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Uma reflexão sobre o Sūtra 2.1

Uma reflexão sobre o Sūtra 2.1

Uma reflexão sobre o Sūtra 2.1 2048 1365 Kaka

Se engana quem pensa que o Yoga em ação é apenas a prática de asanas (posturas). Que a beleza da prática está na estética performática e que ter uma prática avançada é colocar o corpo em formas complexas.
Para Patanjali, o Yoga em ação envolve a autodisciplina (Tapas), o autoestudo (Svadhyaya) e uma atitude de entrega ao divino (Isvara Pranidhana), (Sūtra 2.1).

Uma prática austera, disciplinada, feita sem interrupções, por um longo período de tempo (Sūtra 1.14), nasce de um profundo desejo de purificar nosso ser por inteiro, alinhando, assim, o nosso agir, a nossa fala e o nosso pensar.

Tapas é o fogo purificador que encontramos quando nos dedicamos de forma disciplinada à uma prática espiritual. É o encarar diariamente nossas dificuldades, fortalecendo nossa mente e nosso corpo, deixando-os mais puros. É mover-se para se transformar, sabendo que toda transformação envolve (em algum nível) um desconforto. Praticando tapas, purificamos nossas ações e estaremos assim, no caminho do Karma Yoga.

Svadhyaya vem de um constante estudo do si mesmo, seja através de uma auto-observação que se faz presente na atenção à todas as nuances e detalhes que fazem parte da prática (o que comi, como dormi, como me movimento no dia a dia, como me relaciono e etc) e como tudo isso nos afeta, seja também em se debruçar nas leituras dos textos sagrados (Bíblia, Bhagavad Gita, Yoga Sutras, entre outros…) que nos aproxima da nossa verdadeira natureza. Colocar nosso coração no entendimento desses ensinamentos, em cada palavra, ler e reler as escrituras pois elas falam, em última instância sobre o Eu. Buscando o conhecimento da verdade do Eu, estaremos praticando Jñana Yoga, e assim, purificamos nossas palavras, pois estaremos adquirindo conhecimento.

Isvara Pranidhana, talvez, seja o mais difícil de pôr em prática, já que envolve uma total entrega ao Divino. Fazer de nossas ações uma oferenda à Deus, ao absoluto (ou como você queira chamar). Sendo assim, quando as ofereço ao Criador, me torno um devoto, não atuo de forma egóica, pois reconheço que tudo vem Dele e tudo pertence à Ele. Fazendo das ações, atos devocionais, orientados pelo Dharma, purifico minha mente e assim, pratico Bhakti Yoga. Nos ajuda nessa atitude de oferecimento à Deus, o cultivo de um altar para nos recordar que há um propósito maior, mais elevado na prática e que ela não está isolada e nem desconectada do Todo.

Então, muito mais do que a estética e a beleza dos asanas, o BELO no Yoga está em uma prática constante e disciplinada, em uma atitude de descoberta do Eu, com o fogo purificador do autoconhecimento onde cada ação é uma ação devocional. Se conseguirmos conectar tudo isso na prática, ela, sem dúvida, será uma prática avançada, pois ser avançado no Yoga, independe da complexidade e da forma externa que o seu corpo se coloca ao fazer uma postura, depende sim da sua conexão e atitude perante a sua prática.