MahaShivaratri
Todos os anos, na Lua Nova do mês hindu Phalgun (fevereiro-março) celebra-se Maha Shivaratri, a grande noite de Shiva, que em 2014 acontece dia 27 de fevereiro. É o momento de venerar o Deus Shiva, onde milhares de hindus cantam versos e hinos, meditam, adoram o Lingam e jejuam durante toda a noite, até a manhã do dia seguinte. É dito que aqueles que celebram esta data com devoção, realizando os rituais, limpam o seu Karma e se aproximam mais de Moksha, a liberação.
Shiva é o Deus da transformação, aquele que destrói o que precisa ser destruído, para dar espaço para a renovação e crescimento. Faz parte da Trindade hindu, em conjunto com Brahma (criação) e Visnhu (preservação). Por isso Shiva aparece como Nataraja, o deus da dança cósmica, que rege o ciclo de criação, preservação e destruição. Diz-se que esta dança, chamada de Tandava, começou neste dia.
É também o Yogi primordial, aquele que passou esse conhecimento a Matsyendra, o Deus dos peixes, para que a humanidade pudesse aliviar seu sofrimento.
A lenda conta que Shiva salvou o Universo do veneno Halahala. Os Devas (Deuses) tinham sido derrotados pelos Asuras (demônios) e foram pedir ajuda a Vishnu. Este lhes recomendou se unirem aos Asuras para agitar o oceano em busca de amrita, o néctar da imortalidade. O Monte Mandara foi usado como bastão e Vasuki, o rei das serpentes, como corda. Tanto agitaram o oceano que vários seres, bens e até a deusa Lakshmi emergiram. Por último, surgiu um pote de Halahala, o veneno com poder para destruir toda a criação. Asuras e Devas procuraram por Shiva, pois ele era o único capaz de engolir aquele liquido tóxico. Por compaixão com todos os seres, Shiva assim o fez. Parvati, assustada, comprimiu seu pescoço para que o veneno não chegasse ao estômago, tendo ficado na garganta e mudado de cor para azul. Dessa forma, Shiva recebeu o nome de Nilakantha, aquele que tem a garganta azul. Por fim emergiu amrita, que Visnhu concedeu aos Devas, restabelecendo a paz. Muitas leituras podem ser feitas desta história, mas quem pratica Yoga com certeza já se sentiu agitado por seus deuses e demônios, tendo que lidar com halahala, o veneno das emoções tóxicas acumuladas, quando na verdade se procurava o amrita, o bem-estar e felicidade. Assim, Vasuki, o rei das serpentes, representa o Shushumna Nadi, o principal canal energético e o Monte Mandara o ego. Esta história nos lembra de que não devemos simplesmente expelir esse veneno, mas antes transformá-lo, tal como Shiva fez. Somente depois dessa transformação podemos usufruir de amrita.
Nesta data auspiciosa também se celebra a união de Shiva com Shakti. Por toda a Índia, mulheres participam das celebrações, orando por uma vida matrimonial harmoniosa ou por um marido com as qualidades de Shiva. Também aqui podemos interpretar de diversas formas, se pensarmos em Shiva como energia masculina, como consciência e Shakti como energia feminina, criadora, vemos que as duas se relacionam e impulsionam a transformação. E não falamos aqui de relação homem-mulher, mas da sinergia entre essas duas forças dentro de cada um de nós. Sem consciência, o poder de Shakti pode ser destruidor, sem a energia criadora, a consciência permanece imutável, inerte.
A Lua Nova por si já é um começo de um ciclo, um retorno a escuridão que tem o potencial criador. Quando abençoada com o poder de Shiva, como no Maha Shivaratri, torna-se um momento particularmente benéfico para a meditação e introspeção. Nestes dois dias, podemos honrar Shiva através de oferendas e cantos como o “Om Namah Shivaya”, ao mesmo tempo que nos recolhemos e ganhamos forças para iniciar esse novo ciclo.
Protegidos pela sabedoria de Shiva, este é momento de nos oferecermos a possibilidade de mudança e transformação, eliminando padrões e situações que não nos servem mais e que impedem nossa evolução.
Para saber mais sobre o Mahashivaratri http://www.mahashivratri.org:
Texto: Olga Rodrigues
Foto: Taeko