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Alimentação

Os Sabores segundo o Ayurveda

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Se alimentar é algo que vai muito além de satisfazer uma necessidade fisiológica. A forma como o fazemos influencia diretamente como nos sentimos, tanto a nível físico como mental. Por isso, á medida que vamos nos estabelecendo na prática do Yoga, vamos aos poucos modificando nossa alimentação. 
Cada vez que comemos, sabores, texturas, cores e temperaturas se combinam e interagem, resultando em experiências distintas. Uma refeição é como uma música de orquestra, em que cada alimento toca sua parte, expressa diferentes timbres, atinge variados tons. Os sabores são uma parte importante dessa composição e para o Ayurveda, a sua importância vai muito além de nos agradarem ou não.
Quando nos alimentamos fazemos uma troca energética com a Natureza e seus cincos elementos: Éter, Ar, Fogo, Água e Terra. O sabor que sentimos não é mais do que a forma como percebemos a proporção de cada um através do paladar. Naturalmente, se um elemento está em maior quantidade no que comemos, também aumentará em nós. 
O sabor doce, por exemplo, traz a energia da Terra e da Água. Não por acaso, as crianças, que precisam exatamente desses elementos para criar estrutura e crescer, são tão atraídos por ele, ou não fosse o sabor do leite materno. Ao comermos muito doce, aumentamos Terra e Água em nós. Por isso aumenta Kapha e nos faz ganhar peso. Também por essa razão, quando nos sentimos muito agitados, recorremos ao doce para nos dar essa sensação de conforto e aterramento. O problema é que num tipo de vida em que corremos e nos preocupamos demais, acabamos por ter uma necessidade excessiva do sabor doce, assim como do salgado. Compondo nossas refeições com base apenas nesses dois sabores, vamos anulando nossa sensibilidade gustativa, procurando que estes sejam cada vez mais fortes. 
4Entretanto, há uma diferença muito grande entre um doce de boa qualidade como o das frutas e o de má qualidade, como o do açúcar e farinhas refinadas. Quando optamos por estes últimos, os efeitos são naturalmente negativos, como apego e ciúmes. Ao mesmo tempo, nossa necessidade de aterramento não é devidamente satisfeita, pelo que tendemos a buscar saciá-la com mais doce, iniciando um ciclo vicioso em que nutrição é substituída por carência. 
Ou seja, cada um dos sabores tem seus efeitos positivos no corpo físico e mental, assim como negativos, quando consumido em excesso. Por isso, no Ayurveda se acredita que a refeição deve ser composta pelos cinco sabores: Doce, Salgado, Ácido, Amargo, Adstringente. Falemos um pouco mais de cada um:
  • Doce: Como dito antes, esse sabor é composto por Terra e Água, sendo frio, pesado e úmido. Aumenta Kapha e reduz Pitta e Vata. Nutre, aterra, dá longevidade e força, constrói tecidos e aumenta Ojas, o néctar que dá imunidade e resistência física e mental. É calmante, promovendo contentamento e conforto. Em excesso, causa obesidade, letargia, diminui a capacidade de digestão e abranda o metabolismo, além de causar doenças Kapha. O doce de boa qualidade está mais presente do que imaginamos, na maior parte das frutas, vegetais como a cenoura e beterraba, grãos e feijões,  adoçantes como açúcar mascavo, melado e mel. Esse é o tipo de doce que devemos incluir na nossa alimentação, tornando nosso paladar cada vez mais sensível às diferentes sutilezas dos sabores. Por aumentar naturalmente Sattva, o Guna que ajuda a tornar nossa mente mais clara e tranquila, este sabor apoia a prática do Yoga. Já o doce excessivamente forte, como o do açúcar e farinhas refinadas, dá uma sensação de energia rápida, mas que logo cai, criando uma adição. Também embota mente e corpo, aumentando Tamas, a energia da inércia e da escuridão.
  • Salgado: composto por Terra e Fogo, tende a agravar Kapha e Pitta, reduzindo Vata. É quente e úmido. Aterra e acalma. Estimula a digestão, realça o sabor dos alimentos, mantém equilíbrio eletrolítico, suaviza tecidos e é um laxativo suave. Quando digerido se transforma em doce, sendo essa mais uma razão para não reduzirmos nossa alimentação a esses dois sabores. Em excesso, causa retenção de líquidos, problemas de pele e rugas.  Agrava Pitta e obstrui os sentidos, gerando apatia e impaciência. Está presente sobretudo no sal, porém devemos evitar o refinado e preferir marinho grosso ou sal de rocha. Este também foi um dia sal marinho, mas ficou preso nas rochas quando o mar baixou e é mais equilibrado por esquentar menos. Outros alimentos com sabor salgado são as algas marinhas e a pasta de Missô.
  • Ácido: este é um sabor quente, úmido e leve, que aumenta sobretudo Pitta mas também Kapha, reduzindo Vata. Traz consigo Terra e Água. É forte e deve ser usado em pouca quantidade. Estimula o apetite, a digestão e a eliminação. Revigora, dá força e desperta a mente. Em excesso, aumenta a sede e agrava Pitta o que origina desequilíbrios naturais desse Dosha, como inflamações, hiperacidez, sensações de queimação e raiva. É encontrado em frutas cítricas, sobretudo o limão, vinagre e comidas fermentadas, como iogurte.
  • Picante: muito quente, é o sabor que mais aumenta Pitta. É composto por Fogo e Ar, agravando também Vata por sua qualidade seca. Ao esquentar e secar é o mais eficaz para reduzir Kapha. Fortalece o Agni, o fogo digestivo, aumentando o apetite e estimulando a digestão, limpa o muco, estimula a circulação, movimenta coágulos e trombos e dissolve obstruções.  Em excesso, diminui a força, aumenta sensações de ardor, queimação e sede. No geral, causa problemas de ordem Pitta, como inflamações. A nível mental pode causar agitação e irritabilidade.  Devemos preferir os picantes mais suaves como o da canela, cravo, noz moscada e gengibre. Picantes fortes como o da pimenta malagueta ou do alho, não só tendem a criar desequilíbrio como aumentam Rajas, o Guna caracterizado pelo movimento e mudança, que na mente cria ansiedade e egocentrismo.
  • Amargo: este é um sabor que normalmente não é muito usado, tido muitas vezes como desagradável. Porém, como todos, tem seus benefícios e deve ser usado com moderação, já que é muito intenso. Composto por Ar e Éter, é frio e seco e agrava naturalmente Vata, reduzindo Pitta e Kapha. Desintoxica, depura e reduz, sendo antibacteriano, baixando a febre e o ardor.  Limpa o paladar e os sentidos. Em excesso, seca demasiado, causando desnutrição dos tecidos, tirando força e originando condições de desequilíbrio de Vata, como constipação, secura excessiva e doenças degenerativas. Também pode levar a depressão e mágoa. É encontrado em folhas verdes como a couve e outros vegetais como alcachofras e jiló. 
  • Adstringente: talvez o sabor menos conhecido e usado, é o que dá a sensação de travar a língua. Isso porque é composto por Ar e Terra, sendo frio, seco e leve. Aumenta Vata, reduz Pitta e Kapha.  Dá firmeza, trata a diarreia, reduz secreções, absorve umidade. Em excesso desidrata, escurece a pele, causa retenção de outras eliminações como no caso de constipação, e outras doenças Vata como as de ordem neurológica. Bananas verdes e romãs são um exemplo de frutas com este sabor.

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Ao inicio pode parecer um pouco abstrata a ligação entre o sabor, os elementos e seus efeitos. Porém, basta pensarmos: quem nunca sentiu o fogo subindo ao comer algo extremamente picante, o nariz desentupindo e os olhos lacrimejando? A secura extrema de uma banana verde? O conforto de um doce? Até a relação sabores-emoções é tão forte e presente nas nossas vidas que faz parte das nossas expressões. Dizemos que certas palavras ou atos são doces, que o preço é salgado, que o momento foi picante, que aquela pessoa amargou. 
 
E a verdade é que quanto mais, através de práticas como o Yoga, desenvolvemos nossa capacidade de auto-observação, mais aprendemos sobre a relação entre o que comemos e como nos sentimos. Seja percebendo que sabores nosso corpo parece pedir, qual deles melhor parece traduzir como estamos no momento, ou usando-os para reduzir algum desequilíbrio, saber mais sobre os sabores se torna uma ótima ferramenta de autoconhecimento. Assim, tanto no prato quanto na vida, ao trazermos atenção para o momento presente, vamos refinando nossa sensibilidade para as diversas tonalidades que antes passavam despercebidas, nos aventuramos a explorar sabores antes desconhecidos e tendemos cada vez mais a fazer escolhas que naturalmente nos apoiam na nossa busca por clareza e paz.
 
 
Texto de Olga Rodrigues
 Fotos de Karim Rojas

Yoga & Alimentação

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Se nos tivessem dito antes de começarmos a praticar Yoga quanto isso iria mudar em nossas vidas, provavelmente não acreditaríamos. Nosso entusiasmo e motivação, o tempo dedicado, novas perspectivas e visões de nós mesmos que nunca antes tínhamos percebido, a forma como esta prática tocou todas as áreas da nossa vida, seja relacionamentos, trabalho ou família. Porque isso acontece? Provavelmente, porque ao nos enfrentarmos no tapetinho cada dia, nos tornamos mais presentes, mais sintonizados com nosso corpo e mente. Isso faz com que percebamos melhor como estes estão naquele determinado momento e como reagem as diferentes situações, buscando as que nos fazem sentir melhor. A alimentação não é exceção e é talvez uma das áreas mais perceptíveis de mudança, tanto para nós quanto para os outros. Talvez porque é algo que fazemos pelo menos três vezes por dia, cada dia, muitas vezes como algo social. Não só começamos a sentir mais claramente os efeitos de certas comidas, como deixamos de conseguir comer outras. Quanto mais nosso corpo e mente vão ficando livres de toxinas, sejam elas grosseiras ou sutis, menos somos atraídos pelos alimentos, situações e relações que nos intoxicam. Essa é uma transição natural e um processo que vai acompanhando o caminho do auto conhecimento.
Mas será que se pode dizer que existe uma alimentação realmente perfeita para praticantes de Yoga? 
Se nossa prática é guiada por uma busca de paz interior, luz, equilíbrio e felicidade, seria lógico que nos nutríssemos com comidas que nos trazem essas qualidades. Ou seja, comidas repletas de Sattva, um dos três Gunas. Sattva, Rajas e Tamas são as energias que mais influenciam a mente. Predominam alternadamente e são aumentadas por diferentes fatores, sendo um deles a alimentação. Sattva é pura luz, é sutil e traz virtudes como benevolência, sabedoria, generosidade e honestidade. Quando prevalece, nossas ações têm como motivação a liberação espiritual, o auto conhecimento e o bem de todos os seres. É como se ao deixar a mente mais limpa e clara, houvesse finalmente espaço para que Buddhi, o intelecto se manifestasse, nos guiando para agirmos mais conscientemente, mais de acordo com o Dharma. O doce é o sabor sátvico por excelência, por ser nutritivo e calmante, mas a alimentação sátvica deve ter os seis sabores (doce, salgado, ácido, amargo, picante, adstringente) em quantidades moderadas.
Os alimentos que mais nos trazem equilíbrio e harmonia, e por isso são mais adequados a pratica de Yoga e meditação, são:
  • Frutas frescas e de estação.
  • A maioria dos vegetais, sobretudo quando frescos e cozidos. 
  • Grãos, sementes e nozes.
  • Leite, queijos frescos e ghee orgânicos.
  • Adoçantes naturais como mel e 
  • Óleos virgens como o de gergelim, coco e oliva.
  • Especiarias, ervas doces e picantes suaves: gengibre, canela, cardamomo, cúrcuma, funcho, coentros e manjericão. 
  • Comida feita com amor e consciência
Por outro lado, devemos pensar em reduzir Rajas, a energia do movimento e mudança, que gera emoções contraditórias, como amor e ódio, aversão e apego. Quando impera sobre nossa mente somos movidos por desejos egoísticos, como a ganância, a ambição desmedida ou a competição. Cria instabilidade, agitação e impaciência.  Os alimentos rajásicos são os estimulantes como café, chá e chocolate, mas também aqueles que contém o sabor picante, ácido e salgado muito forte, como alho, cebola, malaguetas, vinho, picles e vinagre, assim como a maioria dos feijões. Embora estes alimentos não sejam adequados para quem ter uma mente apta para meditação, devemos lembrar que não somos renunciantes, e por vezes precisamos do impulso dado por questões do ego, podendo usar com moderação estes alimentos. Também, podemos aumentar esta energia intensa e brusca para sair de Tamas, que é tão denso que não é sequer influenciada por Sattva. 
marzaTamas é a energia da escuridão, inércia e destruição.  A mente se torna tão carregada e obtusa que caímos na inércia, apatia, estagnação e apego emocional, reagindo e sendo atraídos apenas por estímulos fortes, como filmes violentos. As ações são guiadas pela ignorância, sem atender a noções básicas como a lei causa-efeito. É o típico caso da pessoa que culpa o mundo pelas suas desgraças, enquanto continua a agir da mesma forma, uma e outra vez.  As comidas processadas ou congeladas, conservas, carne, peixe, cogumelos, açúcar e farinhas refinadas, álcool, assim como comer excessivamente, aumentam Tamas, embotando a mente e dificultando o processo de evolução espiritual.
Se queremos ter uma alimentação sátvica, precisamos também pensar nos princípios éticos que são o pilar que sustenta a prática de Yoga. Em primeiro lugar, talvez o mais importante, Ahimsa, não violência. Pensando que semelhante gera semelhante, como podemos querer que um alimento produzido através da morte e dor de um animal possa nos dar tranquilidade e paz? Ahimsa está implícito no conceito de alimentação sátvica pelo simples fato de que não há nada de pacifico, luminoso ou generoso em matar um animal para satisfazer nossa necessidade de nutrição ou prazer, quando há outras formas de a atender. Mas com o progresso da agricultura e indústria pecuária, se formos questionar nossa alimentação com base em Ahimsa, teremos que ir mais longe. Precisamos saber em que condições foram criados os animais que deram leite ou ovos, assim como que impacto teve na Natureza a cultura de determinados alimentos. Não causar dano é um principio que permeia tudo, não se limitando a algumas espécies ou seres vivos. Reflitamos se uma vida inteira passada em condições desumanas, enclausurado e sem nunca ter visto o sol, justifica nosso prazer de comer uma omelete ou um queijo. A mesma ponderação deve acontecer sobre o impacto que têm as monoculturas, o uso de agrotóxicos e transgênicos no planeta e obviamente, na própria humanidade. Por isso, sempre que possível, devemos preferir alimentos orgânicos. Isso é um verdadeiro ato de Ahimsa e amor pelo mundo em que vivemos. 

_mg_7655Ahimsa é também com nós mesmos, devemos comer aquilo que nos faz realmente bem. Parece simples, mas pensemos em quantas vezes procuramos alimentos que sabemos que nos causam dano. Aí entra Tapas, a autodisciplina. Não precisamos ser austeros com o que pomos no prato, mas talvez seja benéfico questionar nossas escolhas, se realmente queremos atingir certo equilíbrio. Isso requer Satya, honestidade, para entendermos quão verdadeiros estamos sendo com nós mesmos.  Talvez se contradizer seja tão humano quanto errar, mas se assumimos o compromisso do auto conhecimento, é também para controlar esses impulsos da mente e do ego e seu consequente sofrimento. Se sabemos por experiência própria que comer cinco brigadeiros nos vai fazer mal, porque o fazemos, esperando que desta vez, só desta vez, isso não aconteça? Não podemos querer fugir às leis do Universo, que regem também nosso corpo e mente.  Quanto mais tentamos compreende-las e adaptar nos a elas, mais harmônica será nossa alimentação, com resultados visíveis no nosso corpo físico e sutil.
O que nos leva a outra questão importante. Se queremos fazer escolhas conscientes quanto a nossa alimentação, precisamos observar nosso corpo, nossa mente, os alimentos que temos ao nosso dispor e o que está ao nosso redor. Por isso, para todos os yogis, vale a pena conhecer um pouco de Ayurveda, usando a auto-observação que cultivamos cada dia no tapetinho. Entre outras coisas, esta ciência enumera alguns atributos que estão presentes tanto em nós como nos alimentos e entorno: quente/frio, úmido/seco, leve/pesado, móvel/lento, suave/áspero, assim como pegajoso e penetrante. Essa classificação pode parecer reduzida, mas nos ajuda a entender que efeito determinada comida vai ter. Essa é afinal, a base de uma alimentação adequada, já cada um tem suas necessidades especificas e individuais que deve conhecer, mais do que seguir listas do que pode ou não comer. Se o dia está frio, úmido e pesado e comemos um sorvete, o que acontece? Essas qualidades aumentam em nós de tal forma que podem chegar a um desequilíbrio, produzindo muco. Ou num dia frio e seco, com muito vento, comemos uma alface tirada da geladeira. Como iremos sentir? Provavelmente mais leves e frios ainda. Se formos praticar no dia seguinte vamos sentir a secura extrema das articulações e a consequente dor. O mesmo se comermos algo muito picante num dia quente. Talvez a irritação posterior seja tanta que nem associemos uma coisa à outra. 
Ou seja, precisamos ter em conta nossa constituição, nossas condições, o clima e até hora do dia. Tal como na nossa prática diária aprendemos a deixar de querer controlar o externo e a fluirmos com o movimento natural de nossos corpos, também na hora de comer podemos entrar na dança dinâmica de constante mudança que é a natureza, da qual obviamente fazemos parte. 
O curioso é que nossa prática de Asanas e Pranayama não só se beneficia com uma alimentação mais adequada, mas também ajuda a consegui-la. Purificarmos diariamente nosso corpo físico e energético, estimulando a circulação sanguínea e linfática, absorvendo Energia Vital ao máximo em cada respiração, removendo bloqueios e limpando nadis, não só nos faz escolher melhor o que pomos no prato como nos faz aproveitar melhor o que comemos. O Udyana Bandha, por exemplo, com seu ênfase na região abdominal, estimula o Agni, o fogo digestivo. E o Mula Bandha, ao equilibrar a ação descendente do Apana Vayu, faz como um fechamento adequado para que o Prana trazido tanto pela respiração quanto pela comida não se esvaia e possa chegar a todos os lugares do corpo.
juicelineAliás, essa deve ser também uma prioridade para quem pratica Yoga: alimentos ricos em Prana, a energia vital que nos dá entusiasmo, criatividade e adaptabilidade. Regra geral, quanto mais frescos e vivos os alimentos, mais Prana contém. Por isso, brotos, folhas verdes e alimentos crus são indicados. Porém, se nosso fogo digestivo não é forte, o Ar e Éter contidos nesses alimentos originam desequilíbrios como constipação, flatulência e até mesmo agitação, medo e insônias. Assim, se quisermos aproveitar o alto conteúdo em Prana destas comidas, precisamos saber primeiro se temos capacidade de as digerir. Se nosso Agni está fraco, ou seja, se temos pouca fome e sentimos desconfortos como sensação de peso, azia ou gases, o que podemos fazer é estimulá-lo com picantes suaves como o gengibre, assim como nos alimentarmos nos horários mais adequados como o meio-dia, de manhã e antes das 8h da noite. Também é necessário que tenhamos Ojas, a quintessência de Kapha que dá contentamento, imunidade e resistência, e que é o veículo de Prana. Para tal, além de cultivarmos uma atitude de devoção, devemos incluir alimentos como amêndoas, tâmaras, mel e ghee, naturalmente ricos e nutritivos.
Yoga é mais do que um exercício físico, de respiração ou concentração, está presente em todas nossas ações, até as mais básicas, como comer. Vivemos a prática de Yoga também quando trazemos nossa atenção para o momento presente, refletindo sobre nossas escolhas, com intenções puras de transformar positivamente nossas vidas. Entendendo que nos alimentarmos é mais uma forma de entrar na dança do Universo, alinhando nossas necessidades com suas leis e valores, escolhendo sempre o caminho que mais gera paz e luz, tanto em nós como no mundo ao nosso redor. 
Texto de Olga Rodrigues
Imagens de Kike Krueger e Marza Tozo

Sementes de Chia

Sementes de Chia 468 450 Kaka

Chia

As sementes de Chia têm ganhado popularidade por aumentarem a sensação de saciedade e ajudarem quem quer perder peso, mas são muito mais do que isso. Usadas há séculos pelos Astecas e Maias, já nestas culturas eram conhecidas como a comida dos guerreiros e dos mensageiros, por aumentarem força e estamina, para além de serem usadas medicinalmente para aliviar dores nas articulações.  Não por acaso, seu nome significa “força”, em uma língua maia.


chiEstas pequenas sementes contêm vitaminas A, B, E e D, duas vezes mais antioxidantes que os mirtilos, seis vezes mais cálcio e quatro vezes mais fósforo que o leite, minerais como cobre, ferro, magnésio e manganésio. Para além disso, têm cerca de 20% de proteína, ainda que sejam pouco calóricas. Mas uma das coisas que torna estas sementes tão especiais é o seu aporte de  Omega 3, um tipo de ácido graxo. Nos últimos tempos tem havido uma tendência de advogar uma dieta sem gorduras. Mas a verdade é que estas são parte importante da alimentação e precisamos lembrar que não são todas iguais ou danosas á saúde. Assim, existem as gorduras saturadas, monoinsaturadas e as poli-insaturadas. O que isso significa? As gorduras saturadas são compostas por ácidos graxos, em que cada átomo de carbono está conectado ao máximo de átomos de hidrogênio possível, estando por isso saturado. São normalmente de origem animal, como a manteiga e aumentam o nível de LDL, o tipo de colesterol que cria placas de arteriosclerose. As gorduras insaturadas são compostas por ácidos graxos em que nem todos os átomos de carbono estão ligados ao máximo de átomos de hidrogênio possível, podendo ser monoinsaturadas ou poli-insaturadas. São exemplo disso os óleos vegetais. O Omega 3 é um ácido graxo poli-insaturado e é chamado essencial, já que apesar de necessário, o corpo não consegue produzir. É normalmente encontrado no peixe, mas para quem é vegetariano, consumi-lo em sementes como a Chia é uma ótima opção, já que tem 8 vezes mais Omega 3 que o salmão. Os sintomas de deficiência deste ácido graxo incluem fadiga, memória fraca, pele seca, problemas cardíacos, flutuações de humor e depressão. Para termos uma ideia da sua importância, basta olharmos para seus benefícios:

  • Reduz nível de triglicerídeos e aumenta HDL, o chamado colesterol bom, que elimina os depósitos de gorduras nas artérias.
  • Reduz inflamação.
  • Melhora saúde das articulações, reduzindo a rigidez associada com artrite e osteoartrite.
  • Ajuda a absorver cálcio, promovendo a saúde dos ossos.
  • Protege células nervosas, que contém gordura na sua estrutura, melhorando seu funcionamento.
  • Mantém a pele saudável, aliviando sintomas de acne e psoríase.

chiaDuas colheres de sopa de sementes de Chia têm ainda 42% da dose diária recomendada de fibra, que ajuda desintoxicar e manter saudável o cólon. No entanto, se as consumirmos secas, elas absorverão a água nosso sistema digestivo, pelo que devem sempre ser hidratadas por 20 minutos.  Quando o fazemos, elas incham e formam uma espécie de gel, o que não só dá uma sensação de saciedade, reduzindo a vontade de comer alimentos pouco saudáveis, como pode ajudar a prevenir a desidratação. A textura mucilaginosa decorrente da hidratação faz com que seja ainda um ótimo substituto de ovos em tortas e bolos. Para cada ovo, deve ser colocada uma colher de sopa de sementes de chia em três de água, deixando de 15-20 minutos. Da mesma forma, quando adicionadas a smoothies ou vitaminas, dão uma textura mais cremosa, ao mesmo tempo em que fazem destes uma bebida mais saciante e completa. De sabor leve, as sementes hidratadas podem ainda ser adicionadas a saladas de frutas, sucos, pães, bolos e tortas ou mesmo comidas sozinhas. Quanto à dose, esta deve ser aumentada gradualmente, mas pode chegar a quatro colheres de sopa por dia.

Com todas essas propriedades, não é de admirar que os povos Maias e Astecas considerassem estas sementes tão pequenas e aparentemente comuns, como mágicas. Por serem ao mesmo tempo tão poderosas e versáteis, podemos facilmente incluí-las na nossa alimentação diária, provando por nós mesmos porque receberam esse nome. 

Texto de Olga Rodrigues

 

Cúrcuma

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Cúrcuma
Usada há milhares de anos na Ásia, seja como condimento seja como erva medicinal, a Cúrcuma é mais uma SuperFood que pode melhorar muito nossa saúde e bem-estar. Um rizoma da família do gengibre, tem um amarelo forte e sabor entre o picante, amargo e adstringente.
É rica em magnésio, ferro e vitamina B6, mas o que a torna tão especial é a curcumina, um anti-inflamatório tão potente quanto alguns medicamentos alopáticos.  A inflamação é uma resposta natural do corpo e necessária, mas gera vários desconfortos e quando se torna crônica pode originar doenças.  A curcumina atua seletivamente no grupo das Prostaglandinas, um grupo de substâncias químicas que nosso corpo produz quando ocorre uma inflamação. Atua especialmente sobre a Prostaglandina 2, responsável pela dor. Por isso, esta SuperFood é também um poderoso analgésico.  É tão eficaz que pode ser usada na artrite, artrite reumatoide e osteoartrite, assim como em lesões e traumas. Também é útil em casos de rigidez muscular, aumentando a flexibilidade e protegendo tendões e ligamentos. Isso, em conjunto com a diminuição da inflamação, a torna um ótimo complemento para quem tem uma prática de asanas frequente. 
A Cúrcuma é também um forte antioxidante, ou seja, neutraliza os efeitos dos radicais livres no organismo. Estes são átomos ou parcelas moleculares que, com um número deficiente de elétrons, se tornam instáveis, indo pelo corpo pegando ou doando elétrons e danificando as células. É o mesmo processo oxidativo que faz apodrecer as frutas e enferrujar o metal. Podem vir tanto de processos internos como a inflamação como por alimentação incorreta, consumo de álcool e poluição. Ou seja, ninguém está realmente livre de seus efeitos e seus níveis estão associados com envelhecimento precoce e doenças como câncer e cardiovasculares. Por isso a importância de consumir antioxidantes. 
Além disso, esta especiaria vem surpreendendo a ciência com sua eficácia, tanto na prevenção, quanto no tratamento do câncer. Não por acaso, na Índia, onde é largamente consumido, a taxa de câncer é muito menor que nos países ocidentais. Não só neutraliza substâncias e condições que podem causar câncer, como ajuda as células a manter sua integridade depois de atacadas por esses carcinógenos. Nos tumores instalados, inibe a replicação das células e a formação de novos vasos sanguíneos no local, assim como possíveis metástases. 
Mas a lista das suas propriedades continua:
  • Protege e auxilia na função do fígado, o órgão que desintoxica o sangue, destruindo hemácias e removendo toxinas.
  • Estimula a digestão e o metabolismo, tem um efeito carminativo (reduz gases) e melhora a flora intestinal. Isso é especialmente importante se pensarmos na visão ayurvêdica, em que uma boa digestão é a base essencial de um organismo saudável.
  • Purifica e movimenta o sangue, removendo sangue estagnado.
  • Diminui cólicas menstruais, regula a menstruação e auxilia no tratamento de miomas.
  • Ajuda na produção de leite materno.
  • Protege contra doenças neurodegenerativas como o Alzheimer.
  • Melhora função do endotélio, a camada interna de células dos vasos sanguíneos e linfáticos.
  • Tem ação antibacteriana, estimulante, diurética, antisséptica e anti-helmíntica.
  • Diminui o risco de arteriosclerose, prevenindo a formação de placas e reduzindo o colesterol.
  • Reduz Kapha, diminuindo assim a produção de muco e auxiliando no tratamento de doenças do trato respiratório como gripes, sinusites e bronquites. 
  • Externamente, nutre e purifica a pele, tratando doenças como a acne. 
  • Para aliviar dores pode ser feita uma pasta com duas partes de cúrcuma para uma de sal, misturando com água até formar uma pasta e aplicando por 20 minutos. Mas, atenção, essa aplicação mancha temporariamente a pele e por tanto, deve ser usada em regiões onde isso não tenha problema.
A cúrcuma pode ser adicionada em pó a qualquer comida, dando uma cor vibrante a preparados com vegetais, arroz ou ovos. No entanto, é mais potente fresca, podendo ser feito uma infusão ou adicionada crua, a sucos. Pesquisadores da St. John Medical College de Bangalore descobriram que a absorção da curcumina é potencializada em 2000% se adicionada a piperina, contida na pimenta-do-reino preta. Curiosamente, tal como a cúrcuma, esta é uma especiaria que quase sempre faz parte de currys e masalas na culinária indiana. 
Uma ótima receita para dias frios, que nos ajuda a prevenir gripes e resfriados, assim como qualquer tipo de inflamação é o Leite de Cúrcuma:

  • 1 xícara de leite de vaca orgânico, de amêndoas, aveia ou qualquer outro á escolha
  • 1 colher de chá de cúrcuma
  • 1 pitada de cardamomo
  • 1 pitada de gengibre em pó
  • 1 pitada de canela
  • 1 pitada de pimenta-do-reino preta
  • 1 colher de chá de mel


Esquentar o leite e adicionar os ingredientes, misturando para não ficar com pedaços. Tanto a cúrcuma como o gengibre podem ser usados na forma de raiz cortada em fatias bem finas. Nesse caso, coar o leite antes de servir.

Considerada auspiciosa, a Cúrcuma tem ainda o poder de purificar os chakras e o corpo sutil. Isso, em conjunto com suas ações no corpo físico, faz desta raiz uma SuperFood especialmente importante para conseguirmos alcançar o ideal de sthiram sukham (o asana confortável e estável).
Texto de Olga Rodrigues 
Imagens Taeko

Agni: o fogo digestivo

Agni: o fogo digestivo 150 150 Kaka
Agni
Se nosso corpo é um templo, no centro dele está a chama do altar para Agni Deva, o Deus do Fogo, que tem o poder de purificar aquilo em que toca.  A força, luz e calor dessa chama dependem das oferendas que fazemos e de quanto nos esforçamos para mantê-la acesa. 
Isso é mais do que uma metáfora: o Agni, nosso fogo digestivo, realmente tem as qualidades de uma fogueira. É quente, aromático, seco, penetrante e leve. Com liquido frio ele se apaga, com alimento em excesso é abafado e se está forte demais termina rápido, reduzindo tudo a cinzas. É a inteligência que seleciona o que vem do mundo, separando o que vale e nos nutre do que deve ser eliminado. Sem ele, não teria como tirar de cada alimento proteínas, hidratos de carbono, gorduras, vitaminas e sais minerais. Falamos aqui do Agni do sistema digestivo, o Jatharagni, mas na verdade existem vários Agnis, em todos tecidos e células. Mesmo a mente precisa de um fogo que digira as impressões que captamos ou ficaríamos tão absorvidos por elas que seria difícil viver. É ele que seleciona aquilo a que devemos prestar atenção, já que são milhares de informações que entram pelos nossos sentidos a cada momento. O mesmo acontece com as emoções: precisamos digeri-las para avançar, se não ficaríamos constantemente presos ao que aconteceu há anos atrás. Agni é transformação.  Por isso é tão importante que esteja equilibrado, só assim cada alimento ou impressão se poderá transformar naquilo que nosso corpo e mente necessitam. Podemos comer a refeição mais saudável de todos os tempos, tudo orgânico e fresco, se passar pelo nosso corpo e não for digerido, de que nos serve?
Mas como saber se nosso fogo está com a chama no ponto certo? Tem vários fatores que o indicam, só precisamos observar como nosso corpo reage à comida ou falta dela. Se o Agni está equilibrado, nos sentiremos energizados e satisfeitos após uma refeição, sem qualquer desconforto. Após 2 horas, estaremos com o estomago vazio, sinal que a refeição foi digerida corretamente. As eliminações serão regulares e bem formadas. Teremos fome de verdade, aquela que vem acompanhada de uma sensação física e não somente vontade de comer.  Esse apetite virá em horários certos: leve de manhã, forte ao meio-dia e médio no final da tarde. O Agni tem toda uma relação com o Sol e por isso mesmo é mais intenso quando este está a pico e mais leve quando este está subindo ou se pondo.  
Um Jatharagni equilibrado tem um efeito geral no corpo. Sem essa primeira digestão feita corretamente, todos os outros tecidos ficariam deficientes. Ao mesmo tempo, dá também uma sensação geral de bem-estar. Quem sofre de constipação ou gastrite constantemente sabe que isso afeta diretamente o humor. Faz sentido, se pensarmos que a região abdominal é exatamente a do chakra do plexo solar, o Manipura Chakra, que governa a autoestima e a força de vontade. Quando a energia pode fluir livremente por esta área, nos sentimos mais confiantes e seguros.
Por outro lado, o corpo chama a nossa atenção para o fato de o Agni não estar funcionando corretamente quando depois de uma refeição nos sentimos enjoados, cansados, com a barriga dilatada, azia ou gases. Ás vezes esses desconfortos se tornam algo tão recorrente que os vemos como naturais, mas se trata apenas de um desequilíbrio constante. A consequência disso é a formação de Ama, o conjunto de toxinas (como o colesterol) acumuladas pela digestão incorreta dos alimentos. Do sistema digestivo, Ama se propaga para outros tecidos e células, sendo uma das principais causas de doença. É o resíduo que fica na chaminé, entupindo a saída do ar.  É o oposto do Agni: frio, denso, pegajoso e de odor fétido. Quando está presente, a língua fica com uma camada espessa esbranquiçada ou amarela, hálito, suor e eliminações com odor forte e desagradável, as fezes afundam no vaso, temos falta de apetite, depressão e fadiga. 
Mas o Agni em desequilíbrio não é sempre igual, tem três padrões: Vishana, Manda e Tikshna. Vishana Agni é aquele fogo variável, soprado por lufadas de vento, acendendo e apagando constantemente, mais comum em pessoas com constituição Vata. O apetite é muito irregular, sendo que ao meio dia pode ser tão pouco que a pessoa se esquece de comer, mas voltando em horários inapropriados, como a meio da noite. Essa irregularidade aumenta Vata, causando gases.  Manda Agni é aquela fogueira feita com lenha úmida, que parece não pegar nunca e que se mantém constantemente baixa. É mais comum em pessoas de constituição Kapha, que costumam ter um apetite leve mas constante, podendo comer a qualquer hora do dia, muitas vezes por questões emocionais ou sociais (afinal, esse Dosha está muito ligado ao afeto). O metabolismo é lento e a digestão se arrasta por demasiado tempo, dando sensação de peso e náuseas. Já Tikshna Agni é aquele fogo que queima tudo e apaga rápido. É mais comum em pessoas de constituição Pitta, que têm um apetite voraz e um metabolismo rápido. Ficam irritadas quando não comem, exageram na quantidade de comida mas têm fome passado uma hora. O problema é que os nutrientes não são devidamente digeridos e surge azia, queimação e gastrite. 
Então, como equilibrar o Agni? Seguem algumas dicas:

  • Como foi dito antes, é importante comer de acordo com o ciclo natural, fazendo a maior refeição do dia entre o meio-dia e as duas horas da tarde. O jantar deve ser leve e antes das oito horas da noite. Se no levantamos todos os dias cansados e sem energia, mesmo tendo dormido horas suficientes, pode ser por jantarmos demasiado ou muito tarde. Em vez de repousar, nosso corpo precisou ficar trabalhando para digerir a última refeição. Um provérbio indiano diz: Coma de manhã como um príncipe, ao almoço como um rei e ao jantar como um monge. 
  • Nosso sistema digestivo precisa de um tempo para digerir o que comemos. Se petiscamos constantemente o levamos á exaustão. Por isso, devemos comer somente quando temos fome. Talvez isso vá contra aquilo que sempre escutou, mas se trata mais de seguir a sabedoria do corpo do que seguir um conjunto de regras fixas. 
  • Não devemos comer quando estamos estressados, agitados ou rodeados de estímulos como a televisão. Quando mais tranquilo estiver nosso entorno e nossa mente, mais Agni Deva se sentirá respeitado e mais se apresentará.
  • Muito liquido junto com a comida, bebidas ou alimentos gelados apagam o Agni e devem ser evitados.
  • Pouca lenha não deixa o fogo acender, muita o abafa. Para saber a quantidade ideal de comida, basta colocar as duas mãos em concha e imaginar uma porção que ali caiba. Parece pouco, mas gradualmente vamos aprendendo a não terminar a refeição somente quando nosso estômago está completamente cheio. Segundo o Ayurveda, devemos preenchê-lo com dois quartos de comida, um de liquido e um de ar. 
  • Quanto mais frescos os alimentos, mais Prana têm. Por isso, sempre que possível, devemos evitar comida processada, guardada na geladeira por muito tempo ou congelada.
  • Comer de acordo com nossa constituição e clima é fundamental para equilibrar o Agni. Para isso, precisamos observar os atributos: se, por exemplo, o tempo está úmido, pesado e frio ou se já temos uma constituição Kapha, devemos evitar alimentos com as mesmas características, como um sorvete ou uma vitamina de banana.
  • As especiarias e ervas aromáticas estimulam o Agni, facilitando a digestão. Alguns exemplos são: gengibre, cominhos, coentros, cardamomo, manjericão, cúrcuma, asa fétida e pimenta negra ou caiena.
  • Quem tem Tikshna Agni, um fogo exacerbado, deve evitar o sabor picante.
  • O gengibre é considerado pelo Ayurveda o “remédio universal”, por suas propriedades e versatilidade. Tomar chá de gengibre antes e depois das refeições ajuda na digestão. Para casos em que o Agni está muito fraco pode ser tomada a seguinte mistura, meia hora antes das refeições: um pedaço de gengibre ralado e espremido, a mesma quantidade de suco de limão, uma pitada de sal e uma colher de chá de açúcar mascavo.

Muitas vezes nos queixamos que não temos tempo para fazer um ritual diário que nos aproxime mais do Absoluto. Mas nos esquecemos de que pelo menos três vezes por dia oferecemos a comida a Agni Deva, mensageiro dos outros deuses. Rendermo-nos a suas leis e deixar de lutar contra relação causa-consequência (se comemos muito tarde, acordamos cansados, por exemplo), é mais uma oportunidade de ganhar humildade perante as leis do Universo. Para além disso, este é um Puja para o qual não precisamos de nada de especial, somente nossa concentração e gratidão por nos podermos alimentar. Ao fazermos da refeição um ato de devoção, entregamo-nos ao divino que está dentro de nós.
Texto de Olga Rodrigues
Imagens do casal Taeko & Tom Spindola

Maca

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Raiz de Maca

A SuperFood deste mês é uma raiz que tem ganhado popularidade por promover saúde, energia e beleza. Com origem no Peru, é consumida regularmente pela população local há mais de 5000 anos. O seu nome é Maca e pertence ao grupo dos adaptógenos, tal como Ashwaganda e Ginseng. 
O que isso significa?  O nome adaptógenos vem do fato de estas plantas auxiliarem o organismo a se adaptar ás diferentes condições externas. Ao longo do dia, passamos por momentos com graus variáveis de atividade, assim como de estresse físico e emocional, a que o nosso corpo precisa responder para manter a homeostase, o equilíbrio constante e necessário. Ao ajudarem o organismo a restabelecer seus níveis normais, estas plantas são uma fonte de energia, mas não da mesma forma que os estimulantes. 
Quando consumimos cafeína ou mesmo açúcar, por exemplo, o que acontece é que temos um pico energético que logo baixa, fazendo nos sentir mais cansados ainda do que anteriormente. Logo temos que consumir mais para nos mantermos ativos. O que essas plantas têm de especial é que a energia dada por elas se mantém num nível estável e ajustado as nossas necessidades, ou seja, não nos vão manter acordados noite a dentro se precisamos descansar. Isso porque atuam diretamente no eixo glandular Hipotálamo-Hipófise-Suprarrenais. 
Estas últimas, também chamadas de adrenais, são duas glândulas que se encontram acima dos rins e que secretam Adrenalina, Noradrenalina e Cortisol, o chamado hormônio do estresse. Este aumenta naturalmente em situações de emergência, sendo um poderoso anti-inflamatório (é a famosa cortisona), aumentando a pressão arterial e a glicose no sangue ao estimular a quebra de proteínas e gorduras. Essa é uma resposta fisiológica e necessária. Quando acontece pontualmente, os níveis hormonais se restabelecem sem mais consequências. 
Mas tudo o que é demais se torna prejudicial. Quando sofremos um estresse contínuo, os níveis de cortisol permanecem altos, tendo várias repercussões para nossa saúde.  E como com qualquer substância química, o corpo se habitua a ela. A sobre-estimulação das suprarrenais provoca ansiedade, depressão, insônia, aumento de peso, vontade insaciável de comer alimentos salgados, doces ou gordurosos, fraqueza muscular, imunidade baixa, libido fraca, problemas digestivos e doenças cardiovasculares. O que é fácil de imaginar, se pensarmos que o corpo fica em constante estado de alerta, sempre preparado para “fuga ou luta”. Um estilo de vida sedentário, com pouco exercício físico, com alta atividade mental, sentimentos estressantes como o medo e consumo de estimulantes como a cafeína, contribuem para níveis altos de cortisol. Ao reverter ou evitar os sintomas do nível elevado de cortisol, os adaptógenos como a Maca podem se tornar poderosos aliados para o dia a dia, protegendo e restaurando diariamente o equilíbrio do nosso corpo.


Para além disso, a Maca:
  • É nutricionalmente densa, providenciando aminoácidos, vitaminas do complexo B, C e E, minerais como cálcio, magnésio, zinco e fósforo. 
  • Tem também bastante ferro, combatendo a anemia.
  • Regula e auxilia no ciclo menstrual, diminuindo cólicas e TPM. 
  • Diminui os sintomas da menopausa como os picos de calor e a ansiedade.
  • Aumenta fertilidade e libido, tanto em homens como mulheres.
  • Aumenta resistência e estamina. Se for complementada com exercício físico, ajuda a desenvolver massa muscular.
  • Ajuda a estabilizar o humor, atenuando a depressão e ansiedade, dando também mais concentração e foco mental.
  • Estimula a síntese de colágeno, tornando a pele mais firme e suave, assim como o cabelo mais forte.

Com um gosto ligeiramente amargo, como de cereais maltados, mas suave, pode ser adicionada a vitaminas ou sucos diariamente. Como com as outras SuperFoods, a dose deve ser aumentada gradualmente, já que o seu impacto no sistema hormonal pode ser forte. Pode-se iniciar com uma colher de chá e ir até uma colher de sopa por dia. Por aumentar os níveis de energia é preferível que seja consumida de manhã ou no inicio da tarde, embora como foi dito antes, não tenha o efeito de um estimulante. Gestantes e mulheres amamentando devem consultar com seu médico sobre se é adequado consumir Maca nesse período. 
Com todas essas propriedades e seu efeito geral no corpo, a Maca se torna um ótimo complemento para quem tem uma prática de Asanas diária e consistente. É curioso que, em diferentes escalas, ambas tenham em comum nos darem mais energia e disposição para nos adaptarmos as inevitáveis mudanças que ocorrem no mundo ao redor, em vez de precisarmos que este se adeque as nossas necessidades.   
Texto de Olga Rodrigues

Fotos de Taeko

Clorella & Spirulina

Clorella & Spirulina 150 150 Kaka

Super Foods: Clorella e Spirulina
As Super Foods desse mês são duas algas de tamanho tão pequeno que fica difícil acreditar que contenham tantos nutrientes. Falamos de Clorella e Spirulina. As duas são compostas por uma única célula, com a diferença que a primeira é revestida por parede celular e a outra não. Seus benefícios são muitos e se assemelham. 
Quando olhamos pela primeira vez para estes alimentos, o que vemos é sua forte cor verde. Esta se deve a clorofila, presente também em vegetais de folhas verdes como a couve. Esse nutriente ajuda na oxigenação do sangue, desintoxica fígado e intestino, combate inflamações e infecções, ajuda a manter a pressão arterial em níveis saudáveis e estimula o crescimento e reparo dos tecidos. Promove ainda uma flora bacteriana benéfica, que é fundamental para manter o corpo com saúde. Não por acaso o Ayurveda dá tanta importância ao funcionamento do sistema digestivo.
Uma das propriedades mais importantes da clorofila é o poder de alcalinizar o pH do nosso organismo. O que isso significa? pH diz respeito a potencial de Hidrogênio e quanto mais baixo o seu número, mais este elemento está presente, provocando acidez. Da mesma forma, quanto mais alto, menos hidrogênio e mais alcalino está o meio. O pH ideal do nosso corpo é de cerca de 7,3, ou seja, ligeiramente alcalino, mas nossos hábitos muitas vezes o acidificam, resultando em alergias, asma, resfriados, dores de cabeça, de músculos e articulações, inflamações, problemas de pele e ganho de peso. Em longo prazo, essa acidez pode gerar doenças degenerativas como o câncer e a artrite. Entre causas de diminuição do pH está o consumo de café, açúcar, carne, álcool e alimentos processados, bem como estresse e outros fatores ambientais. O poder alcalinizante dessas duas algas equilibra essa tendência acidificante do estilo de vida moderno.
Outro componente importante dessas duas Super Foods é o alto conteúdo de proteína. Enquanto a Clorella tem cerca de 50% deste nutriente, a Spirulina tem 75%, o que não acontece nem mesmo com a carne.  Extremamente ricas em ferro, ajudam ainda a prevenir ou combater a anemia. Assim, estas duas algas se tornam aliados perfeitos para vegetarianos, garantindo o aporte necessário tanto de proteínas como de ferro, dois componentes que se não forem cuidados podem estar em falta na dieta vegetariana. Para além disso, são repletas de vitamina A, C, D, E e do complexo B, assim como minerais essenciais como magnésio, cálcio e potássio. É comum escutar que são também ricas em vitamina B12, que geralmente só se encontra em produtos de origem animal. Porém, a B12 encontrada nestas algas não é digerida, o que impede sua absorção.
Algumas outras propriedades são ainda atribuídas as duas Super Foods, tal como: fortalecimento do sistema imunitário, controle do balanço hormonal, aumento da capacidade de foco e concentração, normalização da glicose no sangue e elevação dos níveis de energia.
Mas algumas coisas são únicas em cada alga. O que torna a Clorella especial é a capacidade de remover toxinas e metais pesados como o mercúrio, do corpo. Estes são difíceis de evitar, já que estão na alimentação, na água e até nas vacinas. Alguns dos sintomas de acúmulo crônico destes metais são: fadiga, problemas digestivos, articulações dolorosas, depressão e problemas reprodutivos femininos. Inclusive, os níveis elevados de metais pesados no sangue têm sido relacionados com o autismo. A questão é que mesmo que evitemos alimentos ou água com metais pesados dificilmente conseguimos remover os que já estão no corpo, sendo a Clorella um dos poucos alimentos que têm essa propriedade. 
Já a Spirulina, para além do seu conteúdo maior em proteína, tem ainda componentes que a diferenciam. Um deles é o fósforo, mineral importante na remineralização dos dentes. Os outros são os ácidos gordos essenciais, como o Omega 3 e 6, assim como GLA (ácido gama linolênico), que é um anti-inflamatório.
Bom, mas como introduzi-las na alimentação? Algumas pessoas se acostumam com o sabor, mas a verdade é que é forte e para muitos desagradável. Por isso, muitas vezes a opção é tomar em cápsulas ou comprimidos. Só que para ingerir a mesma quantidade de uma colher de sopa cheia são precisos muitos comprimidos. Então, uma alternativa pode ser ir introduzindo pequenas quantidades em sucos ou vitaminas, aumentando uma colher de chá de cada vez até o sabor se tornar mais aceitável. Essa introdução gradativa é importante também para evitar que o seu poder desintoxicante provoque desconfortos como náuseas ou diarreia, que podem acontecer quando o corpo está muito carregado de toxinas e tenta livrar-se delas rápidamente.  Assim, aos poucos, a quantidade diária pode ser aumentada até chegar entre 1 e 5 gramas.

Com tantas propriedades e pensando que podemos ter todos esses benefícios com uma colher de sopa ao dia, não é difícil entender porque receberam o nome Super

Foods. Afinal, raros são os alimentos que concentram tantos nutrientes em tão pouca quantidade e com aporte calórico tão baixo. Quem experimenta realmente sente como fica com mais energia, mais resistência a doenças e como o corpo parece mais leve quando tem menos toxinas. No entanto, não se trata de substituir outros alimentos como vegetais, grãos e sementes, que esses sim devem ser base da nossa alimentação. Pensemos nas SuperFoods como aliados e não como substitutos ou alternativas para as refeições.

Texto: Olga Rodrigues
Imagens: Google


Coco – Super Alimento

Coco – Super Alimento 150 150 Kaka

Coco

Começamos nossa série de SuperFoods com o Coco, essa fruta tão brasileira, que para além de ser muito rica em nutrientes ainda tem muita versatilidade, podendo ser consumida em diversas formas.
O coco faz parte da cultura de vários países dos trópicos, sendo por isso uma das SuperFoods mais espalhadas e consumidas pelo mundo. Seus usos e benefícios são tantos, que na Índia é uma das árvores chamadas de Kalpavriksha, a árvore divina da vida. 
Água de Coco
Extraída dos cocos verdes,  é um liquido claro, estéril, com sabor doce e refrescante. Algumas das suas propriedades:
  • Isotónica: contém a mesma proporção de eletrólitos como potássio, sódio e cálcio que o plasma humano e por isso é uma ótima bebida para tomar após esforços físicos em que suamos, sendo muito superior a bebidas como o Gatorade, por não ter corantes, conservantes ou adoçantes artificiais. 
  • A reposição de eletrólitos, sobretudo o Potássio, não só ajuda na hidratação como na função cardíaca e nervosa, ajudando a prevenir cãibras e espasmos musculares.
  • Fonte de vitaminas do complexo B.
  • Contém enzimas que auxiliam na digestão e metabolismo.
  • Baixa em calorias.
  • Diurética.
  • Rica em citocininas, que protegem as células contra o envelhecimento.
  • A Ayurveda considera que acalma Vata mas sobretudo Pitta, reduzindo agravos Pitta como sede excessiva e gastrite. Também é considerada boa para o coração, para ganhar força, combater pedras nos rins e aumentar a contagem de esperma.
Óleo de Coco
Um verdadeiro milagre da Natureza, pode ser utilizado de várias formas, tanto na alimentação como no cuidado da pele, cabelos e dentes e deve ser preferido virgem, de extração a frio. Considerado pela Ayurveda um dos melhores óleos para pessoas com constituição ou agravos Pitta, é uma gordura saturada composta por antioxidantes, ácido láurico, ácido cáprico e ácido láprico. 
Escutamos várias vezes que as gorduras saturadas são prejudiciais, porém o óleo de coco é uma exceção. Isso porque os ácidos dos quais é composto são de fácil digestão. Explicando melhor, as gorduras são compostas por cadeias de carbono e hidrogênio que podem ser curtas, médias ou longas. A maior parte das gorduras têm  triglicerídeos de cadeias longas mas as do óleo de coco são de cadeia média, o que faz com que sejam mais facilmente metabolizados pelo fígado e utilizados como energia, em vez de serem armazenados em forma de gordura. Desta forma, não só é uma gordura segura para quem tem problemas de colesterol como ajuda a perder peso.  A outra vantagem é que ao contrário dos óleos com triglicerídeos de cadeia longa, o óleo de coco pode ser aquecido sem perder suas capacidades antioxidantes e sem produzir substâncias tóxicas. 
As suas propriedades e formas de uso são várias:
  • Acelera o metabolismo e ajuda a queimar gordura.
  • Melhora a função mental, quando o cérebro recebe energia extra em forma de cetonas, produzidas pela conversão dos triglicerídeos.
  • Cura infecções por Cândida.
  • O ácido láurico, encontrando somente no leite materno, reforça nosso sistema imunitário. Tem propriedades bactericidas, anti virais e fungicidas, ajudando nosso organismo a se livrar de várias doenças.
  • Auxilia no funcionamento da tireoide, responsável pelo metabolismo e crescimento.
  • Aumenta a absorção de cálcio e magnésio, contribuindo para dentes e ossos fortes.
  • Diminui a resistência a insulina, ajudando no controle do Diabetes.
  • É um dos melhores óleos para cozinhar, a par do Ghee, por não produzir resíduos perigosos quando aquecido. Pode ser usado para refogar vegetais, em bolos e pães ou cru em vitaminas.
  • Na pele funciona como hidratante,  tem uma ação anti envelhecimento e trata problemas como eczema e psoríase.  Pode substituir perfeitamente cremes e loções artificiais.
  • É um ótimo óleo de massagem, especialmente para pessoas de constituição Pitta ou para dias quentes. 
  • Massageado no topo da cabeça alivia o stress.
  • Amacia o cabelo, fornece proteína, ajuda no seu crescimento e elimina caspa. Pode ser colocado antes da lavagem ou como condicionador.
  • É um bom bálsamo para lábios.
  • No cuidado dos dentes, pode ser usado como parte de um dentífrico natural ou como óleo usado no Oil Pulling. Esta é uma técnica ayurvédica, em que uma colher de óleo é passada pela boca por 20 minutos, removendo  bactérias e toxinas, a que se atribui diversos resultados como dentes mais brancos, melhor hálito, gengivas mais fortes e um efeito desintoxicante em todo o organismo.
O coco pode ser ainda consumido cru, na forma de leite, manteiga, açúcar ou farinha. Esta última é rica em proteínas, fibras, manganésio e ácido láurico, não contendo glúten. Algumas receitas:
Leite de coco
½ xícara de coco ralado fresco
1 xícara de água fervente
Colocar os ingredientes no liquidificador e depois coar num pano de prato. O processo pode ser repetido, com mais água, obtendo-se leites cada vez mais líquidos. Este leite pode ser tomado simples, usado para cozinhar ou em vitaminas.
Manteiga de coco
2 xícaras de coco ralado fresco
Triturar no processador por 20 minutos até ter uma consistência homogênea. Pode ser usado simples no pão, por cima de frutas, ou em receitas de bolos, pães, pudins, mousses, sorvetes e trufas, pela sua consistência cremosa.
Para cozinhar com farinha de coco
Substituir cada xícara de farinha de trigo por 1/3 ou ¼ de farinha de coco. Para cada xícara de farinha de coco usar 6 ovos e 1 xicara de líquido.
Hidratante de óleo de coco
Bater 1 xicara de óleo de coco na batedeira até ficar fofa, pode se acrescentar óleos essenciais de escolha própria como lavanda ou menta.
Dentífrico natural
½ xicara de óleo de coco
2-3 colheres de sopa de bicarbonato de sódio
2 pacotes pequenos de stévia em pó
15-20 gotas de óleo essencial de menta ou canela
Fontes:
http://thecoconutmama.com/ 

Texto: Olga Rodrigues
Foto: Taeko