Queda da libido

  • Alterações de humor, irritabilidade, depressão, ansiedade

  • Cansaço/fadiga

  • Genitourinários: secura vaginal, dispareunia, prurido vulvar/corrimentos, infecções de repetição, incontinência urinária, urgência miccional

  • Dores de cabeça

  • Queda da massa óssea, dores articulares

  • Acúmulo de gordura abdominal/perda da massa magra

  • Dislipidemia/Diabetes/Hipertensão

  • Disbiose intestinal

Medidas práticas/Suplementação:

  • Hidratação

  • Oleação

  • Sono adequado

  • Movimento (exercícios com carga para proteger a massa magra)

  • Manejo do estresse

  • Parar de fumar

  • Alimentação limpa, rica em cálcio e vitamina D

  • Fogachos: evitar café, frituras, açúcares e sal. Aumentar hidratação e frutas cítricas, chá de folhas de amora, soja.

  • Alimentos ricos em triptofano

  • Ashwagandha

  • Magnésio

  • Ômega 3 e 6 (óleo de prímula/borragem)

 

“O autoconhecimento liberta!”

Texto extraído da aula com a Dra Manuela Nascimento no programa de bem estar e saúde CONTEMPORÂNEA, disponível em nossa plataforma de aluno.
Maiores informações, acesse a página do programa.

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Meditação

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Sobre Meditação- baseado em ensinamentos de Jetsunma Tenzin Palmo.

No ocidente, talvez por nossas vidas serem tão estressantes e agitadas, apreciamos cada vez mais a possibilidade de trazer tranquilidade, relaxamento e clareza para o nosso cotidiano. Isso é possível quando aprendemos a lidar com a mente de uma maneira mais habilidosa, através da meditação.

Em algumas tradições no oriente, a mente é comparada com um macaco que pula de galho em galho, nossa mente pula de pensamento à pensamento, imagens e memórias. Como podemos domar esta mente tão agitada?

Na tradição Budista, várias técnicas são descritas, e algumas destas técnicas básicas são apresentadas no canal de meditação, entre outras:

O link para o canal é https://www.youtube.com/channel/UCS_TegNP2qKwNxVe-L6675A/videos

(recomendamos assistir o tutorial no canal de meditações antes de iniciar qualquer prática)

O primeiro nível é chamado de Shamatha, que significa aquietar a mente, e é uma técnica básica utilizada para domar e cultivar uma mente mais calma, atenta e focada. O segundo nível é chamado de Vipashyana, que significa insight/ compreensão, utilizada para investigar e examinar o conteúdo de nossa mente.

Com paciência e perseverança, aprendemos a treinar nossa mente para que se torne mais quieta e serena, trazendo assim mais bem-estar e tranquilidade para o nosso cotidiano.

As meditações do canal são gravadas durantes as práticas, para os alunos do Samatva Yoga, que acontecem todas as Segundas e Quartas às 20:00hrs na Lagoa da Conceição.

Dinacharya

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Estabelecer uma prática diária não é tarefa fácil. Praticar todos os dias, independentemente do que aconteça, não se deixando influenciar pelos inúmeros eventos que nos parecem levar noutro caminho, requer perseverança, disciplina e amor. Mas talvez um dos segredos para fazer isso sem sacrifício ou esforço seja criar uma rotina que torne praticar algo tão natural quanto escovar os dentes. Só que, para a maioria de nós, rotina é uma palavra aborrecida. Fazer sempre a mesma coisa todo o dia? Seguir sempre os mesmos passos? Nossa mente não gosta muito disso, afinal é muito mais divertido inovar, inventar, diversificar. Mas olhemos a Natureza. O dia segue a noite, é simples assim. A semente brota, a planta cresce, nasce uma flor da qual sai um fruto e nele existe uma semente que dará origem a uma nova planta. Independentemente de nossos anseios e dramas pessoais, a Vida flui em ciclos que se repetem eternamente, num ritmo sobre o qual não temos nenhum controle, mas que nos influencia. Quando entendemos como esses ciclos agem dentro de nós, podemos entrar nessa dança de uma forma mais harmoniosa. E com o tempo, vamos experienciando e observando por nós mesmos os benefícios de fluir nesse ritmo mais natural, do qual uma prática diária faz facilmente parte.

Entretanto, isso não acontece de um dia para o outro. Até porque normalmente, temos muitos hábitos que repetimos automaticamente, por anos e anos, mesmo que saibamos que não nos fazem bem. Nosso corpo e mente tendem a seguir o caminho que sempre trilhamos. Mais do que isso, a dificuldade de deixar certos hábitos se prende com a identificação de nosso ego com o que estes representam. Somos tão apegados, que até vícios de que aparentemente não gostamos nos custam a abandonar, como se ao fazê-lo deixássemos para trás uma parte de nós. E de fato, é isso que acontece, mas precisamos lembrar que o que estamos deixando para trás são fragmentos de um eu ilusório, já que nossa essência seguirá imutável. E que ao limpar o velho, abrimos o espaço para o novo. Como humanos que somos, o vazio em todo seu potencial nos assusta, então precisamos ver onde nos vamos agarrar antes de soltar o antigo. Então, muitas vezes antes de pensarmos em cortar hábitos antigos, podemos pensar em criar novos, que nos levem a gerar mais espaço e luz, que nos deem o discernimento para depois abandonar o que não nos serve mais.

Entrar numa rotina diária que seja uma sucessão de passos nessa direção pode nos ajudar a criar uma estrutura que não só nos fará sentir melhor como apoiará a prática de Ashtanga. No Ayurveda isso se chama Dinacharya. Esta segue uma lógica, é dividida por fases segundo o Dosha que predomina em cada uma. Por exemplo, das 6h ás 10h da manhã é a hora Kapha, que traz consigo as qualidades deste Dosha, que é pesado, lento, frio, suave e pegajoso. Quando aumentamos esses atributos, dormindo, comendo alimentos frios e doces, como iogurte e pão, o que acontece é que os reforçamos, levando ao seu agravo e gerando desequilíbrios como sensação de peso, produção de muco ou náuseas. A ideia de seguir o Dinacharya é exatamente equilibrar a tendência natural de cada fase do dia, para que nenhum Dosha se agrave.

O Ayurveda diz que devemos acordar com o nascer do sol, equilibrando a tendência Kapha dessa hora. A primeira coisa a fazer quando despertamos é agradecer. Parece simples, mas quantos dias começamos pensando no que temos que fazer, nos problemas do dia anterior ou resistindo a acordar? Estamos vivos e não há nada melhor que isso. Um dia novo começa e com ele se acercam milhões de possibilidades de encontros, experiências, vivências e aprendizados que não podemos imaginar, por muito previsível que nos pareça o quotidiano.

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Quando nos levantamos, começamos a apoiar nosso corpo nas tarefas de eliminação que ele levou durante a noite, enquanto nossa mente e sentidos descansavam. A primeira coisa que devemos fazer é tomar um copo de água morna com limão. Isso ajuda a hidratar nosso corpo, a eliminar toxinas e a acordar o Agni, o fogo digestivo, adormecido. Para pessoas de constituição Vata, pode ser adicionado um pouco de sal para facilitar a hidratação, para as de Kapha uma colher de chá de mel, por sua propriedade expectorante. Já para pessoas Pitta, o sabor ácido deve ser usado com cautela, pelo que não se deve passar de 10 gotas de limão ou em caso de problemas como hiperacidez, usar só água morna.

Depois devemos fazer nossas eliminações. Isso é essencial para começarmos o dia renovados, partindo do zero. Se iniciarmos nosso dia com o corpo trabalhando ainda para processar os alimentos do dia anterior, teremos naturalmente menos energia para o dia que segue. Isso facilita muito nossa prática também. Tendo os órgãos internos vazios, as posturas podem surtir o efeito desejado, já que muitas são verdadeiras massagens dos órgãos internos. Por isso também não é aconselhado comer nem tomar grandes quantidades de liquido antes de praticar. Para as pessoas que têm dificuldade de evacuar espontaneamente todas as manhãs, é aconselhado tomar um copo de leite morno com ghee antes de dormir.

Para deixarmos para trás tudo o que pertence ao dia anterior, continuamos nossa rotina ao escovar os dentes, de preferência com um creme dental que tenha um sabor amargo ou adstringente. O Ayurveda recomenda ainda raspar a língua com um raspador próprio para isso e aplicação de cinco gotas de óleo de gergelim em cada narina. Antes do banho, pode ser feita uma Abhyanga, uma massagem com óleo de gergelim para Vata e Kapha e óleo de coco para Pitta. Tomar banho logo de manhã purifica nosso corpo e mente, nos preparando também para a prática. Não por acaso Saucha, limpeza, é um dos Niyamas.

A prática de Ashtanga se inclui perfeitamente na lógica do Dinacharya, já que esta é a hora ideal tanto para fazer exercício como para meditar. Movimentar e esquentar o corpo equilibra a tendência Kapha. Ao mesmo tempo, nossa mente reflete o momento naturalmente sátvico do dia, que acontece no nascer e no pôr do sol.

Depois de praticar, alguns cuidados devem ser tomados também. Mudanças bruscas de temperatura devem ser evitadas, pelo que devemos trocar de roupa se estamos suados ou pelo menos colocar uma roupa quente. Devemos esperar pelo menos meia hora para comer e tomar banho. Isso porque aumentamos a circulação para nossos órgãos e glândulas. Quando comemos ou tomamos banho, nosso corpo termina abruptamente de absorver os benefícios da prática para levar o sangue para a pele ou para iniciar a digestão. Ao lavarmos nosso corpo também impedimos a reabsorção dos minerais eliminados pelo suor. A nível energético, o Prana que ainda estava sendo absorvido se esvai para outros lugares. Da mesma forma, nossa atitude de entrega e devoção deve se estender, de preferência para todo o nosso dia, não se limitando ao tempo no tapetinho.

Quanto aos horários de comida é dito que devemos comer um pouco de manhã, fazer nossa maior refeição á hora de almoço e jantar de forma leve á noite. Isso porque nosso Agni segue o ritmo do Sol, que é mais forte ao meio dia. Para respeitar nosso fogo digestivo devemos também comer somente quando temos fome, sem distrações, num lugar tranquilo e evitando bebidas e comidas geladas.

Das 14h ás 18h é o horário Vata, ótimo para trabalhos mentais e criativos. Das 18h ás 22h volta o horário Kapha, e naturalmente vamos acalmando nosso ritmo a essa hora. No pôr-do-sol, Sattva volta a predominar, sendo outro ótimo momento para uma prática espiritual como meditação.

À noite, um jantar leve facilita o sono e o descanso, não devendo ser feito depois das 20h da noite. Isso ajuda a acordar mais leve no dia seguinte e é sentido claramente na prática. Se comemos demais á noite, indo dormir depois, será muito difícil para nosso corpo digerir tudo, formando Ama. Esta é o conjunto de biotoxinas acumuladas por uma não digestão dos alimentos consumidos, que nos faz acordar com sensação de peso e dores no corpo, sobretudo nas articulações.

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Também nossos sentidos devem ser nutridos com impressões leves, evitando filmes ou estímulos audiovisuais fortes à noite. De fato, a partir das 20h o ideal seria preparar nosso corpo e mente para descansar, não indo dormir depois das 22h. Pela correria de nossas vidas isso é difícil, mas também o é acordar antes do nascer do sol se dormimos muito tarde. A partir das 22h é de novo o horário Pitta. Se mantemos os estímulos até essa hora, naturalmente vamos aumentar nossa atividade depois. Por isso muita gente diz que não consegue dormir a noite, que é quando se sente mais ativo. Das 2h ás 6h é o horário Vata e não por acaso coincide com o horário em que a maior parte das pessoas que sofre de insônias relata que acorda e já não consegue voltar a dormir. Descanso e sono são necessidades tão importantes quanto a alimentação, por isso ter uma rotina que favorece sua boa qualidade é fundamental.

Estas não são regras fixas, mas sugestões que podemos seguir, pôr á prova e experienciar seus verdadeiros benefícios. Isso é Yoga também: estar presente, atento àquilo que acontece com nosso corpo e mente. Aos poucos, se sintonizar com um ritmo natural em vez de seguir apenas desejos e aversões de forma automática, romper padrões de comportamento instalados por anos. E através da observação, descobrir que entrar nessa dança é uma busca constante, um caminho que não tem perfeição ou fim, um exercício de aceitação da inquestionável impermanência da Vida.

Texto de Olga Rodrigues
Fotos da Lagoa da Conceição, arquivo pessoal

O Despertar de um Sonho

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Sentado na terra do sol nascente, cedo pela manhã,
Eu vivia os meus sonhos, eles iam e vinham,
Ainda assim, eu continuo buscando, quando irei encontrar?
As estrelas se vão no céu ao amanhecer,
Eu me sinto uma bolha flutuando num rio,
Meus sonhos tiveram que morrer para que eu pudesse viver,
E agora eu espero acordar deste sonho.

Este verso é parte de uma música que fiz há uns anos atrás e se trata de uma questão que por vezes incomoda muitos aspirantes de Yoga ocidentais que entram no caminho espiritual.

Em nossa cultura ocidental, somos ensinados a ir em busca dos sonhos e seguir nossos corações. Entretanto, nas filosofias orientais, como o Budismo e Hinduísmo, aprendemos que a vida que levamos é um sonho, que os personagens que representamos não são reais e que o propósito é acordar do sonho do ego e despertar para a verdadeira realidade.

Durante muitos anos vivi confuso com esses pontos de vista aparentemente opostos até que me deparei com um palestra proferida pelo professor Jack Kornfield, um Budista americano, cujo tema era encontrar tanto o “vazio da nossa existência” quanto “nosso propósito na vida”.

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O “vazio da nossa existência” se refere ao ensinamento eterno do Oriente sobre o ego, que diz que a identificação com os pensamentos “eu e a minha vida” não é uma coisa permanente, é efémera e em constante mudança. É dito que sofremos porque não aceitamos que tudo no mundo é impermanente e tentamos nos apegar às coisas.

Por outro lado, não podemos negar que parte da nossa vida está conectada com o senso do “Eu” que a vive. Por acaso podemos negar essa sensação de Eu Sou?

Então, de um ponto de vista pragmático, nós temos algo para viver nesse tempo determinado, que é “nosso propósito na vida”. E a questão que desperta naqueles que buscam o caminho espiritual é: como posso viver minha vida da melhor maneira possível e ainda me manter consciente da natureza impermanente de todas as coisas? É exatamente neste ponto que a prática de Yoga entra em jogo.

Nos Yoga Sutras de Patanjali, ele afirma que a melhor maneira de alcançar a liberdade do sofrimento é por Isvara Pranidhana, o que significa devoção a Deus, ou entrega ao Divino, Poder Supremo, Energia Primordial ou Criador.

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Quando colocamos fé e devoção em um Poder Superior, reconhecemos que o ego é muito limitado em sua capacidade de entender a vida. O ego tem sua função – não estamos tentando aniquila-lo, mas sim, o aperfeiçoar e polir para que sirva de aliado ao invés de nos fazer sentir separado e isolado do resto do mundo.

Quando começamos a sentir como se estivéssemos sendo movidos por um Poder Superior e nos conectamos com esse lugar dentro de nossos corações, podemos confiar que nossas ações não estão sendo alimentadas pelo ego, mas sim, interligadas com a própria natureza da vida.

Portanto, a resposta para a pergunta sobre como acordar desse sonho e ao mesmo tempo viver nossos sonhos é: entregar-se, doar-se para essa energia Suprema de Criação. Quando nos conectamos com nossos profundos desejos do coração, entendemos que tudo faz parte dessa Divindade Suprema e não mais somos movidos pelo sonho do ego, um sonho de separação e isolamento, mas seguindo nossos corações – o que é a vontade do criador para nós.

Um dos livros mais influentes da minha vida foi “The Artists Way” de Julia Cameron onde ela aborda a questão de viver os sonhos em uma perspectiva não egóica. Ela explica que a vida é igual a criação. O Criador, Deus ou a Fonte está sempre criando e quando descobrimos que a criatividade que existe dentro de cada um de nós não é uma atuação do ego e sim a própria Energia Divina se expressando através de nós mesmos, então, profundamente entendemos que nossos sonhos e anseios vêm de uma fonte de energia Suprema e quando nos aproximamos dos nossos sonhos, nos aproximamos da nossa Divindade.

4Waking Up From a Dream, texto de Mark Robberds.
Publicado originalmente no www.centeredyoga.com.
Imagens de arquivo pessoal www.markrobberds.com

Mark Robberds é professor de Ashtanga Yoga Certificado pelo KPJAYI e estará em Florianópolis em Abril de 2017.

Uma semana completa de aulas e palestras, aproveite a oportunidade de aprofundar sua prática pelos olhos de um professor experiente, devoto e conhecedor do método.

Vagas limitadas!!

Maiores informações em breve.

Yoga e as Emoções

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Falamos de controlar a mente e os pensamentos com o Yoga, mas, e as emoções, onde se encaixam? Abrir o coração significa deixar que elas corram livre ou elas são apenas uma expressão dessa mente e devem ser reduzidas? Normalmente, relacionamos pensamentos com razão e lógica mas, a verdade é que, emoções são também vrttis, algo que faz a mente oscilar. Dificilmente algum pensamento lógico nos levará a extremos tão diferentes como um acesso de raiva ou um pulo de alegria. E com certeza, nenhum nos dominará tanto que passemos a funcionar no automático, reagindo, muitas vezes contra nossa vontade ou contra aquilo que acreditamos ser o melhor, como tantas vezes acontece quando somos levados pelo sentimento. Mas intuitivamente, parece que sentimos que há algo mais ali, nessas mil emoções pelas quais passamos todos os dias. Existe algo nessas lágrimas que nos libera, algo nessa raiva que nos ensina, algo nessa gargalhada que nos parece levar mais perto do estado de felicidade. Inclusive, em plena prática de Asanas, muitas vezes, elas surgem nem sabemos muito bem de onde nem porquê. O que é curioso é que quanto mais praticamos Yoga, mais em contato estamos com nossas emoções, e ao mesmo tempo também, mais nos liberamos de seus condicionamentos.

 

Esse aparente paradoxo se poderia explicar com uma palavra: autoconhecimento. Afinal, praticamos Yoga porque queremos chegar mais perto de quem realmente somos, praticando a auto-observação como forma de separarmos o trigo do joio, aquilo que nos pertence daquilo que nos foi imposto, seja pelos outros seja por nós mesmos. Trazemos á luz àquilo que antes estava escondido, para com a espada afiada do discernimento cortar o que não nos serve mais. No Yoga, não há espaço para auto ilusões ou negação. Nosso ego e sua sede insaciável de auto satisfação podem até fazer passar por positivo algo que nosso intelecto sabe que não nos faz bem, seja uma cervejinha, uma comida pouco saudável, um filme violento ou mesmo uma companhia tóxica. Mas no dia seguinte, quando nos enfrentamos no tapetinho, o corpo dói, a mente foge e não há mais como negar o óbvio.  E se estamos ali, se conscientemente escolhemos dedicar um momento de nosso dia corrido para nos observarmos, é porque existe uma semente dentro de nós que nos faz querer evoluir. É essa semente que faz com que aos poucos, mudanças aconteçam na nossa vida. Idealmente, nossa tendência para uma expansão da nossa espiritualidade inata acaba por ganhar e talvez cheguemos num ponto que nem lembramos mais desses hábitos que um dia achamos que nunca largaríamos.

1Por isso se diz que o Yoga purifica. Não é uma limpeza no sentido higienista, de deixar tudo esterilizado, para que nada possa crescer. Mas de tirar o que é impuro, o que é rajásico ou tamásico, para que exatamente nossas tendências sátvicas possam crescer com mais força e até se multiplicar. Porque há uma diferença entre vrttis positivos e negativos, como os kleshas (ignorância de quem somos, identidade, apegos, aversões e medo da morte), assim como de emoções negativas ou positivas.  Essa diferença é a direção para a qual nos levam. O que estamos cultivando hoje para colher amanhã?

 

Entretanto, o difícil com as emoções é muitas vezes o quanto elas nos tocam fundo, o quanto rejeitamos umas e nos apegamos a outras. Começamos a praticar e precisamos lidar com algumas partes de nós mesmos que não queríamos ver. Mesmo que ao inicio Asanas e Pranayamas nos pareçam algo extremamente físico ou técnico, o fato é que diferentes aspetos psico-energéticos e também emocionais vão sendo trabalhados.

Porque a verdade é que quase todos nós chegamos a nossa primeira aula de Yoga trazendo no corpo toda a carga emocional de anos, já que raramente temos oportunidade de liberá-la. Pelo contrário, somos muitas vezes ensinados ao longo da vida a tapar o que estamos sentindo, porque não é apropriado expressar naquele momento, ou porque nós mesmos queremos evitar aquela emoção dolorosa. Mesmo quando crianças, nossas manifestações de tristeza e até de alegria, ira ou mágoa são muitas vezes reprimidas. Aos poucos, vamos aprendendo a esconder nossos sentimentos, cada um criando suas estratégias desesperadas, como racionalizar demais as situações, negar os problemas ou procurar estímulos que de alguma forma tapem aquilo que não queremos sentir. Em qualquer comportamento compulsivo, seja beber, comer, comprar, trabalhar ou outro, a tentativa é sempre a de inundar a mente com outras sensações. Custe o que custar, não podemos parar nunca, pois isso nos faria olhar para o que dói, para o que não é bonito, para o que o nosso ego não gosta de chamar de seu.

 

E o que acontece com todas essas emoções que negamos, tapamos ou racionalizamos? Elas não vão embora porque simplesmente não há mais espaço para elas. Pelo contrário, tentam se expressar de outra forma. Acumulam-se em algum lugar e bloqueiam a passagem de energia até que nos demos conta de que algo está errado. Por isso vamos fechando o peito e rodando os ombros para a frente como quem defende o coração dos ataques externos. Por isso vamos endurecendo nosso quadril, não permitindo dar passos em frente. Ou por isso nosso joelho dói quando temos que nos ajoelhar e reconhecer nossa pequenez perante o grande esquema da vida. Por isso também nossas costas acumulam tanta tensão, numa tentativa de colocar longe da vista, bem lá para trás, aquilo com que não queremos lidar no momento.  E esse são apenas pequenos exemplos.

3O que acontece quando começamos a praticar Yoga? Levamos calor, energia, movimento e Prana para lugares de nosso corpo que estavam bloqueados ou adormecidos. Como temos essa semente de expansão espiritual dentro de nós, ou não estaríamos ali, naturalmente vamos percebendo que algo não flui. Pode ser até que ao inicio resistamos, que nossa mente perceba isso como dor (não invalidando as dores da prática, as quais sempre devemos dar atenção), que esse processo dure mais tempo do que gostaríamos e que ao longo dele diferentes emoções surjam, como mágoa ou raiva. Pode ser até que essas sejam tão fortes que nosso instinto é correr e não voltar mais. Mas devemos lembrar que a prática deve ser sempre sátvica, ou seja, nos deixar com a mente mais clara e tranquila do que antes. Se terminamos nos sentindo irritados e impacientes ou pesados e apáticos, precisamos verificar o que está acontecendo, apenas através da observação, já nos permitimos dissolver muito do que está internamente acontecendo. Porque aonde vai a mente vai o Prana. Então aquele bloqueio se enche de energia vital e começa a se desfazer.

 

Se com os Asanas temos a oportunidade de dissolver nossa carapaça emocional criada por anos, com os Yamas e Niyamas podemos usar essa abertura criada para interagir com nós mesmos e com o mundo de uma forma diferente, que só gerará mais luz, honestidade e generosidade. Removendo esses bloqueios, fica também muito mais fácil começar a queimar os samskaras, essas impressões acumuladas que nos levam a agir de forma condicionada. É como se chegássemos numa interseção e tivéssemos uma trilha aberta, que já fizemos várias vezes e outra menos aberta, pela qual raramente fomos. Naturalmente, muitas vezes sem pensar, enveredamos por aquela que conhecemos melhor, mesmo que nos tenha levado a onde não queríamos. Essa trilha aparentemente mais confortável é o samskara. Seu condicionamento pode ser muito forte e difícil de quebrar. Ás vezes podemos até sentir que com o Yoga estamos indo contra a corrente ou o que é normal. Mas precisamos pensar: Onde queremos chegar? Na liberação?  Ser livre não é só fazer o que se quer, não é conseguir sempre ver suas expectativas satisfeitas, mas sim estar em paz com o que quer que aconteça. É estar perante as mil interseções da vida e saber que se está escolhendo a trilha que está mais adequada com o nosso Dharma, com o nosso destino, guiados por Buddhi, e não por nossos Ragas e Dvesas, apegos e aversões, saber que estamos agindo e não reagindo. E ainda assim, seguir nesse caminho com paz no coração, feliz com seu destino seja ele o que esperámos ou não.

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Mas isso, realmente não é nada fácil. Até porque além de nossos próprios condicionamentos, temos que lidar com os condicionantes externos. Damos por nós pensando que seria muito menos trabalhoso seguir Yamas e Niyamas, sair dos padrões, se vivêssemos isolados,  meditando no alto da montanha. Se não tivéssemos contas para pagar, tarefas para fazer, satisfações a dar. Como viver num mundo que muitas vezes não é nada justo, em que nos relacionamos com pessoas diferentes todo o dia, que trazem seus próprios samskaras sobre os quais não temos nenhuma responsabilidade?

 

Patanjali escreveu os Yoga Sutras num passado distante, em que a sociedade com certeza funcionava de um modo distinto. Mas ainda assim, no sutra 33 do primeiro capitulo, ele dá quatro chaves cruciais para nos relacionarmos com os outros, de forma a podermos atingir ciita-prasadanam, a purificação e tranquilização dessa consciência, que é afinal mente e coração.
São elas: amistosidade perante aqueles que estão felizes, compaixão pelos que estão tristes, alegria pelos virtuosos e equanimidade perante os não virtuosos. Parece simples, mas quantas vezes sentimos inveja pelas qualidades ou conquistas dos outros? Ou quantas vezes sentimos quase um prazer em julgar ou rejeitar os que são viciosos? O que não vemos é que esses sentimentos, ainda que venham naturalmente, acabam por fazer mal sobretudo a nós mesmos. Vão nos corroendo, porque sabemos que no fundo não estão de acordo com o que acreditamos. Se conseguimos ter sempre presentes essas quatro chaves, nossas relações ficam mais leves, mais simples e essa é também uma forma de purificarmos nossas emoções.
2No fundo, quando se trata de emoções, torna-se pertinente a pergunta do início: o que estamos cultivando hoje para colher amanhã? Porque as emoções, exatamente por esse seu caráter mais profundo, por serem tão parte de nós, são um dos aspetos da mente mais difícil de se lidar. Mas quando escolhemos o caminho da evolução espiritual,  escolhemos também dissolver nossos bloqueios e quebrar nossos padrões, gerando em nós uma nova atitude, que nos permitirá criar relações não mais baseadas em expectativas, apegos e  carências, mas sim na generosidade e honestidade. Por seu lado, isso permite que emoções luminosas e verdadeiras predominem, num circulo virtuoso de harmonia.
A verdade é que se prepararmos bem o terreno hoje, plantamos as sementes certas e regarmos com Amor, não podemos esperar mais do que belas flores e saborosos frutos.
Texto de Olga Rodrigues
Imagens de Karim Rojas no Intensivo de Ashtanga Yoga com Guy Donahaye em Floripa.

Os Sabores segundo o Ayurveda

Os Sabores segundo o Ayurveda 1600 1066 Kaka
Se alimentar é algo que vai muito além de satisfazer uma necessidade fisiológica. A forma como o fazemos influencia diretamente como nos sentimos, tanto a nível físico como mental. Por isso, á medida que vamos nos estabelecendo na prática do Yoga, vamos aos poucos modificando nossa alimentação. 
Cada vez que comemos, sabores, texturas, cores e temperaturas se combinam e interagem, resultando em experiências distintas. Uma refeição é como uma música de orquestra, em que cada alimento toca sua parte, expressa diferentes timbres, atinge variados tons. Os sabores são uma parte importante dessa composição e para o Ayurveda, a sua importância vai muito além de nos agradarem ou não.
Quando nos alimentamos fazemos uma troca energética com a Natureza e seus cincos elementos: Éter, Ar, Fogo, Água e Terra. O sabor que sentimos não é mais do que a forma como percebemos a proporção de cada um através do paladar. Naturalmente, se um elemento está em maior quantidade no que comemos, também aumentará em nós. 
O sabor doce, por exemplo, traz a energia da Terra e da Água. Não por acaso, as crianças, que precisam exatamente desses elementos para criar estrutura e crescer, são tão atraídos por ele, ou não fosse o sabor do leite materno. Ao comermos muito doce, aumentamos Terra e Água em nós. Por isso aumenta Kapha e nos faz ganhar peso. Também por essa razão, quando nos sentimos muito agitados, recorremos ao doce para nos dar essa sensação de conforto e aterramento. O problema é que num tipo de vida em que corremos e nos preocupamos demais, acabamos por ter uma necessidade excessiva do sabor doce, assim como do salgado. Compondo nossas refeições com base apenas nesses dois sabores, vamos anulando nossa sensibilidade gustativa, procurando que estes sejam cada vez mais fortes. 
4Entretanto, há uma diferença muito grande entre um doce de boa qualidade como o das frutas e o de má qualidade, como o do açúcar e farinhas refinadas. Quando optamos por estes últimos, os efeitos são naturalmente negativos, como apego e ciúmes. Ao mesmo tempo, nossa necessidade de aterramento não é devidamente satisfeita, pelo que tendemos a buscar saciá-la com mais doce, iniciando um ciclo vicioso em que nutrição é substituída por carência. 
Ou seja, cada um dos sabores tem seus efeitos positivos no corpo físico e mental, assim como negativos, quando consumido em excesso. Por isso, no Ayurveda se acredita que a refeição deve ser composta pelos cinco sabores: Doce, Salgado, Ácido, Amargo, Adstringente. Falemos um pouco mais de cada um:
  • Doce: Como dito antes, esse sabor é composto por Terra e Água, sendo frio, pesado e úmido. Aumenta Kapha e reduz Pitta e Vata. Nutre, aterra, dá longevidade e força, constrói tecidos e aumenta Ojas, o néctar que dá imunidade e resistência física e mental. É calmante, promovendo contentamento e conforto. Em excesso, causa obesidade, letargia, diminui a capacidade de digestão e abranda o metabolismo, além de causar doenças Kapha. O doce de boa qualidade está mais presente do que imaginamos, na maior parte das frutas, vegetais como a cenoura e beterraba, grãos e feijões,  adoçantes como açúcar mascavo, melado e mel. Esse é o tipo de doce que devemos incluir na nossa alimentação, tornando nosso paladar cada vez mais sensível às diferentes sutilezas dos sabores. Por aumentar naturalmente Sattva, o Guna que ajuda a tornar nossa mente mais clara e tranquila, este sabor apoia a prática do Yoga. Já o doce excessivamente forte, como o do açúcar e farinhas refinadas, dá uma sensação de energia rápida, mas que logo cai, criando uma adição. Também embota mente e corpo, aumentando Tamas, a energia da inércia e da escuridão.
  • Salgado: composto por Terra e Fogo, tende a agravar Kapha e Pitta, reduzindo Vata. É quente e úmido. Aterra e acalma. Estimula a digestão, realça o sabor dos alimentos, mantém equilíbrio eletrolítico, suaviza tecidos e é um laxativo suave. Quando digerido se transforma em doce, sendo essa mais uma razão para não reduzirmos nossa alimentação a esses dois sabores. Em excesso, causa retenção de líquidos, problemas de pele e rugas.  Agrava Pitta e obstrui os sentidos, gerando apatia e impaciência. Está presente sobretudo no sal, porém devemos evitar o refinado e preferir marinho grosso ou sal de rocha. Este também foi um dia sal marinho, mas ficou preso nas rochas quando o mar baixou e é mais equilibrado por esquentar menos. Outros alimentos com sabor salgado são as algas marinhas e a pasta de Missô.
  • Ácido: este é um sabor quente, úmido e leve, que aumenta sobretudo Pitta mas também Kapha, reduzindo Vata. Traz consigo Terra e Água. É forte e deve ser usado em pouca quantidade. Estimula o apetite, a digestão e a eliminação. Revigora, dá força e desperta a mente. Em excesso, aumenta a sede e agrava Pitta o que origina desequilíbrios naturais desse Dosha, como inflamações, hiperacidez, sensações de queimação e raiva. É encontrado em frutas cítricas, sobretudo o limão, vinagre e comidas fermentadas, como iogurte.
  • Picante: muito quente, é o sabor que mais aumenta Pitta. É composto por Fogo e Ar, agravando também Vata por sua qualidade seca. Ao esquentar e secar é o mais eficaz para reduzir Kapha. Fortalece o Agni, o fogo digestivo, aumentando o apetite e estimulando a digestão, limpa o muco, estimula a circulação, movimenta coágulos e trombos e dissolve obstruções.  Em excesso, diminui a força, aumenta sensações de ardor, queimação e sede. No geral, causa problemas de ordem Pitta, como inflamações. A nível mental pode causar agitação e irritabilidade.  Devemos preferir os picantes mais suaves como o da canela, cravo, noz moscada e gengibre. Picantes fortes como o da pimenta malagueta ou do alho, não só tendem a criar desequilíbrio como aumentam Rajas, o Guna caracterizado pelo movimento e mudança, que na mente cria ansiedade e egocentrismo.
  • Amargo: este é um sabor que normalmente não é muito usado, tido muitas vezes como desagradável. Porém, como todos, tem seus benefícios e deve ser usado com moderação, já que é muito intenso. Composto por Ar e Éter, é frio e seco e agrava naturalmente Vata, reduzindo Pitta e Kapha. Desintoxica, depura e reduz, sendo antibacteriano, baixando a febre e o ardor.  Limpa o paladar e os sentidos. Em excesso, seca demasiado, causando desnutrição dos tecidos, tirando força e originando condições de desequilíbrio de Vata, como constipação, secura excessiva e doenças degenerativas. Também pode levar a depressão e mágoa. É encontrado em folhas verdes como a couve e outros vegetais como alcachofras e jiló. 
  • Adstringente: talvez o sabor menos conhecido e usado, é o que dá a sensação de travar a língua. Isso porque é composto por Ar e Terra, sendo frio, seco e leve. Aumenta Vata, reduz Pitta e Kapha.  Dá firmeza, trata a diarreia, reduz secreções, absorve umidade. Em excesso desidrata, escurece a pele, causa retenção de outras eliminações como no caso de constipação, e outras doenças Vata como as de ordem neurológica. Bananas verdes e romãs são um exemplo de frutas com este sabor.

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Ao inicio pode parecer um pouco abstrata a ligação entre o sabor, os elementos e seus efeitos. Porém, basta pensarmos: quem nunca sentiu o fogo subindo ao comer algo extremamente picante, o nariz desentupindo e os olhos lacrimejando? A secura extrema de uma banana verde? O conforto de um doce? Até a relação sabores-emoções é tão forte e presente nas nossas vidas que faz parte das nossas expressões. Dizemos que certas palavras ou atos são doces, que o preço é salgado, que o momento foi picante, que aquela pessoa amargou. 
 
E a verdade é que quanto mais, através de práticas como o Yoga, desenvolvemos nossa capacidade de auto-observação, mais aprendemos sobre a relação entre o que comemos e como nos sentimos. Seja percebendo que sabores nosso corpo parece pedir, qual deles melhor parece traduzir como estamos no momento, ou usando-os para reduzir algum desequilíbrio, saber mais sobre os sabores se torna uma ótima ferramenta de autoconhecimento. Assim, tanto no prato quanto na vida, ao trazermos atenção para o momento presente, vamos refinando nossa sensibilidade para as diversas tonalidades que antes passavam despercebidas, nos aventuramos a explorar sabores antes desconhecidos e tendemos cada vez mais a fazer escolhas que naturalmente nos apoiam na nossa busca por clareza e paz.
 
 
Texto de Olga Rodrigues
 Fotos de Karim Rojas

Entrevista com Lu Andrade

Entrevista com Lu Andrade 1600 1065 Kaka
Em outubro e novembro deste ano, enquanto vivia uma temporada em Mysore, Índia, tive o prazer de compartilhar e fortalecer a amizade com Lu Andrade, que além de ser muito especial é uma grande fonte de inspiração para todos nós como praticantes de Yoga. Lu é brasileira, atualmente vive e ensina em Frankfurt a maior parte do ano e também viaja a diversos lugares para retiros, workshops e intensivos.É uma das poucas mulheres certificadas do mundo e a única de toda a América Latina. Ao longo do tempo que estávamos juntas, Lu cedeu uma entrevista para o blog Ashtanga Yoga Floripa. Espero que suas palavras possam inspirar a todos vocês.
Ana Claudia

 

Como e quando começou seu caminho no Yoga? Como chegou ao Ashtanga?

Lu: Tudo começou quando era pequena e tinha o sonho de ser bailarina. Foi essa vontade que me levou a prestar vestibular para um curso que na época ainda não era reconhecido, mas que abrangia tudo o que me interessava, as artes do corpo. Apesar de já praticar um pouco de yoga, só fui conhecer o Ashtanga em princípios de 2000 na faculdade. Antes de realmente decidir minha prática diária, passei por Iyengar yoga e testei alguns outros métodos, nenhum foi capaz de me manter tão interessada por tanto tempo.

 

lu4Ao longo de todos esses anos, que transformações e mudanças foram mais evidentes e mais importantes?

Lu: A paz mental, a paciência e a vontade de ser um ser humano melhor a cada dia. Claro que com uma prática vigorosa o corpo muda, mas as mudanças mais significativas para mim foram as emocionais e mentais. Me sinto mais inteira, mais completa e mais em paz com a prática de asanas. Com o tempo passei também a trabalhar mais o lado espiritual e a vida ganhou novas dimensões. Minha prática é minha oração!

Que lição ou lições aprendidas com a prática você considera como mais valiosas?

Lu: Aceitação. Aceitar a si, aos demais e aceitar como as coisas se passam sem a urgência de mudar tudo. Aceitar os pensamentos, sentimentos e limites. Enfim, nos aceitar por completo. Isso é um trabalho para várias vidas, mas a cada dia a prática me aponta diferentes situações onde, antes de qualquer coisa, é preciso aceitar, confiar e depois entregar-se… e assim, a mágica acontece.

 

O que você diria para alguém que está iniciando sobre o método?

Lu: Que desfrute de cada momento dentro dessa jornada. O importante na vida é encontrar prazer naquilo que fazemos, não adianta praticar, ser vegetariano e meditar porque alguém disse que faz bem. É importante observar nossos padrões e fazer de nossos dias um laboratório, ser um pesquisador de si mesmo, observar quando estamos bem, quando temos pensamentos positivos, quando temos mais disposição para a prática e observar o oposto também, daí fica fácil optar por aquilo que nos traz bem estar, pois a mudança é de dentro para fora.  O caminho é longo mas, é divertido, basta desfrutar de cada passo, ter a curiosidade de aprender e deixar que cada coisa venha ao seu tempo. O mais importante é estender o tapetinho diariamente e ter paciência, a prática é a nossa melhor guia nessa jornada de auto conhecimento.

lu2Que conselho daria para quem está passando um momento em que é difícil praticar, seja por dores, cansaço, falta de tempo ou outras questões?

Lu: Que comece devagar. Se não tem uma hora agora, que seja quinze minutos diários de saudação ao sol e as três posturas finais, que tenha paciência para que aos poucos o espaço reservado para a prática seja novamente aberto. Que pratique hoje o possível, pois é a prática de hoje que ajuda a de amanha, quanto mais prorrogamos mais difícil de entrar no ritmo de novo. Pratique hoje o possível, cinco minutos de respiração, amanha uma saudação ao sol, depois um pouco mais e assim pouco a pouco construindo uma prática possível de se manter a longo prazo. Não adianta praticar um dia da semana por três horas, melhor um pouco todos os dias, assim não há pressão, assim a prática vira parte da rotina. Com as dores, é importante procurar um professor qualificado e trabalhar com ele passo a passo. Podemos usar a prática de yoga para nos curar físico, emocional e espiritualmente, ou, sem uma correta orientação, pode nos causar lesões e cansaço. Por isso é importante buscar um professor qualificado.Sharath sempre nos diz que uma faca pode servir para cortar frutas ou até para matar alguém, a faca é um instrumento, assim como a prática de asanas, dependendo de como a usamos obteremos diferentes resultados.

O que as palavras disciplina e dedicação significam para você, enquanto praticante de Yoga?

Lu: Disciplina é a nossa capacidade de escolher por aquilo que seja melhor a longo prazo, mesmo que agora não seja. Como por exemplo, levantar da cama bem cedo, com frio lá fora, para praticar. Esse ato demanda disciplina interna, sem ela haveria dias que não sairíamos da cama.Dedicação é realizar algo com amor. Não apenas levantar cedo mas, levantar feliz, encontrar o que nos move, que nos comove, que nos faz ser curiosos… e assim ser disciplinado é mais fácil.Para a prática de yoga, devoção, dedicação e determinação são muito importantes, com esses três a disciplina vem sem esforço maior. O amor por aquilo que fazemos se faz essencial para a evolução deste.

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Atualmente você é uma das poucas mulheres certificadas no mundo e a única de toda América latina, O que isso mudou na sua trajetória?

Lu: Há um encantamento natural do ser humano com títulos, o qual só nos garante a energia despendida para chegar até ele. Eu gostaria que trouxesse a iluminação (risos)… mas, trouxe mais responsabilidades e comprometimento. Senti como se houvesse “casado” com o yoga em todos os sentidos, minha vida é ainda mais voltada a aprender sobre essa ciência, aplicá-la no meu dia a dia e evoluir como ser humano.

Nelson Mandela uma vez disse: “After climbing a great hill, one finds that are many more hills to climb. I have taken a moment here to rest, to steal a view of the glorious vista that surrounds me, to look back on the distance I have come. But I can only rest for a moment, for with freedom comes responsibilities, and I dare not to linger, for my long walk has not yet ended.” *A certificação é uma montanha alta, mas existem outras muito maiores. Portanto, agradeço haver chegado até aqui, tomo conhecimento das responsabilidades que isso traz e sigo meu caminhar com mais dedicação e espero, mais humildade.

IMG_1529O que você pensa sobre a popularização do método nos últimos anos?

Lu: É algo que o professor Krishnamacharya pediu como retorno por aquilo que havia ensinado. Que a mensagem do yoga se espalhasse e que todos os seres pudessem receber os benefícios dessa prática. A cada ano fica mais difícil estudar em Mysore, a cada ano mais pessoas estão praticando. O que é muito bom, pessoas no caminho da transformação pessoal, mais seres humanos conscientes no mundo. Não importa a intenção que nos leva até o yoga, com uma prática sincera e dedicada nos transformamos profundamente.

Qual é sua relação com Sharath Jois e quão importante a presença dele é na sua jornada como praticante?

Lu: Sharath Jois é meu professor, uma pessoa de extrema importância para o meu sadhana, é seu esforço e dedicação que me inspiram a seguir esse caminho diariamente. Quem me traz conhecimento, me desafia, me traz consciência, me faz questionar, me faz ter vontade de ser uma pessoa melhor… É meu guru, aquele que trouxe a luz do conhecimento e me libertou da escuridão da ignorância, por quem sou eternamente grata.

 

Muito obrigada pela disponibilidade, palavras e amor e dedicação à prática.
Espero vê-la em breve!!

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* ”Depois de escalar uma grande montanha, você descobre que ainda existem muitas para ultrapassar. Aqui, tomei um momento para descansar, para admirar a vista gloriosa que me rodeia, para olhar para trás, desde à distância de onde vim. Mas, só posso descansar por um momento, pois, com a liberdade vem a responsabilidade, e não me atrevo a ficar, minha longa caminhada ainda não terminou.”

Yoga & Alimentação

Yoga & Alimentação 1600 1066 Kaka
Se nos tivessem dito antes de começarmos a praticar Yoga quanto isso iria mudar em nossas vidas, provavelmente não acreditaríamos. Nosso entusiasmo e motivação, o tempo dedicado, novas perspectivas e visões de nós mesmos que nunca antes tínhamos percebido, a forma como esta prática tocou todas as áreas da nossa vida, seja relacionamentos, trabalho ou família. Porque isso acontece? Provavelmente, porque ao nos enfrentarmos no tapetinho cada dia, nos tornamos mais presentes, mais sintonizados com nosso corpo e mente. Isso faz com que percebamos melhor como estes estão naquele determinado momento e como reagem as diferentes situações, buscando as que nos fazem sentir melhor. A alimentação não é exceção e é talvez uma das áreas mais perceptíveis de mudança, tanto para nós quanto para os outros. Talvez porque é algo que fazemos pelo menos três vezes por dia, cada dia, muitas vezes como algo social. Não só começamos a sentir mais claramente os efeitos de certas comidas, como deixamos de conseguir comer outras. Quanto mais nosso corpo e mente vão ficando livres de toxinas, sejam elas grosseiras ou sutis, menos somos atraídos pelos alimentos, situações e relações que nos intoxicam. Essa é uma transição natural e um processo que vai acompanhando o caminho do auto conhecimento.
Mas será que se pode dizer que existe uma alimentação realmente perfeita para praticantes de Yoga? 
Se nossa prática é guiada por uma busca de paz interior, luz, equilíbrio e felicidade, seria lógico que nos nutríssemos com comidas que nos trazem essas qualidades. Ou seja, comidas repletas de Sattva, um dos três Gunas. Sattva, Rajas e Tamas são as energias que mais influenciam a mente. Predominam alternadamente e são aumentadas por diferentes fatores, sendo um deles a alimentação. Sattva é pura luz, é sutil e traz virtudes como benevolência, sabedoria, generosidade e honestidade. Quando prevalece, nossas ações têm como motivação a liberação espiritual, o auto conhecimento e o bem de todos os seres. É como se ao deixar a mente mais limpa e clara, houvesse finalmente espaço para que Buddhi, o intelecto se manifestasse, nos guiando para agirmos mais conscientemente, mais de acordo com o Dharma. O doce é o sabor sátvico por excelência, por ser nutritivo e calmante, mas a alimentação sátvica deve ter os seis sabores (doce, salgado, ácido, amargo, picante, adstringente) em quantidades moderadas.
Os alimentos que mais nos trazem equilíbrio e harmonia, e por isso são mais adequados a pratica de Yoga e meditação, são:
  • Frutas frescas e de estação.
  • A maioria dos vegetais, sobretudo quando frescos e cozidos. 
  • Grãos, sementes e nozes.
  • Leite, queijos frescos e ghee orgânicos.
  • Adoçantes naturais como mel e 
  • Óleos virgens como o de gergelim, coco e oliva.
  • Especiarias, ervas doces e picantes suaves: gengibre, canela, cardamomo, cúrcuma, funcho, coentros e manjericão. 
  • Comida feita com amor e consciência
Por outro lado, devemos pensar em reduzir Rajas, a energia do movimento e mudança, que gera emoções contraditórias, como amor e ódio, aversão e apego. Quando impera sobre nossa mente somos movidos por desejos egoísticos, como a ganância, a ambição desmedida ou a competição. Cria instabilidade, agitação e impaciência.  Os alimentos rajásicos são os estimulantes como café, chá e chocolate, mas também aqueles que contém o sabor picante, ácido e salgado muito forte, como alho, cebola, malaguetas, vinho, picles e vinagre, assim como a maioria dos feijões. Embora estes alimentos não sejam adequados para quem ter uma mente apta para meditação, devemos lembrar que não somos renunciantes, e por vezes precisamos do impulso dado por questões do ego, podendo usar com moderação estes alimentos. Também, podemos aumentar esta energia intensa e brusca para sair de Tamas, que é tão denso que não é sequer influenciada por Sattva. 
marzaTamas é a energia da escuridão, inércia e destruição.  A mente se torna tão carregada e obtusa que caímos na inércia, apatia, estagnação e apego emocional, reagindo e sendo atraídos apenas por estímulos fortes, como filmes violentos. As ações são guiadas pela ignorância, sem atender a noções básicas como a lei causa-efeito. É o típico caso da pessoa que culpa o mundo pelas suas desgraças, enquanto continua a agir da mesma forma, uma e outra vez.  As comidas processadas ou congeladas, conservas, carne, peixe, cogumelos, açúcar e farinhas refinadas, álcool, assim como comer excessivamente, aumentam Tamas, embotando a mente e dificultando o processo de evolução espiritual.
Se queremos ter uma alimentação sátvica, precisamos também pensar nos princípios éticos que são o pilar que sustenta a prática de Yoga. Em primeiro lugar, talvez o mais importante, Ahimsa, não violência. Pensando que semelhante gera semelhante, como podemos querer que um alimento produzido através da morte e dor de um animal possa nos dar tranquilidade e paz? Ahimsa está implícito no conceito de alimentação sátvica pelo simples fato de que não há nada de pacifico, luminoso ou generoso em matar um animal para satisfazer nossa necessidade de nutrição ou prazer, quando há outras formas de a atender. Mas com o progresso da agricultura e indústria pecuária, se formos questionar nossa alimentação com base em Ahimsa, teremos que ir mais longe. Precisamos saber em que condições foram criados os animais que deram leite ou ovos, assim como que impacto teve na Natureza a cultura de determinados alimentos. Não causar dano é um principio que permeia tudo, não se limitando a algumas espécies ou seres vivos. Reflitamos se uma vida inteira passada em condições desumanas, enclausurado e sem nunca ter visto o sol, justifica nosso prazer de comer uma omelete ou um queijo. A mesma ponderação deve acontecer sobre o impacto que têm as monoculturas, o uso de agrotóxicos e transgênicos no planeta e obviamente, na própria humanidade. Por isso, sempre que possível, devemos preferir alimentos orgânicos. Isso é um verdadeiro ato de Ahimsa e amor pelo mundo em que vivemos. 

_mg_7655Ahimsa é também com nós mesmos, devemos comer aquilo que nos faz realmente bem. Parece simples, mas pensemos em quantas vezes procuramos alimentos que sabemos que nos causam dano. Aí entra Tapas, a autodisciplina. Não precisamos ser austeros com o que pomos no prato, mas talvez seja benéfico questionar nossas escolhas, se realmente queremos atingir certo equilíbrio. Isso requer Satya, honestidade, para entendermos quão verdadeiros estamos sendo com nós mesmos.  Talvez se contradizer seja tão humano quanto errar, mas se assumimos o compromisso do auto conhecimento, é também para controlar esses impulsos da mente e do ego e seu consequente sofrimento. Se sabemos por experiência própria que comer cinco brigadeiros nos vai fazer mal, porque o fazemos, esperando que desta vez, só desta vez, isso não aconteça? Não podemos querer fugir às leis do Universo, que regem também nosso corpo e mente.  Quanto mais tentamos compreende-las e adaptar nos a elas, mais harmônica será nossa alimentação, com resultados visíveis no nosso corpo físico e sutil.
O que nos leva a outra questão importante. Se queremos fazer escolhas conscientes quanto a nossa alimentação, precisamos observar nosso corpo, nossa mente, os alimentos que temos ao nosso dispor e o que está ao nosso redor. Por isso, para todos os yogis, vale a pena conhecer um pouco de Ayurveda, usando a auto-observação que cultivamos cada dia no tapetinho. Entre outras coisas, esta ciência enumera alguns atributos que estão presentes tanto em nós como nos alimentos e entorno: quente/frio, úmido/seco, leve/pesado, móvel/lento, suave/áspero, assim como pegajoso e penetrante. Essa classificação pode parecer reduzida, mas nos ajuda a entender que efeito determinada comida vai ter. Essa é afinal, a base de uma alimentação adequada, já cada um tem suas necessidades especificas e individuais que deve conhecer, mais do que seguir listas do que pode ou não comer. Se o dia está frio, úmido e pesado e comemos um sorvete, o que acontece? Essas qualidades aumentam em nós de tal forma que podem chegar a um desequilíbrio, produzindo muco. Ou num dia frio e seco, com muito vento, comemos uma alface tirada da geladeira. Como iremos sentir? Provavelmente mais leves e frios ainda. Se formos praticar no dia seguinte vamos sentir a secura extrema das articulações e a consequente dor. O mesmo se comermos algo muito picante num dia quente. Talvez a irritação posterior seja tanta que nem associemos uma coisa à outra. 
Ou seja, precisamos ter em conta nossa constituição, nossas condições, o clima e até hora do dia. Tal como na nossa prática diária aprendemos a deixar de querer controlar o externo e a fluirmos com o movimento natural de nossos corpos, também na hora de comer podemos entrar na dança dinâmica de constante mudança que é a natureza, da qual obviamente fazemos parte. 
O curioso é que nossa prática de Asanas e Pranayama não só se beneficia com uma alimentação mais adequada, mas também ajuda a consegui-la. Purificarmos diariamente nosso corpo físico e energético, estimulando a circulação sanguínea e linfática, absorvendo Energia Vital ao máximo em cada respiração, removendo bloqueios e limpando nadis, não só nos faz escolher melhor o que pomos no prato como nos faz aproveitar melhor o que comemos. O Udyana Bandha, por exemplo, com seu ênfase na região abdominal, estimula o Agni, o fogo digestivo. E o Mula Bandha, ao equilibrar a ação descendente do Apana Vayu, faz como um fechamento adequado para que o Prana trazido tanto pela respiração quanto pela comida não se esvaia e possa chegar a todos os lugares do corpo.
juicelineAliás, essa deve ser também uma prioridade para quem pratica Yoga: alimentos ricos em Prana, a energia vital que nos dá entusiasmo, criatividade e adaptabilidade. Regra geral, quanto mais frescos e vivos os alimentos, mais Prana contém. Por isso, brotos, folhas verdes e alimentos crus são indicados. Porém, se nosso fogo digestivo não é forte, o Ar e Éter contidos nesses alimentos originam desequilíbrios como constipação, flatulência e até mesmo agitação, medo e insônias. Assim, se quisermos aproveitar o alto conteúdo em Prana destas comidas, precisamos saber primeiro se temos capacidade de as digerir. Se nosso Agni está fraco, ou seja, se temos pouca fome e sentimos desconfortos como sensação de peso, azia ou gases, o que podemos fazer é estimulá-lo com picantes suaves como o gengibre, assim como nos alimentarmos nos horários mais adequados como o meio-dia, de manhã e antes das 8h da noite. Também é necessário que tenhamos Ojas, a quintessência de Kapha que dá contentamento, imunidade e resistência, e que é o veículo de Prana. Para tal, além de cultivarmos uma atitude de devoção, devemos incluir alimentos como amêndoas, tâmaras, mel e ghee, naturalmente ricos e nutritivos.
Yoga é mais do que um exercício físico, de respiração ou concentração, está presente em todas nossas ações, até as mais básicas, como comer. Vivemos a prática de Yoga também quando trazemos nossa atenção para o momento presente, refletindo sobre nossas escolhas, com intenções puras de transformar positivamente nossas vidas. Entendendo que nos alimentarmos é mais uma forma de entrar na dança do Universo, alinhando nossas necessidades com suas leis e valores, escolhendo sempre o caminho que mais gera paz e luz, tanto em nós como no mundo ao nosso redor. 
Texto de Olga Rodrigues
Imagens de Kike Krueger e Marza Tozo

Sementes de Chia

Sementes de Chia 468 450 Kaka

Chia

As sementes de Chia têm ganhado popularidade por aumentarem a sensação de saciedade e ajudarem quem quer perder peso, mas são muito mais do que isso. Usadas há séculos pelos Astecas e Maias, já nestas culturas eram conhecidas como a comida dos guerreiros e dos mensageiros, por aumentarem força e estamina, para além de serem usadas medicinalmente para aliviar dores nas articulações.  Não por acaso, seu nome significa “força”, em uma língua maia.


chiEstas pequenas sementes contêm vitaminas A, B, E e D, duas vezes mais antioxidantes que os mirtilos, seis vezes mais cálcio e quatro vezes mais fósforo que o leite, minerais como cobre, ferro, magnésio e manganésio. Para além disso, têm cerca de 20% de proteína, ainda que sejam pouco calóricas. Mas uma das coisas que torna estas sementes tão especiais é o seu aporte de  Omega 3, um tipo de ácido graxo. Nos últimos tempos tem havido uma tendência de advogar uma dieta sem gorduras. Mas a verdade é que estas são parte importante da alimentação e precisamos lembrar que não são todas iguais ou danosas á saúde. Assim, existem as gorduras saturadas, monoinsaturadas e as poli-insaturadas. O que isso significa? As gorduras saturadas são compostas por ácidos graxos, em que cada átomo de carbono está conectado ao máximo de átomos de hidrogênio possível, estando por isso saturado. São normalmente de origem animal, como a manteiga e aumentam o nível de LDL, o tipo de colesterol que cria placas de arteriosclerose. As gorduras insaturadas são compostas por ácidos graxos em que nem todos os átomos de carbono estão ligados ao máximo de átomos de hidrogênio possível, podendo ser monoinsaturadas ou poli-insaturadas. São exemplo disso os óleos vegetais. O Omega 3 é um ácido graxo poli-insaturado e é chamado essencial, já que apesar de necessário, o corpo não consegue produzir. É normalmente encontrado no peixe, mas para quem é vegetariano, consumi-lo em sementes como a Chia é uma ótima opção, já que tem 8 vezes mais Omega 3 que o salmão. Os sintomas de deficiência deste ácido graxo incluem fadiga, memória fraca, pele seca, problemas cardíacos, flutuações de humor e depressão. Para termos uma ideia da sua importância, basta olharmos para seus benefícios:

  • Reduz nível de triglicerídeos e aumenta HDL, o chamado colesterol bom, que elimina os depósitos de gorduras nas artérias.
  • Reduz inflamação.
  • Melhora saúde das articulações, reduzindo a rigidez associada com artrite e osteoartrite.
  • Ajuda a absorver cálcio, promovendo a saúde dos ossos.
  • Protege células nervosas, que contém gordura na sua estrutura, melhorando seu funcionamento.
  • Mantém a pele saudável, aliviando sintomas de acne e psoríase.

chiaDuas colheres de sopa de sementes de Chia têm ainda 42% da dose diária recomendada de fibra, que ajuda desintoxicar e manter saudável o cólon. No entanto, se as consumirmos secas, elas absorverão a água nosso sistema digestivo, pelo que devem sempre ser hidratadas por 20 minutos.  Quando o fazemos, elas incham e formam uma espécie de gel, o que não só dá uma sensação de saciedade, reduzindo a vontade de comer alimentos pouco saudáveis, como pode ajudar a prevenir a desidratação. A textura mucilaginosa decorrente da hidratação faz com que seja ainda um ótimo substituto de ovos em tortas e bolos. Para cada ovo, deve ser colocada uma colher de sopa de sementes de chia em três de água, deixando de 15-20 minutos. Da mesma forma, quando adicionadas a smoothies ou vitaminas, dão uma textura mais cremosa, ao mesmo tempo em que fazem destes uma bebida mais saciante e completa. De sabor leve, as sementes hidratadas podem ainda ser adicionadas a saladas de frutas, sucos, pães, bolos e tortas ou mesmo comidas sozinhas. Quanto à dose, esta deve ser aumentada gradualmente, mas pode chegar a quatro colheres de sopa por dia.

Com todas essas propriedades, não é de admirar que os povos Maias e Astecas considerassem estas sementes tão pequenas e aparentemente comuns, como mágicas. Por serem ao mesmo tempo tão poderosas e versáteis, podemos facilmente incluí-las na nossa alimentação diária, provando por nós mesmos porque receberam esse nome. 

Texto de Olga Rodrigues