Sobre Meditação- baseado em ensinamentos de Jetsunma Tenzin Palmo.
No ocidente, talvez por nossas vidas serem tão estressantes e agitadas, apreciamos cada vez mais a possibilidade de trazer tranquilidade, relaxamento e clareza para o nosso cotidiano. Isso é possível quando aprendemos a lidar com a mente de uma maneira mais habilidosa, através da meditação.
Em algumas tradições no oriente, a mente é comparada com um macaco que pula de galho em galho, nossa mente pula de pensamento à pensamento, imagens e memórias. Como podemos domar esta mente tão agitada?
Na tradição Budista, várias técnicas são descritas, e algumas destas técnicas básicas são apresentadas no canal de meditação, entre outras:
O link para o canal é https://www.youtube.com/channel/UCS_TegNP2qKwNxVe-L6675A/videos
(recomendamos assistir o tutorial no canal de meditações antes de iniciar qualquer prática)
O primeiro nível é chamado de Shamatha, que significa aquietar a mente, e é uma técnica básica utilizada para domar e cultivar uma mente mais calma, atenta e focada. O segundo nível é chamado de Vipashyana, que significa insight/ compreensão, utilizada para investigar e examinar o conteúdo de nossa mente.
Com paciência e perseverança, aprendemos a treinar nossa mente para que se torne mais quieta e serena, trazendo assim mais bem-estar e tranquilidade para o nosso cotidiano.
As meditações do canal são gravadas durantes as práticas, para os alunos do Samatva Yoga, que acontecem todas as Segundas e Quartas às 20:00hrs na Lagoa da Conceição.
O Ashtanga Yoga é um método de Hatha Yoga muito profundo e transformador.
Tendo como foco principal a respiração sincronizada com uma sequência de movimentos pré estabelecidos e fluídos de acordo com o ritmo indivídual de cada praticante.
Para que o aluno possa absorver todos os benéficos dessa prática, é necessário uma instrução que siga os princípios tradicionais do método, uma Escola que ofereça aulas da maneira como o Ashtanga Yoga é ensinado na cidade de Mysore, ao sul da Índia.
O Samatva Yoga surgiu exclusivamente com este propósito, afim de proporcionar essa oportunidade a todos os praticantes que almejam o auto conhecimento, bem estar e uma vida mais consciente através da prática de Yoga.
No ano de 2012, inauguramos nossa primeira Escola no centrinho da Lagoa da Conceição, com aulas diárias em diversos horários, cursos e workshops com professores renomados vindos de diversas partes do mundo, grupos de estudos e meditação.
Ao longo desses anos de atividades, com cada vez mais adeptos a prática de Yoga, percebemos a necessidade de tornar o método acessível a um número maior de pessoas, abrindo uma extensão da Escola no coração da Ilha.
Entre os dias 14 e 21 de Janeiro de 2017, teremos uma programação especial de inauguração aberta à comunidade. Serão aulas regulares, vivências e palestras preparadas com muito carinho e dedicação para todos vocês.
No dia 30 de Janeiro, abriremos nossas portas com uma ampla grade de horários, professores qualificados e um ambiente adequado, criado exclusivamente para ser um espaço de Yoga no centro de Florianópolis.
Venha praticar com a gente, acesse nosso site de apoio e cadastre-se para receber informações detalhadas sobre a Inauguração.
Existe uma vibração sutil em todos os seres, sejam eles do Reino Animal, Vegetal ou Mineral. Através dos diferentes elementos da natureza, podemos preservar o espírito de cada um deles e conectá-los através de um canal não racional.
Desde a antiguidade, cristais e pedras tiveram um papel de destaque em todas as culturas que deixaram para nós um legado de cura e ensinamentos para o bem estar. No Reino Mineral nós encontramos o início de todos os processos criativos da natureza. Sua dimensão física dinâmica e em constante evolução é o fundamento para uma estrutura estável e confiável. Através da arte da geometria sagrada, a formação mineral de pedras e cristais se alinha com o nosso corpo físico, sendo uma poderosa ferramenta para fortalecimento de nossas raízes. Bases sólidas são fundamentais para atingirmos nosso mais elevado potencial físico e espiritual.
Seguindo este espírito observador, nós da GonikaLife também notamos o belo e poderoso poder de cura dos óleos essenciais terapêuticos 100% puros. O sentido do olfato transcende a barreira do corpo, atuando diretamente através do sistema límbico, acessando a memória, nossas mais profundas verdades e o propósito da Alma. O perfume é máxima expressão do olfato, a oitava superior da escala musical que nos afina com a sinfonia Universal, e os óleos essenciais são a mais pura e elevada vibração do Reino Vegetal. Carregam oxigênio, antioxidante e frequências harmônicas que penetram na membrana celular e ativam o poder de auto cura de nossos corpos. De forma similar, a frequência energética dentro de cada pedra provê um magnetismo que, em contato com o nosso, irá gerar um a vibração da mais alta frequência.
Uma conexão profunda entre a Mãe Terra e o nosso corpo físico ajuda a nos sentirmos seguros em nossos próprios corpos e neste planeta. Explorar de uma forma integrada as conexões com os diferentes Reinos é razão pela qual decidimos juntar os óleos essenciais com o ancestral e místico poder das pedras.
Para maiores informações sobre esse evento que une o poder das pedras, aromaterapia e Yoga em Florianópolis, acesse esse link.
Estabelecer uma prática diária não é tarefa fácil. Praticar todos os dias, independentemente do que aconteça, não se deixando influenciar pelos inúmeros eventos que nos parecem levar noutro caminho, requer perseverança, disciplina e amor. Mas talvez um dos segredos para fazer isso sem sacrifício ou esforço seja criar uma rotina que torne praticar algo tão natural quanto escovar os dentes. Só que, para a maioria de nós, rotina é uma palavra aborrecida. Fazer sempre a mesma coisa todo o dia? Seguir sempre os mesmos passos? Nossa mente não gosta muito disso, afinal é muito mais divertido inovar, inventar, diversificar. Mas olhemos a Natureza. O dia segue a noite, é simples assim. A semente brota, a planta cresce, nasce uma flor da qual sai um fruto e nele existe uma semente que dará origem a uma nova planta. Independentemente de nossos anseios e dramas pessoais, a Vida flui em ciclos que se repetem eternamente, num ritmo sobre o qual não temos nenhum controle, mas que nos influencia. Quando entendemos como esses ciclos agem dentro de nós, podemos entrar nessa dança de uma forma mais harmoniosa. E com o tempo, vamos experienciando e observando por nós mesmos os benefícios de fluir nesse ritmo mais natural, do qual uma prática diária faz facilmente parte.
Entretanto, isso não acontece de um dia para o outro. Até porque normalmente, temos muitos hábitos que repetimos automaticamente, por anos e anos, mesmo que saibamos que não nos fazem bem. Nosso corpo e mente tendem a seguir o caminho que sempre trilhamos. Mais do que isso, a dificuldade de deixar certos hábitos se prende com a identificação de nosso ego com o que estes representam. Somos tão apegados, que até vícios de que aparentemente não gostamos nos custam a abandonar, como se ao fazê-lo deixássemos para trás uma parte de nós. E de fato, é isso que acontece, mas precisamos lembrar que o que estamos deixando para trás são fragmentos de um eu ilusório, já que nossa essência seguirá imutável. E que ao limpar o velho, abrimos o espaço para o novo. Como humanos que somos, o vazio em todo seu potencial nos assusta, então precisamos ver onde nos vamos agarrar antes de soltar o antigo. Então, muitas vezes antes de pensarmos em cortar hábitos antigos, podemos pensar em criar novos, que nos levem a gerar mais espaço e luz, que nos deem o discernimento para depois abandonar o que não nos serve mais.
Entrar numa rotina diária que seja uma sucessão de passos nessa direção pode nos ajudar a criar uma estrutura que não só nos fará sentir melhor como apoiará a prática de Ashtanga. No Ayurveda isso se chama Dinacharya. Esta segue uma lógica, é dividida por fases segundo o Dosha que predomina em cada uma. Por exemplo, das 6h ás 10h da manhã é a hora Kapha, que traz consigo as qualidades deste Dosha, que é pesado, lento, frio, suave e pegajoso. Quando aumentamos esses atributos, dormindo, comendo alimentos frios e doces, como iogurte e pão, o que acontece é que os reforçamos, levando ao seu agravo e gerando desequilíbrios como sensação de peso, produção de muco ou náuseas. A ideia de seguir o Dinacharya é exatamente equilibrar a tendência natural de cada fase do dia, para que nenhum Dosha se agrave.
O Ayurveda diz que devemos acordar com o nascer do sol, equilibrando a tendência Kapha dessa hora. A primeira coisa a fazer quando despertamos é agradecer. Parece simples, mas quantos dias começamos pensando no que temos que fazer, nos problemas do dia anterior ou resistindo a acordar? Estamos vivos e não há nada melhor que isso. Um dia novo começa e com ele se acercam milhões de possibilidades de encontros, experiências, vivências e aprendizados que não podemos imaginar, por muito previsível que nos pareça o quotidiano.
Quando nos levantamos, começamos a apoiar nosso corpo nas tarefas de eliminação que ele levou durante a noite, enquanto nossa mente e sentidos descansavam. A primeira coisa que devemos fazer é tomar um copo de água morna com limão. Isso ajuda a hidratar nosso corpo, a eliminar toxinas e a acordar o Agni, o fogo digestivo, adormecido. Para pessoas de constituição Vata, pode ser adicionado um pouco de sal para facilitar a hidratação, para as de Kapha uma colher de chá de mel, por sua propriedade expectorante. Já para pessoas Pitta, o sabor ácido deve ser usado com cautela, pelo que não se deve passar de 10 gotas de limão ou em caso de problemas como hiperacidez, usar só água morna.
Depois devemos fazer nossas eliminações. Isso é essencial para começarmos o dia renovados, partindo do zero. Se iniciarmos nosso dia com o corpo trabalhando ainda para processar os alimentos do dia anterior, teremos naturalmente menos energia para o dia que segue. Isso facilita muito nossa prática também. Tendo os órgãos internos vazios, as posturas podem surtir o efeito desejado, já que muitas são verdadeiras massagens dos órgãos internos. Por isso também não é aconselhado comer nem tomar grandes quantidades de liquido antes de praticar. Para as pessoas que têm dificuldade de evacuar espontaneamente todas as manhãs, é aconselhado tomar um copo de leite morno com ghee antes de dormir.
Para deixarmos para trás tudo o que pertence ao dia anterior, continuamos nossa rotina ao escovar os dentes, de preferência com um creme dental que tenha um sabor amargo ou adstringente. O Ayurveda recomenda ainda raspar a língua com um raspador próprio para isso e aplicação de cinco gotas de óleo de gergelim em cada narina. Antes do banho, pode ser feita uma Abhyanga, uma massagem com óleo de gergelim para Vata e Kapha e óleo de coco para Pitta. Tomar banho logo de manhã purifica nosso corpo e mente, nos preparando também para a prática. Não por acaso Saucha, limpeza, é um dos Niyamas.
A prática de Ashtanga se inclui perfeitamente na lógica do Dinacharya, já que esta é a hora ideal tanto para fazer exercício como para meditar. Movimentar e esquentar o corpo equilibra a tendência Kapha. Ao mesmo tempo, nossa mente reflete o momento naturalmente sátvico do dia, que acontece no nascer e no pôr do sol.
Depois de praticar, alguns cuidados devem ser tomados também. Mudanças bruscas de temperatura devem ser evitadas, pelo que devemos trocar de roupa se estamos suados ou pelo menos colocar uma roupa quente. Devemos esperar pelo menos meia hora para comer e tomar banho. Isso porque aumentamos a circulação para nossos órgãos e glândulas. Quando comemos ou tomamos banho, nosso corpo termina abruptamente de absorver os benefícios da prática para levar o sangue para a pele ou para iniciar a digestão. Ao lavarmos nosso corpo também impedimos a reabsorção dos minerais eliminados pelo suor. A nível energético, o Prana que ainda estava sendo absorvido se esvai para outros lugares. Da mesma forma, nossa atitude de entrega e devoção deve se estender, de preferência para todo o nosso dia, não se limitando ao tempo no tapetinho.
Quanto aos horários de comida é dito que devemos comer um pouco de manhã, fazer nossa maior refeição á hora de almoço e jantar de forma leve á noite. Isso porque nosso Agni segue o ritmo do Sol, que é mais forte ao meio dia. Para respeitar nosso fogo digestivo devemos também comer somente quando temos fome, sem distrações, num lugar tranquilo e evitando bebidas e comidas geladas.
Das 14h ás 18h é o horário Vata, ótimo para trabalhos mentais e criativos. Das 18h ás 22h volta o horário Kapha, e naturalmente vamos acalmando nosso ritmo a essa hora. No pôr-do-sol, Sattva volta a predominar, sendo outro ótimo momento para uma prática espiritual como meditação.
À noite, um jantar leve facilita o sono e o descanso, não devendo ser feito depois das 20h da noite. Isso ajuda a acordar mais leve no dia seguinte e é sentido claramente na prática. Se comemos demais á noite, indo dormir depois, será muito difícil para nosso corpo digerir tudo, formando Ama. Esta é o conjunto de biotoxinas acumuladas por uma não digestão dos alimentos consumidos, que nos faz acordar com sensação de peso e dores no corpo, sobretudo nas articulações.
Também nossos sentidos devem ser nutridos com impressões leves, evitando filmes ou estímulos audiovisuais fortes à noite. De fato, a partir das 20h o ideal seria preparar nosso corpo e mente para descansar, não indo dormir depois das 22h. Pela correria de nossas vidas isso é difícil, mas também o é acordar antes do nascer do sol se dormimos muito tarde. A partir das 22h é de novo o horário Pitta. Se mantemos os estímulos até essa hora, naturalmente vamos aumentar nossa atividade depois. Por isso muita gente diz que não consegue dormir a noite, que é quando se sente mais ativo. Das 2h ás 6h é o horário Vata e não por acaso coincide com o horário em que a maior parte das pessoas que sofre de insônias relata que acorda e já não consegue voltar a dormir. Descanso e sono são necessidades tão importantes quanto a alimentação, por isso ter uma rotina que favorece sua boa qualidade é fundamental.
Estas não são regras fixas, mas sugestões que podemos seguir, pôr á prova e experienciar seus verdadeiros benefícios. Isso é Yoga também: estar presente, atento àquilo que acontece com nosso corpo e mente. Aos poucos, se sintonizar com um ritmo natural em vez de seguir apenas desejos e aversões de forma automática, romper padrões de comportamento instalados por anos. E através da observação, descobrir que entrar nessa dança é uma busca constante, um caminho que não tem perfeição ou fim, um exercício de aceitação da inquestionável impermanência da Vida.
Sentado na terra do sol nascente, cedo pela manhã,
Eu vivia os meus sonhos, eles iam e vinham,
Ainda assim, eu continuo buscando, quando irei encontrar?
As estrelas se vão no céu ao amanhecer,
Eu me sinto uma bolha flutuando num rio,
Meus sonhos tiveram que morrer para que eu pudesse viver,
E agora eu espero acordar deste sonho.
Este verso é parte de uma música que fiz há uns anos atrás e se trata de uma questão que por vezes incomoda muitos aspirantes de Yoga ocidentais que entram no caminho espiritual.
Em nossa cultura ocidental, somos ensinados a ir em busca dos sonhos e seguir nossos corações. Entretanto, nas filosofias orientais, como o Budismo e Hinduísmo, aprendemos que a vida que levamos é um sonho, que os personagens que representamos não são reais e que o propósito é acordar do sonho do ego e despertar para a verdadeira realidade.
Durante muitos anos vivi confuso com esses pontos de vista aparentemente opostos até que me deparei com um palestra proferida pelo professor Jack Kornfield, um Budista americano, cujo tema era encontrar tanto o “vazio da nossa existência” quanto “nosso propósito na vida”.
O “vazio da nossa existência” se refere ao ensinamento eterno do Oriente sobre o ego, que diz que a identificação com os pensamentos “eu e a minha vida” não é uma coisa permanente, é efémera e em constante mudança. É dito que sofremos porque não aceitamos que tudo no mundo é impermanente e tentamos nos apegar às coisas.
Por outro lado, não podemos negar que parte da nossa vida está conectada com o senso do “Eu” que a vive. Por acaso podemos negar essa sensação de Eu Sou?
Então, de um ponto de vista pragmático, nós temos algo para viver nesse tempo determinado, que é “nosso propósito na vida”. E a questão que desperta naqueles que buscam o caminho espiritual é: como posso viver minha vida da melhor maneira possível e ainda me manter consciente da natureza impermanente de todas as coisas? É exatamente neste ponto que a prática de Yoga entra em jogo.
Nos Yoga Sutras de Patanjali, ele afirma que a melhor maneira de alcançar a liberdade do sofrimento é por Isvara Pranidhana, o que significa devoção a Deus, ou entrega ao Divino, Poder Supremo, Energia Primordial ou Criador.
Quando colocamos fé e devoção em um Poder Superior, reconhecemos que o ego é muito limitado em sua capacidade de entender a vida. O ego tem sua função – não estamos tentando aniquila-lo, mas sim, o aperfeiçoar e polir para que sirva de aliado ao invés de nos fazer sentir separado e isolado do resto do mundo.
Quando começamos a sentir como se estivéssemos sendo movidos por um Poder Superior e nos conectamos com esse lugar dentro de nossos corações, podemos confiar que nossas ações não estão sendo alimentadas pelo ego, mas sim, interligadas com a própria natureza da vida.
Portanto, a resposta para a pergunta sobre como acordar desse sonho e ao mesmo tempo viver nossos sonhos é: entregar-se, doar-se para essa energia Suprema de Criação. Quando nos conectamos com nossos profundos desejos do coração, entendemos que tudo faz parte dessa Divindade Suprema e não mais somos movidos pelo sonho do ego, um sonho de separação e isolamento, mas seguindo nossos corações – o que é a vontade do criador para nós.
Um dos livros mais influentes da minha vida foi “The Artists Way” de Julia Cameron onde ela aborda a questão de viver os sonhos em uma perspectiva não egóica. Ela explica que a vida é igual a criação. O Criador, Deus ou a Fonte está sempre criando e quando descobrimos que a criatividade que existe dentro de cada um de nós não é uma atuação do ego e sim a própria Energia Divina se expressando através de nós mesmos, então, profundamente entendemos que nossos sonhos e anseios vêm de uma fonte de energia Suprema e quando nos aproximamos dos nossos sonhos, nos aproximamos da nossa Divindade.
Mark Robberds é professor de Ashtanga Yoga Certificado pelo KPJAYI e estará em Florianópolis em Abril de 2017.
Uma semana completa de aulas e palestras, aproveite a oportunidade de aprofundar sua prática pelos olhos de um professor experiente, devoto e conhecedor do método.
Vagas limitadas!!
Maiores informações em breve.
Somente o ser humano se questiona: quem sou eu? Um animal não se pergunta isso. Ele simplesmente vive e aceita aquele corpo, seus instintos e necessidades. Em algum ponto da história humana, começou esse olhar para si mesmo e sentir que existe algo mais do que o corpo, os pensamentos, os sentimentos. De onde terá vindo esse primeiro lampejo de consciência assomando na mente humana? Foi certamente um passo em frente na evolução, mas essa questão trouxe consigo alguma inquietação, uma necessidade de buscar algo mais. Por ser tão difícil de responder, nosso instinto foi procurar fora. Muitos sábios discorreram e se questionaram partindo dessa mesma pergunta, tentando definir o indefinível. Muitos artistas tentaram expressar através de tintas, palavras, esculturas e tantos outros meios, esse vazio existencial que tantas vezes não nos deixa dormir. Porque se não sei quem sou, não sei o que faço aqui.
Porque o curioso é: nos identificamos totalmente com corpo, mente e papéis sociais, com os heróis (ou vilões) de histórias pessoais que nós mesmos narramos. Mas ao mesmo tempo em que nos vamos apoiando nessa estrutura ilusória, algo dentro de nós nos diz que não é bem isso. Isso nos causa um senso interno de dualidade e divisão, como se estivéssemos constantemente escutando uma história mal contada, mas em que queremos forçosamente acreditar. E aí começamos a procurar, cada um de forma diferente. Assim muitos de nós chegamos ao Yoga, como forma de nos sentirmos “melhor”. Porque mesmo que seja por uma questão física ou emocional, no fundo o que queremos sempre é uma resposta para acabar com o sofrimento. Intuitivamente, sabemos que este não nos pertence, mas simplesmente não nos conseguimos livrar dele sem ajuda. Essa pergunta eterna que nos faz duvidar se estamos pisando em terreno firme ao acreditar em todas as nossas identificações, que de alguma forma a prática parece ajudar a dissipar, é que nos faz voltar dia após dia. Mesmo que as posturas nos pareçam loucas, a série impossível de decorar e a mente difícil de calar. Porque também em nós surge esse lampejo de consciência que nos diz que há algo mais além do mundo externo e material, vamos respirando, observando, limpando, desvendando as camadas que cobrem nosso verdadeiro Ser.
Mas esse caminho até nossa essência pode-se fazer de diferentes formas. Sri Ramana Maharshi enfatizava a meditação do tipo Vichara, interrogação, em que vamos nos perguntando: eu sou isto? E por exclusão vamos retirando aquilo que não somos. Esse processo pode ser chamado de neti neti, “nem isto, nem isto”. Não sou o meu corpo, não sou o meu pensamento, não sou o meu nome, não sou a minha profissão… E por aí fora, até chegarmos a algo que não deixe espaço para dúvidas. Mas para excluirmos algo e podermos afirmar com certeza que não somos aquilo, precisamos conhecê-lo. É isso que fazemos na nossa prática diária. Por isso passamos tanto tempo nos observando. Como está meu corpo hoje? Que sensação é essa? É dolorosa ou prazerosa? Como está minha mente? Porquê uns dias ela fica tranquila e me deixa praticar em paz e outras me faz esquecer tudo, me leva para mil lugares que eu não queria ir? Nosso verdadeiro Ser é ilimitado, então ele toma a forma que lhe dermos. Por isso precisamos ir purificando os vários invólucros e moldes para entender sua realidade ilusória. Precisamos observar e conhecer para saber como os transcender.
Partimos do corpo físico, mas podemos chegar a purificar até as camadas mais sutis. Estes diferentes corpos recebem o nome de Koshas e são cinco. São como vidros, em que se o primeiro está sujo de nenhuma forma conseguimos enxergar o último. Essa sujeira não é mais do que a soma de todas as cores que fomos dando as diferentes situações da vida e acumulando nos diferentes Koshas.
Annamaya Kosha é o corpo físico. Anna significa comida, porque é disso que ele é composto. Todos os dias aquilo que comemos nutre nossa células, que se renovam a partir dessa nutrição. Pensando que este corpo é formado pelo que comemos e digerimos, se entende porque a alimentação é tão importante se queremos começar purificando os Koshas. Para além de predominantemente sátvica, ela deve ser adequada a nossa constituição, mas também à nossa capacidade de digeri-la. Ama, o conjunto de biotoxinas que está na origem de muitas doenças, se acumula quando comemos algo que não podemos digerir. Quando temos muito Ama, nos sentimos pesados, acordamos com dificuldade, as articulações doem. O interessante é que ao praticarmos todos os dias e observarmos o efeito dos alimentos que consumimos no dia anterior, acabamos por fazer escolhas e mudanças na nossa alimentação cada vez mais adequadas. E o melhor é que essas mudanças são normalmente graduais e suaves, porque acontecem de dentro para fora e não baseadas em opiniões exteriores, com as quais nossa razão pode até concordar, mas nossa vontade não. Ao mesmo tempo, quando esquentamos, torcemos, alongamos e massageamos nosso corpo com a prática, vamos removendo parte de Ama. Como equilíbrio gera equilíbrio, ao estarmos menos intoxicados, optamos por alimentos mais adequados.
A Primeira Série do Ashtanga Yoga recebe o nome de Yoga Chikitsa ou terapia porque atua primeiramente no corpo físico, entre outras coisas, aumentando o calor e a circulação sanguínea e linfática para todos os pontos do corpo, massageando áreas que antes ficavam inertes. No livro Yoga Mala, Sri K. Pattabhi Jois faz uma descrição detalhada sobre os benefícios de cada postura desta série. A ideia é deixar este corpo livre de doença e dor, para que o espaço que estas ocupariam seja utilizado para a concentração e meditação. Quando nosso corpo físico sente desconforto, toda nossa atenção é tomada por ele. Quando este está equilibrado e em harmonia, podemos então começar a purificar as camadas seguintes.
Pranamaya Kosha é basicamente o corpo energético. Composto por Prana, energia vital, é purificado através de Asana e Pranayama. Os seus canais, chamados nadis, recebem especial atenção na Segunda Série, em sânscrito, Nadi Shodhana, que significa exatamente purificação desses canais. O seu canal principal, o Sushumna, segue a coluna vertebral, tendo dois canais secundários que o acompanham: Ida (Lunar, esquerdo) e Pingala (Solar, direito). Os pontos de interseção desses dois canais são pontos especiais de energia, os conhecidos Chakras. Este corpo está entre o físico e o da mente, fazendo a ligação entre os dois, o que é facilmente observável numa prática de asanas. O Prana tem uma relação especial com a mente e para onde vai um segue o outro. Podemos ter certa região bloqueada, por exemplo sentindo resistência a que se abra. Se tentarmos forçar através da força física, provavelmente causaremos uma lesão. Mas quando levamos nossa atenção, sem julgamento, para aquela região, o Prana segue, podendo fazer a energia fluir. Isso pode trazer à tona diferentes emoções e por isso é comum para quem está começando as retroflexões profundas da Segunda Série ter manifestações diversas desse desbloqueio, como choro ou pesadelos. Como sempre, vale não racionalizar em excesso e se entregar ao que está acontecendo, lembrando que cada um é um indivíduo diferente e reagirá de forma diferente. Os Bandhas são mais um exemplo dessa ligação entre esses três corpos. Se ao inicio usamos muito a contração muscular para alcançar esses nós, aos poucos, colocando nossa atenção neles, podemos sentir como a força física vai diminuindo e se torna uma contração sutil, energética. Fechando o Mula Bandha, interrompemos o desperdício de Prana pelo Apana Vayu. Pelo Udhyana Bandha expandimos nossa capacidade torácica, fazendo com que o Prana seja distribuído por todo o corpo energético a partir da região do Anahata Chakra, o coração espiritual.
O Manomaya Kosha é o corpo da mente, pelo qual em vez de sangue e linfa fluem pensamentos. Também aqui ficam guardados samskaras, impressões passadas que se foram acumulando por um denominador comum, influenciando tendências de comportamento, os vasanas. Porquê quando escutamos alguém falar de bolo de chocolate nos dá vontade de comê-lo? Porque essas três palavras nos lembram todas as vezes que comemos e foi prazeroso, reavivando esse samskaras. Ou não, pode ser que elas estejam associadas a uma memória de um bolo que nos deu dor de barriga e somente menciona-lo nos enjoa. Seja como for, nossa tendência automática é a de persistir no agradável e rejeitar o desagradável, segundo nossas impressões anteriores e prevalentes.
Tal como nosso corpo físico é composto por aquilo que conseguimos digerir, também o corpo mental vai sendo formado por aquilo que vamos digerindo, aquilo que vamos percebendo do mundo exterior e aquilo que vivemos nele, fazendo nosso próprio conjunto de memórias sensoriais, emocionais e intelectuais. E tal como existe Ama físico também existe Ama mental, pegajoso e difícil de eliminar, obstruindo os canais deste corpo, o fluxo do pensamento claro. Assim, a partir das impressões percebidas, como as digerimos e guardamos, são gerados padrões de comportamento. Um dos presentes recebidos ao praticar Yoga é a crescente consciência desses padrões, o primeiro passo para conseguirmos ultrapassá-los.
A purificação dos Koshas anteriores contribui grandemente para o alcançarmos. Bloqueios energéticos e físicos podem ser como muros que não nos deixam ver mais adiante, mesmo que queiramos muito. Além disso, na pratica de asanas e Pranayama, temos diversas oportunidades para observarmos como esses padrões surgem. A competição com o colega do lado, a frustração de não conseguir chegar no nosso ideal de um asana, o ego vibrando porque conseguimos chegar dois centímetros mais longe, a vontade de desistir no meio, são apenas algumas tendências que podem surgir. Na verdade surgem várias vezes durante nosso dia, mas nem sempre nos damos conta, porque passamos muitas vezes a correr. A ideia é que com atenção e amor consigamos cada vez mais eliminar os samskaras que nos causam sofrimento.
Vignamaya Kosha é o do intelecto, da inteligência sutil. Aqui se alojam os samskaras e o Karma mais profundos. Praticando, estamos despertando o poder do intelecto, sem a qual não podemos desvendar essa trama intricada de samskaras e vasanas. Só a luz de Buddhi pode iluminar as caixas empoeiradas onde guardamos impressões e tendências profundas, num canto escuro de nosso ser. Mas para que Buddhi se manifeste e prevaleça sobre a vontade do ego, seus apegos e aversões, é necessário que Sattva domine sobre a mente. Por isso são tão importantes as ações de purificação dos Koshas anteriores, para criar o espaço e a luz necessárias para termos Viveka, discernimento.
O último Kosha, Anandamaya Kosha, é o chamado corpo causal, a alma que causa a individualidade especifica com que cada um de nós vem nesse mundo. Sendo o último, o mais sutil, é o que está mais perto de Purusa, em direto contato com o Absoluto. Dá origem aos outros Koshas e o último a ser dissolvido quando se morre. Ananda pode ser traduzido como bem-aventurança, um estado de felicidade, paz e tranquilidade, que seria a matéria que compõem este corpo. Experienciar esse estado, um tipo de Samadhi, só é possível quando os Koshas anteriores estão purificados.
No fundo, este é um processo de Kriya Yoga tal como descrito no primeiro sutra do Sadhana Padha, o segundo Capítulo dos Yoga Sutras, por Patanjali. Kriya significa ação e envolve Tapas, Svadhyaya e Ishvara Pranidhana. Com Tapas, o calor da autodisciplina, muitas vezes traduzido como austeridade, não só fazemos o sangue circular mais fortemente, limpando nosso corpo físico de maus hábitos, como queimamos as sementes dos samskaras para que não germinem mais. Mas essa austeridade não é gratuita, não vem para nos causar dano ou reprimir. Muito pelo contrário, é uma autodisciplina que nos ajuda a seguirmos mais facilmente naquele caminho que escolhemos. Por exemplo, queixamo-nos que não temos tempo para praticar, que queremos acordar cedo, aproveitar mais o dia, mas não conseguimos. Tentamos uma vez mas na manhã seguinte já deixamos nossa tendência de acordar tarde por anos ditar. No terceiro dia nos arrependemos e voltamos a colocar o despertador para cedo, para no quarto esquecer da decisão na hora que a preguiça fala mais alto. E a verdade é que cada vez que cedemos faz com que na seguinte custe mais ainda. Mas o que por vezes não vemos é que mais do que a hora que acordamos ou não, o que causa o sofrimento é essa indecisão, esse constante alternar entre nossos valores e nossos condicionamentos. Usando o fervor de Tapas, podemos nos disciplinar para acordar mais cedo por um tempo, até que um belo dia descubramos que isso não nos exige mais esforço, passando a acontecer naturalmente. Claro que isso não vem sozinho. Ter os Koshas livres de Ama físico, mental e energético é fundamental para conseguirmos permanecer firmes em nossas escolhas. No fundo, a vida é feita de ciclos, de ações e consequências que quanto mais estão em sintonia e de acordo com um propósito, mais força nos dão para irmos em direção a esse propósito.
Svadhyaya se trata exatamente de auto estudo, auto-observação e conhecimento. Entender como nossos corpos funcionam serve para saber como manejá-los, como transformá-los, como não deixar que nos dominem. Como dito antes, serve também para entendermos o que não somos. Se me apego a ideia que sou aquela pessoa que acorda tarde, se eu mesmo coloco esse limite estanque, dificilmente só com Tapas sairei da cama. Mas se entendo que não sou essa preguiça, fica mais fácil agir de acordo com os valores em que realmente acredito. Svadhyaya também é o estudo de escrituras e livros sagrados, o que não deixa de ser um estudo sobre nós mesmos, ou não fossem estes universais.
Com Ishvara Pranidhana, temos a oportunidade de purificar todos os corpos, do mais grosseiro ao mais sutil. Porque no fundo, só sofremos quando não nos entregamos ao fato que existe uma lei maior, porque nosso ego sempre espera algo em troca, mesmo que tenha propósitos aparentemente superiores. Se eu vier todos os dias vou conseguir fazer drop-back sozinho? Se eu fizer Pranayama vou ter uma mente mais calma? Se eu praticar por anos vou viver mais anos? Se eu meditar vou me iluminar? Dificilmente fazemos algo sem nos apegarmos ao resultado. E esse resultado não pode ser qualquer um, tem que ser o que imaginámos, segundo nossa visão limitada da coisa. Exatamente porque avidya nos domina, a ignorância sobre quem realmente somos. Então nos apegamos a tal estrutura ilusória que falávamos no inicio. Se pudermos entregar tudo a Ishvara entendendo que não somos mais do que parte desse Todo, purificamos nossas ações, nossos corpos, nossos samskaras mais profundos.
Assim, dizemos que Yoga é um caminho de purificação, camada por camada. Mas purificar não é lavar. Qual a melhor maneira de fazê-lo? Entregando-o ao fogo. Ao contrário de algo que lavamos e mantemos intacto, quando o fogo toca em algo o liquefaz, modifica sua forma. Não sabemos como aquilo que entregamos ao fogo divino vai sair, não queremos oferecer por medo da perda, por apego. Mas se nosso desejo por liberação é intenso, estamos disposto a deixar que todos nossos Koshas sejam transformados pela chama da Consciência. Isso só pode acontecer quando confiamos plenamente no Universo, quando sabemos que o que tem de ser será, independentemente de nossa vontade. Por isso que, mais que tudo, o Yoga é então, um caminho de entrega e aceitação.
Esse aparente paradoxo se poderia explicar com uma palavra: autoconhecimento. Afinal, praticamos Yoga porque queremos chegar mais perto de quem realmente somos, praticando a auto-observação como forma de separarmos o trigo do joio, aquilo que nos pertence daquilo que nos foi imposto, seja pelos outros seja por nós mesmos. Trazemos á luz àquilo que antes estava escondido, para com a espada afiada do discernimento cortar o que não nos serve mais. No Yoga, não há espaço para auto ilusões ou negação. Nosso ego e sua sede insaciável de auto satisfação podem até fazer passar por positivo algo que nosso intelecto sabe que não nos faz bem, seja uma cervejinha, uma comida pouco saudável, um filme violento ou mesmo uma companhia tóxica. Mas no dia seguinte, quando nos enfrentamos no tapetinho, o corpo dói, a mente foge e não há mais como negar o óbvio. E se estamos ali, se conscientemente escolhemos dedicar um momento de nosso dia corrido para nos observarmos, é porque existe uma semente dentro de nós que nos faz querer evoluir. É essa semente que faz com que aos poucos, mudanças aconteçam na nossa vida. Idealmente, nossa tendência para uma expansão da nossa espiritualidade inata acaba por ganhar e talvez cheguemos num ponto que nem lembramos mais desses hábitos que um dia achamos que nunca largaríamos.
Por isso se diz que o Yoga purifica. Não é uma limpeza no sentido higienista, de deixar tudo esterilizado, para que nada possa crescer. Mas de tirar o que é impuro, o que é rajásico ou tamásico, para que exatamente nossas tendências sátvicas possam crescer com mais força e até se multiplicar. Porque há uma diferença entre vrttis positivos e negativos, como os kleshas (ignorância de quem somos, identidade, apegos, aversões e medo da morte), assim como de emoções negativas ou positivas. Essa diferença é a direção para a qual nos levam. O que estamos cultivando hoje para colher amanhã?
Entretanto, o difícil com as emoções é muitas vezes o quanto elas nos tocam fundo, o quanto rejeitamos umas e nos apegamos a outras. Começamos a praticar e precisamos lidar com algumas partes de nós mesmos que não queríamos ver. Mesmo que ao inicio Asanas e Pranayamas nos pareçam algo extremamente físico ou técnico, o fato é que diferentes aspetos psico-energéticos e também emocionais vão sendo trabalhados.
Porque a verdade é que quase todos nós chegamos a nossa primeira aula de Yoga trazendo no corpo toda a carga emocional de anos, já que raramente temos oportunidade de liberá-la. Pelo contrário, somos muitas vezes ensinados ao longo da vida a tapar o que estamos sentindo, porque não é apropriado expressar naquele momento, ou porque nós mesmos queremos evitar aquela emoção dolorosa. Mesmo quando crianças, nossas manifestações de tristeza e até de alegria, ira ou mágoa são muitas vezes reprimidas. Aos poucos, vamos aprendendo a esconder nossos sentimentos, cada um criando suas estratégias desesperadas, como racionalizar demais as situações, negar os problemas ou procurar estímulos que de alguma forma tapem aquilo que não queremos sentir. Em qualquer comportamento compulsivo, seja beber, comer, comprar, trabalhar ou outro, a tentativa é sempre a de inundar a mente com outras sensações. Custe o que custar, não podemos parar nunca, pois isso nos faria olhar para o que dói, para o que não é bonito, para o que o nosso ego não gosta de chamar de seu.
E o que acontece com todas essas emoções que negamos, tapamos ou racionalizamos? Elas não vão embora porque simplesmente não há mais espaço para elas. Pelo contrário, tentam se expressar de outra forma. Acumulam-se em algum lugar e bloqueiam a passagem de energia até que nos demos conta de que algo está errado. Por isso vamos fechando o peito e rodando os ombros para a frente como quem defende o coração dos ataques externos. Por isso vamos endurecendo nosso quadril, não permitindo dar passos em frente. Ou por isso nosso joelho dói quando temos que nos ajoelhar e reconhecer nossa pequenez perante o grande esquema da vida. Por isso também nossas costas acumulam tanta tensão, numa tentativa de colocar longe da vista, bem lá para trás, aquilo com que não queremos lidar no momento. E esse são apenas pequenos exemplos.
O que acontece quando começamos a praticar Yoga? Levamos calor, energia, movimento e Prana para lugares de nosso corpo que estavam bloqueados ou adormecidos. Como temos essa semente de expansão espiritual dentro de nós, ou não estaríamos ali, naturalmente vamos percebendo que algo não flui. Pode ser até que ao inicio resistamos, que nossa mente perceba isso como dor (não invalidando as dores da prática, as quais sempre devemos dar atenção), que esse processo dure mais tempo do que gostaríamos e que ao longo dele diferentes emoções surjam, como mágoa ou raiva. Pode ser até que essas sejam tão fortes que nosso instinto é correr e não voltar mais. Mas devemos lembrar que a prática deve ser sempre sátvica, ou seja, nos deixar com a mente mais clara e tranquila do que antes. Se terminamos nos sentindo irritados e impacientes ou pesados e apáticos, precisamos verificar o que está acontecendo, apenas através da observação, já nos permitimos dissolver muito do que está internamente acontecendo. Porque aonde vai a mente vai o Prana. Então aquele bloqueio se enche de energia vital e começa a se desfazer.
Se com os Asanas temos a oportunidade de dissolver nossa carapaça emocional criada por anos, com os Yamas e Niyamas podemos usar essa abertura criada para interagir com nós mesmos e com o mundo de uma forma diferente, que só gerará mais luz, honestidade e generosidade. Removendo esses bloqueios, fica também muito mais fácil começar a queimar os samskaras, essas impressões acumuladas que nos levam a agir de forma condicionada. É como se chegássemos numa interseção e tivéssemos uma trilha aberta, que já fizemos várias vezes e outra menos aberta, pela qual raramente fomos. Naturalmente, muitas vezes sem pensar, enveredamos por aquela que conhecemos melhor, mesmo que nos tenha levado a onde não queríamos. Essa trilha aparentemente mais confortável é o samskara. Seu condicionamento pode ser muito forte e difícil de quebrar. Ás vezes podemos até sentir que com o Yoga estamos indo contra a corrente ou o que é normal. Mas precisamos pensar: Onde queremos chegar? Na liberação? Ser livre não é só fazer o que se quer, não é conseguir sempre ver suas expectativas satisfeitas, mas sim estar em paz com o que quer que aconteça. É estar perante as mil interseções da vida e saber que se está escolhendo a trilha que está mais adequada com o nosso Dharma, com o nosso destino, guiados por Buddhi, e não por nossos Ragas e Dvesas, apegos e aversões, saber que estamos agindo e não reagindo. E ainda assim, seguir nesse caminho com paz no coração, feliz com seu destino seja ele o que esperámos ou não.
Mas isso, realmente não é nada fácil. Até porque além de nossos próprios condicionamentos, temos que lidar com os condicionantes externos. Damos por nós pensando que seria muito menos trabalhoso seguir Yamas e Niyamas, sair dos padrões, se vivêssemos isolados, meditando no alto da montanha. Se não tivéssemos contas para pagar, tarefas para fazer, satisfações a dar. Como viver num mundo que muitas vezes não é nada justo, em que nos relacionamos com pessoas diferentes todo o dia, que trazem seus próprios samskaras sobre os quais não temos nenhuma responsabilidade?
Podemos ver o Ashtanga Yoga como um caminho de oito passos, com um final onde queremos chegar. Mas que destino é esse, se não a verdadeira sabedoria, conhecer quem somos realmente? Será que estamos indo realmente a algum lugar? Ou apenas descobrindo, no sentido de retirar aquilo que cobre nossa essência? Como se, através do discernimento adquirido pela prática, fossemos removendo as diferentes roupagens que vestem nosso verdadeiro Ser. É um processo de limpeza, aprimoramento e entendimento dos diferentes aspetos da nossa vida. Começamos pelos externos, como relações com o mundo pelos Yamas, com nós mesmos através dos Niyamas, com nosso corpo físico pelos Asanas, respiração por Pranayama e sentidos por Pratyahara. Até que chegamos á parte mais interna dessa prática, chamada de Samyama e que inclui Dharana, Dhyana e Samadhi. Esses são três aspetos da meditação, como três fios numa trança, em que não conseguimos falar onde exatamente começa um ou outro. Se os separamos é sobretudo para um melhor entendimento.Hoje em dia, a palavra meditação é muito usada, mas o que significa realmente? Sentar em silêncio, com os olhos fechados? Sem nenhum tipo de preparação, esse é o cenário ideal para que comece um diálogo interno, uma batalha sem cessar entre nossa vontade de meditar e nossos pensamentos sem controle. Exatamente por isso, precisamos dos cinco Angas anteriores, para purificar nossas ações, corpo e mente. Claro que sempre é valido sentar e observar nossa mente, nem que seja para nos darmos conta de como esta é tumultuada e de quanto trabalho ainda temos pela frente se realmente a queremos acalmar. Mas Samyama não é algo que simplesmente possamos sentar e fazer porque o decidimos. Não é uma técnica, mas algo que precisa acontecer naturalmente. Uma melhor tradução poderia ser integração, união. Mas do quê com quê? De nossa identidade pessoal com o objeto escolhido, do eu individual com o Eu absoluto. Parece muito abstrato, mas fica mais claro quando compreendemos suas três partes.
Dharana, ou concentração, é feita quando conseguimos focar num objeto, mas ainda de forma intermitente e variável. Temos percepção do que se passa ao nosso redor e afloram pensamentos que requerem certo esforço para serem afastados, ás vezes até sobre diferentes aspetos do objeto no qual nos concentramos. Surge quando algo prende a nossa atenção, como quando aprendemos a tocar um instrumento musical. Na prática de Asanas é muitas vezes atingido, quando estamos totalmente concentrados nos diferentes aspetos da postura ou da respiração.
Dhyana, também traduzido como foco contínuo, acontece naturalmente quando a concentração se alonga e os pensamentos deixam de aparecer. É muitas vezes comparado a um fluxo de óleo, que corre sem interferências. Também pode surgir em plena prática de Asanas, quando nos tornamos um com a postura. Pode reverter para Dharana, quando, por exemplo, nossa atenção vai para o colega do lado.
Samadhi é um estado de total absorção pelo objeto, em que perdemos nossa identidade pessoal. Inclusive, Patanjali diz que nele, aquilo que é compreendido, o objeto de compreensão e aquele que compreende se tornam um. Tal como Dharana e Dhyana, pode acontecer com diferentes objetos e não somente quando se pratica Yoga. Quando nos perdemos olhando um pôr-do-sol magnifico, quando temos essa sensação de total comunhão com outra pessoa, quando sentimos que deixamos de saber quem somos, num trance hipnótico. A verdade é que passamos por diferentes samadhis na nossa vida, mas são breves, efêmeros e muitas vezes com qualidades baixas, como um estado de consciência alterado induzido por drogas. Para o praticante de Yoga, interessa o Samadhi que traz sabedoria, clareza e luz, característicos de Sattva. Como só semelhante pode gerar semelhante, tal é impossível se usarmos objetos rajásicos ou tamásicos.
Por isso, essa ideia de que o objetivo do Yoga é parar a mente pode confundir muito ao início. Para quê tantas horas de prática, tanto estudo, tanta dedicação para algo que se parece conseguir quando se está absorto em algo, quando se toma um entorpecente? Sim, Yoga é “citta vrtti nirodhah”, a cessação das flutuações da mente, mas não pela mera conquista de dominar a mente ou por chegar a conseguir não pensar em nada, só por si. Tornar a mente calma como um lago em dias sem vento não é um fim em si mesmo, embora seja realmente difícil de alcançar. O que nos importa é o reflexo da luz do Absoluto nesse espelho, que as ondas dos vrttis não nos permitem enxergar normalmente. Trata-se de procurar Rtambhara Prajna, a sabedoria luminosa, pura e verdadeira, que Patanjali diz que vai muito para além do conhecimento obtido em livros e que inicia uma nova vida, em que os samskaras antigos (impressões) são deixados para trás e novos são evitados. Ou seja, a sabedoria que nos permite romper com padrões de comportamento, que muitas vezes nos levam a agir automaticamente, sem benefícios para ninguém. Por isso esse Samadhi sátvico só pode ser atingido por Abhyasa e Vairagya, prática e renúncia. Sem atalhos, sem apegos ou distrações.
Patanjali distingue quatro estágios desse tipo de Samadhi alcançado por Abhyasa e Vairagya. Vitarka é o Samadhi que vem do estudo analítico de um objeto, como pode ser uma imagem, um mantra ou mesmo a respiração. Em Vichara a contemplação é mais sutil, podendo partir desse mesmo objeto mas focando na sua essência. Daí se passa para Ananda Samadhi, em que se é absorvido por um estado de bem-aventurança, felicidade ou jubilo, que advém da total dissolução até dos aspetos mais sutis contemplados em Vichara. Em Asmita, podemos por fim experienciar nossa verdadeira identidade, nosso Ser.
Mas até aqui ainda falamos de uma conquista da mente através da mente, o chamado Sabija Samadhi. Sabija significa com semente, que nesse caso é um objeto de foco. Segundo Patanjali, com confiança e vigor, o praticante pode alcançar o estágio máximo: Nirbija Samadhi. Neste Samadhi sem semente, sem objeto de foco, toda a matéria, Prakritti e consequentemente todos os gunas, inclusive Sattva, são transcendidos. É extremamente complexo falar de Nirbija Samadhi, porque é tentar explicar e compreender através do intelecto algo que vai muito para além dele. Nossa identificação com a mente é tão forte que nos ultrapassa conceber um estado em que suas formas de expressão, os pensamentos, estejam ausentes.
Mas Patanjali dá uma esperança. Ele diz que Samadhi está mais facilmente ao alcance daqueles que são extremamente vigorosos e intensos na prática. Isso não significa uma prática de Asanas ou Pranayama avançados, mas uma total integração de todos os Angas, inclusive Yamas e Niyamas. Pouco vale praticar três horas de asanas belos e complexos se não fazemos das vinte e quatro horas do dia, de toda nossa vida e seus múltiplos aspetos, uma prática de Yoga. Até porque o significado de Abhyasa é uma prática constante e sem interrupções, ou seja, que de nenhuma forma pode ser algo que limitemos a um determinado espaço ou tempo. Relações familiares, amorosas ou de amizade, desafios e obstáculos diários a nossa autodisciplina e valores, a forma como cuidamos, nutrimos e respeitamos nosso corpo e mente, como interagimos com o ambiente em que estamos, tudo são oportunidades para chegarmos mais perto de nossa essência, usando a pureza da mente que queremos cultivar com o Yoga.
Patanjali diz ainda: Ou, podemo-nos entregar a Ishvara. O uso da palavra “ou” (“va”, em sânscrito) já nos traz muito do sentido desse sutra. Porque afinal, se conseguíssemos apenas nos render á vida tal como ela é, sem querer constantemente controla-la, se pudéssemos chegar num tal estado de aceitação que nosso ego não quisesse mais ditar como tem que ser o mundo, se tornaria incrivelmente simples acalmar chitta e enxergar nosso verdadeiro Eu. Se estivéssemos entregues a Ishvara, aquele que é livre de limitações, iríamos para além de nossa própria limitação, das nossas fronteiras imaginárias, criadas somente por nossa mente. Para preencher um vazio existencial que nos assusta, vamos nos identificando com as diferentes projeções dessa mente, tentando compor uma identidade através daquilo que nos atrai ou repulsa, num jogo constante de “isto sou eu”, “isto não sou eu”. Construída essa identidade, nos apegamos a ela como se nossa vida dependesse disso, seguindo pelos mesmos caminhos uma e outra vez, mesmo quando sabemos que no final só nos causam sofrimento. Julgamos que estamos controlando, exigindo que a realidade se conforme à nossa vontade, mas na verdade somos nós os dominados. É o apego a essas falsas identificações que não nos permite simplesmente entregar os resultados de nossas ações a Ishvara. E também por ele, acabamos por precisar de toda essa prática, expressa nos cinco primeiros Angas. Como se fossemos crianças perdidas, a prática de Yoga nos leva pela mão, trazendo-nos constantemente para nosso rumo, lembrando-nos que não há porque causar dano, mentir ou roubar o outro, descuidar do nosso corpo e mente, se afinal tudo é apenas uma expressão de Ishvara.
Isso nos leva de novo a Dharana, Dhyana e Samadhi. Porque precisamos inicialmente de uma semente, um objeto de foco, se a ideia é diluir nossa identidade em algo maior? Exatamente porque estamos tão identificados com nossas próprias limitações que se torna inconcebível percebermos nossa infinitude. Ao contemplarmos um objeto externo, concentrarmos toda nossa atenção nele até transcendermos seus aspetos mais grosseiros e depois até mesmo os mais sutis, chegamos na sua essência. Percebendo então o que realmente É, reconhecemos que também o somos. Dissolve-se assim nossa falsa ideia de separação e chegamos à Unidade. Porém, palavras podem-se tornar obstáculos quando queremos definir o indescritível. É querer mais uma vez delimitar o infinito. Afinal, Yoga é experiência, a teoria é apenas uma base para melhor fundamentarmos nossas práticas em nossas vidas. Saber mais sobre Samadhi pode nos ajudar a desmistificar esse estado mas não nos leva lá. O caminho se faz caminhando, com Abhyasa, mas também deixando para trás o que nos pesa e não serve mais, com Vairagya. Ao mesmo tempo precisamos cultivar Ishvara Pranidhana, fazendo de cada passo uma oportunidade de aprender a entrega e aceitação.
Texto de Olga Rodrigues
Imagens de Taeko